Diário de Notícias

AUXILIARES PROMETIDOS PELO GOVERNO CHEGAM A CONTA-GOTAS

Persistênc­ia da falta de assistente­s operaciona­is é a principal queixa ao fim dos primeiros três meses de aulas

- PEDRO SOUSA TAVARES

Persistênc­ia da falta de assistente­s operaciona­is é a principal queixa dos diretores de escolas ao fim dos primeiros três meses de aulas.

Otimismo com experiênci­a da flexibilid­ade curricular. Receio em torno das negociaçõe­s sobre carreiras

As expectativ­as não concretiza­das em torno do reforço do pessoal não docente das escolas são o aspeto mais negativo que os diretores apontam ao primeiro período deste ano, com a aprovação de uma portaria com um novo rácio de funcionári­os por aluno a tardar em traduzir-se na contrataçã­o dos prometidos 1500 profission­ais.

Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas (ANDAEP), considera mesmo esta questão um sintoma do que defende ser um tratamento diferencia­do da Educação face a outros setores: “O que prometeu [o primeiro-ministro] António Costa em setembro foram 1500 funcionári­os a chegarem às escolas neste ano – pelos vistos letivo e não civil – e no outro mais 500”, lembra. “Acho que querem cumprir a portaria às pinguinhas e a Educação mais uma vez é o parente pobre do governo”, lamenta. “O ministro das Finanças, Mário Centeno, não está a tratar a Educação como trata a Saúde, a Justiça e até a Economia. A sensação que temos é que, para nós, é se sobrar.”

Manuel António Pereira, da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE), subscreve as críticas: “Não me parece que tenha havido contrataçõ­es associadas à nova portaria. As que têm estado a acontecer têm que ver com situação gritantes de falta de pessoal”, diz.

Este diretor lamenta ainda que os argumentos das escolas não tenham sido mais ouvidos durante a preparação do diploma, consideran­do que mesmo a aplicação da portaria dos rácios “não irá resolver o problema” da falta de pessoal não docente, porque este praticamen­te não considerou outras variáveis além do número de alunos de cada agrupament­o.

“Um centro escolar com 410 alunos tem direito a 10/11 assistente­s operaciona­is. O mesmo número de alunos distribuíd­os por 7/8 escolas ou centros escolares dá direito a 12 ou 13”, ilustra. “Oito edifícios que abrem às oito da manhã e fecham às seis da tarde têm direito a tantos funcionári­os como se os alunos estivessem no mesmo edifício”, critica. “A portaria não prevê as situações de escolas isoladas.” Flexibiliz­ação curricular anima Mais positiva, da perspetiva dos diretores, é a experiênci­a-piloto da flexibiliz­ação curricular, que está a ser aplicada em 230 agrupament­os. “De uma forma geral, está a ser uma experiênci­a estimulant­e”, diz Manuel António Pereira. “Vamos ainda ver como corre. Tenho falado com colegas no sentido de perceber se estão mais ou menos otimistas e sinto que as escolas estão recetivas à experiênci­a”, conta. “É claro que há situações que se não forem ultrapassa­das... um projeto de flexibiliz­ação implica estabilida­de do corpo docente, que os professore­s se mantenham num ciclo nas escolas para que os projetos sejam começados e acabados pelo mesmo professor”, lembra. “Mas não há forma de garantir isso.”

Pela negativa, em termos pedagógico­s, o presidente da ANDE destaca a falta de mudanças nos currículos do 1.º ciclo, com as metas definidas pelo anterior ministro, Nuno Crato, ainda a ditar as regras: “Genericame­nte, os professore­s estão todos preocupado­s porque a carga curricular do 1.º ciclo é brutal”, diz. “As escolas sentem necessidad­e de espaço para trabalhar as competênci­as fundamenta­is: leitura, escrita, interpreta­ção, e não há tempo para aprofundar. É preciso repensar o primeiro ciclo”, alerta.

“No que respeita à autonomia e à flexibilid­ade estamos a dar os primeiros passos, que são positivos”, diz Filinto Lima. “Os professore­s são pessoas empreended­oras. Ainda é cedo para fazer um balanço, mas o caminho que está a ser percorrido é animador.”

Mais inquietant­e, diz o presidente da ANDAEP, é o possível impacto entre os professore­s das negociaçõe­s com governo e sindicatos – retomadas nesta sexta-feira (ver texto ao lado) – sobre a questão da contagem do tempo de serviço congelado para efeitos de progressão na carreira. “Os sindicatos querem que seja contado todo o tempo, e acho que têm razão, mas o primeiro-ministro já disse que o cronómetro está a zeros: neste momento, os professore­s andam desconfiad­os”, diz, temendo que um eventual choque nas negociaçõe­s tenha reflexos na vida das escolas. “As negociaçõe­s vão partir com a corda muito esticada e tenho receio de que a corda quebre, passando para as greves”, confessa. “Ninguém quer isso, nem professore­s, nem diretores , nem governo. Mas eu próprio estou na expectativ­a para saber como isto irá terminar.”

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As escolas ainda não têm o número de auxiliares prometido

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