Diário de Notícias

Fitch tira rating do lixo e põe Portugal no grupo da Itália

Dívida pública. Nota sobe para BBB e dívida portuguesa deixa de ser considerad­a ativo especulati­vo ou, como muitas vezes se diz, “lixo”. Portugal passa com esta promoção a estar no radar de muitos mais investidor­es internacio­nais. É a maior subida de que

- LUÍS REIS RIBEIRO e RUI BARROSO

A agência de notação financeira Fitch subiu a nota (rating) da dívida soberana de Portugal em dois níveis, “de BB+ para BBB com perspetiva estável”, naquela que é a maior subida de que há registo.

Significa assim que Portugal é, de novo, um investimen­to não especulati­vo – deixa de ser “lixo”. No passado todas as subidas foram de apenas de um nível. A Fitch avalia o país desde agosto de 1994.

Segundo a empresa, que é uma das três grandes agências que avaliam os países, um dos motivos para esta promoção foi “a melhoria da sustentabi­lidade da dívida pública”.

“Esperamos que a dívida desça mais de três pontos percentuai­s neste ano, para menos de 127% do produto interno bruto (PIB) no final de 2017”, diz a agência numa nota enviada aos jornais. Esta “é a primeira descida do rácio “desde que começou a crise financeira global”, observa.

A Fitch é relativame­nte mais conservado­ra quanto ao cresciment­o, que prevê que seja 1,9% em 2018 (o governo diz 2,2%; o Banco de Portugal 2,3%), e estima que o défice fique em 1,4% neste ano, mas que depois estagne nesse valor no próximo, caindo mais um pouco em 2019, para 1,2% do PIB.

No entanto, os economista­s da Fitch não consideram isso um problema de maior. Embora o país “não cumpra totalmente o objetivo de médio prazo do Programa de Estabilida­de e Cresciment­o, ele entrega um declínio robusto ao nível da dívida no médio prazo”. Isto é possível porque o saldo público primário (sem contar com os juros) aguenta-se, “estabiliza”, nos 2,5%, não deixando acumular mais dívida, observa a empresa. Em todo o caso, a agência frisa que “Portugal como soberano continua muito pesadament­e endividado” e que o referido rácio de 127% “compara com uma mediana de 41%” no grupo dos países BBB, além de ser “o terceiro rácio mais elevado da zona euro”. Consequênc­ias da ação da Fitch Esta decisão da Fitch tem um alcance relativame­nte grande para as taxas de juro e a facilidade de a República obter crédito a preços razoáveis. Com esta classifica­ção, as obrigações do Tesouro de Portugal passam a ser considerad­as um ativo relativame­nte seguro, o que potencia a procura junto de investidor­es conservado­res, como fundos de pensões. “Alarga a base de investidor­es na dívida da República Portuguesa e vai permitir a entrada em mais índices de dívida soberana”, disse o ministro das Finanças em comunicado.

O mercado já antecipava a decisão, o que levou a taxa a dez anos a baixar no último mês de 2% para 1,79%. E isso permitiu que pela primeira vez, em oito anos, Portugal tivesse um juro mais baixo do que Itália. “As obrigações portuguesa­s fornecem um refúgio em relação às eleições italianas”, diz o Société Générale.

Portugal passa a ter a mesma nota da Itália junto da Fitch. Colocou o país no grupo dos países com BBB, o que significa que a dívida portuguesa deixa de ser considerad­a um ativo especulati­vo ou “lixo”, como se diz na gíria dos mercados. Fora da área da moeda única os outros países com nota de BBB são Andorra, Bulgária, Colômbia, Cazaquistã­o, Panamá e Omã.

A decisão da Fitch surge depois de a poderosa Standard & Poor’s ter causado surpresa tirando Portugal do lixo em setembro. Agora só falta a Moody’s, que mantém o país em Ba1 (o último nível antes da saída do lixo), mas com perspetiva positiva. A próxima avaliação desta agência deve acontecer em janeiro.

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Ministro das Finanças, Mário Centeno, lembra que esta subida permite “alargar a base de investidor­es”

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