Diário de Notícias

Will Smith protagoniz­a a fava de Natal da Netflix

Cinema. Bright, um policial que mistura humanos e orcs, chega hoje à plataforma digital e é uma das grandes desilusões do ano

- RUI PE DRO T E NDI NHA

Orcs, fadas e elfos. Estas são as estrelas do primeiro blockbuste­r da história da Netflix, a partir de hoje disponível em streaming. Bright, que alegadamen­te custou 100 milhões de dólares, marca o regresso de Will Smith à câmara de David Ayer, realizador que o dirigiu em Suicide Quad. Em vez de vestir o fato de um super- herói, agora é um polícia de Los Angeles numa realidade paralela em que a sociedade coexiste com magia ancestral e poderes míticos.

O argumento de Max Landis ( mais conhecido por ter escrito Victor Frankenste­in, de Paul McGuigan), transporta- nos para o dia- a- dia de uma dupla de agentes de Los Angeles, Jakoby ( um orc que sempre sonhou ser “chui”) e Ward, ambos dispostos a proteger uma jovem elfo que pode ter em seu poder uma varinha mágica capaz de convocar o pior dos males supremos. Atrás da varinha poderosa estão os inferni, uma raça maligna de elfos comandada por uma elfa loura sedenta de ódio; a mafia dos orcs, gangues hispânicos, polícias corruptos e o FBI da magia. Na teoria parece uma sinopse de uma produção série B, na prática é bem pior. São duas horas de muito tiroteio arrastado e filmado sem ima- ginação e diálogos que se julgam divertidos apenas pelo facto de as personagen­s estarem sempre muito irritadas a gritar palavrões.

Tal como Suicide Squad, Bright é de uma monotonia confranged­ora. Ayer, que antes fazia policiais interessan­tes, julgou que o efeito de estranheza de colocar figuras mitológica­s como orcs ao lado dos humanos poderia ser desconcert­ante e original, mas esqueceu- se de que Os Novos Invasores, de Graham Baker, de 1988, era quase o mesmo, feito, por sinal, com um sentido de perigo muito mais eficaz. Para agravar as coisas, a sua linha bélica estridente e abrutalhad­a impede qualquer tipo de leitura social com paralelism­os sobre situações sociais reais. Torna- se muito óbvio o efeito de espelho entre o orc oprimido e a maneira como as forças de segurança americanas lidam com as minorias.

A par do resto, este é também o filme que confirma uma certa decadência na carreira de Will Smith, que antes já tinha tido o “embaraço” Suicide Squad e o linchament­o consensual em Beleza Colateral, de David Frankel, uma choramingu­eira pegada em que o ator tentava “sofrer” a todo o custo. Aqui há um Will Smith pesadão, sem sentido de gozo e que passa o filme de dedo no gatilho. Deve estar na altura de rever prioridade­s na carreira. Protegido por muita maquilhage­m, a dar- lhe réplica, temos Joel Edgerton como o “chui” orc bonzinho. O ator faz o que pode para uma personagem unidimensi­onal. Nos secundário­s, passam sem deixarem muito efeito Noomi Rapace ( uma vilã que tem alguma carga erótica mas que depois cai nos clichés mais infantiloi­des do costume), Edgar Ramirez ( esperava- se mais da sua personagem...) e Jay Hernandez ( para cumprir a quota hispânica...).

Num ano em que a Netflix apostou muito nos seus filmes originais, não deixa de ser grave um projeto tão falhado como Bright. Este serviço de entretenim­ento parece ter- se mandado para fora de pé com uma proposta de cinema com efeitos visuais e proposta temática que pede grande ecrã, sobretudo num ano em que conseguira­m chegar à competição de Cannes com The Meyerowitz Stories ( New and Selected), de Noah Baumbach e Okja, de Bong Joon- ho, já para não esquecer que podem estar à porta dos Óscares com Mudbound, de Des Rees, o drama racial com Mary J. Blige e Jason Clarke. Parece haver uma falta de coerência na estratégia de Ted Sarandos e Reed Hastings. E continua a ser criminoso não podermos ver em grande ecrã o muito recomendáv­el Primeiro, Mataram o Meu Pai, de Angelina Jolie, nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeir­o. Estratégia­s...

 ??  ?? Will Smith é um polícia de Los Angeles numa realidade paralela em que a sociedade coexiste com magia
Will Smith é um polícia de Los Angeles numa realidade paralela em que a sociedade coexiste com magia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal