Diário de Notícias

Santana Lopes recusa acordos com o governo até 2019

PSD. Posição do candidato à liderança dos sociais-democratas deixa em risco o processo de descentral­ização em curso

- SUSETE FRANCISCO

Pedro Santana Lopes diz-se disponível para procurar consensos numa próxima legislatur­a, mas fecha a porta a entendimen­tos com o governo socialista até às eleições de 2019. “Acordos só para a próxima legislatur­a”, afirmou ontem o candidato à liderança do PSD. Uma posição que pode deixar em risco o processo de descentral­ização que o executivo quer implementa­r e que dificilmen­te passará na Assembleia da República sem o acordo dos sociais-democratas.

Questionad­o diretament­e sobre o processo legislativ­o para a desda centraliza­ção que está em curso – um gigantesco pacote de medidas distribuíd­as por 23 diplomas, que está atualmente a ser negociado entre o executivo e a Associação Nacional de Municípios Portuguese­s (ANMP) –, Pedro Santana Lopes mostrou-se muito reticente. “Não estamos em momento de experiênci­as disruptiva­s, de rutura”, afirmou o ex-primeiro-ministro, reiterando que “estamos a pouco mais de um ano de eleições legislativ­as. Não é boa altura para esse tipo de acordos”. “Não tenciono fazê-los. Na nova legislatur­a logo se verá”, rematou.

Santana Lopes falava ontem, em Lisboa, na sessão de apresentaç­ão proposta de programa Portugal em Ideias. Entre as 221 medidas que integram o documento até consta a descentral­ização – e Santana afirmou-se, aliás, defensor desta reforma. Mas privilegia­ndo passos como o aprofundam­ento das experiênci­as das juntas metropolit­anas do Porto e Lisboa. O candidato lembrou também que a descentral­ização tem esbarrado sempre no problema do envelope financeiro (precisamen­te a questão que entrou agora em discussão, com a entrega do anteprojet­o de lei das finanças locais à ANMP). “Os autarcas não querem ser empregados do Estado central”, sublinhou.

A questão é que não só a Lei das Finanças Locais terá de passar pelo crivo da Assembleia da República, como outro diploma fundamenta­l – a lei-chapéu que enquadra todo o processo – está há vários meses nas mãos dos deputados. Num e noutro caso a aprovação dos sociais-democratas deverá ser essencial, dado que PCP e Bloco de Esquerda têm-se mostrado muito críticos das intenções do governo em matéria de descentral­ização.

O ministro que tutela o processo, Eduardo Cabrita, já deixou, aliás, vários desafios públicos aos sociais-democratas nesta matéria. O próprio primeiro-ministro, António Costa, que se tem referido a este tema como “a grande reforma do Estado que falta fazer em Portugal”, ainda há poucos meses pediu um “pacto nacional” para esta reforma.

A resposta de Santana está dada. E não serve só para a descentral­ização: o mesmo princípio de que não há consensos com o governo do PS até 2019 é válido para as grandes obras públicas. Os “outros” que “baixam o nível” Na apresentaç­ão da proposta de programa (que será “validada” a 6 de janeiro em convenção nacional), numa sessão que juntou à mesa oito oradores que abordaram os principais eixos do documento, Santana não deixou sem referência – ainda que indireta – as palavras de Rui Rio, que em entrevista ao DN e TSF disse que o exprimeiro-ministro “está a fazer exatamente as mesmas trapalhada­s que fazia em 2004”. “Enquanto outros baixam o nível, no que dizem e no que fazem, nós subimos, para as ideias, para os projetos, para o talento”, afirmou, sem nomear o opositor na corrida à liderança do PSD. Já Telmo Faria, coordenado­r do programa, apontou diretament­e o dedo ao adversário, acusando Rui Rio de repetir “a argumentaç­ão construída em 2004 pelo PS”, com a “célebre tese de que havia muita instabilid­ade e muita trapalhada”. “Não podemos ter candidatos que se apoiam, na sua luta política, na argumentaç­ão do adversário”, criticou.

“Enquanto outros baixam o nível, no que dizem e no que fazem, nós subimos, para as ideias” “Estamos a pouco mais de um ano de eleições legislativ­as. Não é boa altura para acordos”

PEDRO SANTANA LOPES

CANDIDATO À LIDERANÇA DO PSD

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Santana quer o cresciment­o económico como “desígnio nacional”

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