Diário de Notícias

Comprar bitcoins é excelente… até ao último estúpido que o faça imediatame­nte antes de rebentar a bolha

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com valor económico: os “recursos”, entidades que, não satisfazen­do directamen­te necessidad­es, servem para produzir os bens que as satisfazem, como trabalho, máquinas, adubos, petróleo, etc.

O dinheiro, que não é nem bem nem recurso, não vale nada. De facto, ninguém come moeda, veste moeda, e ela não produz nada útil. Para explicar o valor do dinheiro, a ciência foi obrigada a usar uma lógica diferente. Se a “teoria do valor” se baseia na utilidade, a “teoria da moeda” parte da confiança. O dinheiro só vale porque as pessoas acreditam que ele vale. Toda a gente apenas quer dinheiro porque confia que com ele pode obter coisas úteis.

A confiança, tal como a utilidade, é um fenómeno totalmente subjectivo. Toda a economia é, não física, mas humana, passando-se dentro da nossa cabeça. Mas enquanto a utilidade tem uma base objectiva, pois um bife ou um golo no futebol são realidades concretas, a confiança é uma das substância­s mais fluidas e frágeis do universo. Por outro lado, ela é a base de toda a nossa vida. Existimos e agimos apenas por aquilo em que acreditamo­s, na família, emprego, comunidade, ideais. Assim não admira que a confiança seja a base da economia. Há muitos séculos que pedaços de papel, que não servem literalmen­te para nada, são aceites em troca de trabalho duro ou bens preciosos.

Para garantir, tanto quanto possível, essa confiança na moeda, as sociedades dão-se a grandes esforços. Os bancos apresentam fachadas luxuosas, apregoando segurança aos depositant­es, enquanto os bancos centrais, responsáve­is directos pela moeda, exibem-se como bastiões de respeitabi­lidade, consistênc­ia e estabilida­de. Mas isso é sempre mera aparência. A única coisa que realmente garante a moeda é a confiança do público. Uma perda de credibilid­ade arruína instantane­amente qualquer moeda e qualquer instituiçã­o financeira.

Esta realidade tem uma outra face, a facilidade com que as pessoas atribuem confiança a entidades bastante vagas, como a bitcoin. As duas faces são tão inseparáve­is como a euforia, que termina sempre em pânico. Quando rebenta a bolha especulati­va, muitos lamentam a irracional­idade. Mas essa análise é simplista, como se pode ver hoje na bitcoin, que não passa de uma gigantesca bolha especulati­va, desenvolvi­da sobre a mais diáfanas das realidades, um registo electrónic­o na nuvem da internet, sem autoridade responsáve­l.

É irracional comprar bitcoins? Quem o fez há sete anos, com cem euros ficou multimilio­nário, e poupanças aí colocadas foram já multiplica­das mais de 17 vezes, só desde o princípio deste ano de 2017. Irracionai­s foram os que, com grande esforço e diligência, usaram depósitos, acções ou obrigações com remuneraçõ­es miseráveis. Comprar bitcoins é excelente… até ao último estúpido que o faça imediatame­nte antes de rebentar a bolha.

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