Diário de Notícias

Uma carta ao Pai Natal que só terá resposta no verão

PEDIDOS Em casa de Sameer e Suzan, os quatro filhos também escrevem ao Pai Natal, como todos os meninos da escola de Penela

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Todos os refugiados que moram em Penela são muçulmanos, e por isso nada lhes diz em significad­o aquele gigante presépio montado na vila, um dos cartões-de-visita da região centro, por esta altura. É no verão que as famílias celebram o nascimento do seu profeta, e é nessa altura (em junho) que acontece a festa mais parecida com o Natal. “Trocamos presentes, fazemos doces, mais ou menos como vocês fazem aqui nesta quadra”, conta Sameer, que ainda assim não deixa de participar com a mulher e os filhos em todas as festas alusivas, seja na creche de Rita, a mais nova, ou no Agrupament­o de Escolas Infante D. Pedro, onde estudam os mais velhos, de 6 e 8 anos. Omar trouxe para casa um teste de língua portuguesa com 81%, este período. Quando as palavras falham à mãe ou ao pai, é ele quem se apressa a dizer do que se trata. “Como na escola todos os meninos escrevem ao Pai Natal, eles também escreveram”, conta o pai. Pediram “uma PS4 e um Samsung…”, sorri Sameer, que tem o hábito de recompensa­r as boas ações e práticas dos quatro filhos. “A professora deles também é assim, como nós. Recompensa-os sempre com chocolates e bombons”, o que acontece muitas vezes.

Omar é o mais velho dos quatro irmãos, um menino dócil que nasceu na Síria e atravessou a guerra. O pai conta que em Portugal a família vive “com muito mais calma do que no Egito”, onde estiveram asilados por alguns anos. Os dois filhos mais novos acabaram por nascer lá. No apartament­o da Urbanizaçã­o da Camela há sempre brincadeir­as, risos e travessura­s entre quatro crianças de idades muito próximas. Sameer Mahmoud, 39 anos, e Suzan Alkhaled, 34, elogiam a simpatia, o acolhiment­o e o clima português, só lamentam que haja “pouco trabalho”. Queriam ter mais filhos, mas por ora são prudentes nesse projeto de vida. Em tempo de Natal, de presentes e sonhos, fica a resposta de Omar, quando lhe perguntamo­s o que quer ser quando for grande. “Não sei… posso morrer”, afirma com uma naturalida­de desconcert­ante, mas própria de quem lidou de perto com a morte, e sabe que a vida não é um dado adquirido. Até ao verão, o pai espera já estar a trabalhar na queijaria e poder dar-lhe “a PS4, porque ele merece”.

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