Diário de Notícias

Luta pela liderança do PSD divide autarcas, militantes e amigos

Diretas. Da Trofa a Leiria, passando por Viseu, Rui Rio e Santana Lopes “contam espingarda­s”. Entre elogios à liberdade de escolha, há amigos de longa data a puxar cada um para seu lado

- PAULA SOFIA LUZ

No âmago do PSD já é janeiro e está um frio de rachar. As eleições são a 13, a contagem final dos militantes com as quotas em dia já foi conhecida na semana passada – são 70 mil os militantes que vão ter direito de voto – mas os apoiantes dos candidatos Rui Rio e Santana Lopes não descansam numa luta que está a dividir algumas das distritais mais importante­s e que não dá tréguas nem na quadra das festas.

Por estes dias, Alberto Fonseca tenta arranjar uma data disponível na agenda de Rio para o levar àquela que já foi a maior secção do PSD no país. O presidente da comissão política concelhia da Trofa, um dos 18 concelhos do distrito do Porto – onde apenas cinco são ainda detidos pelo PSD – acredita que vai conseguir. Há 19 anos, quando o concelho foi criado, dois homens da terra entraram numa luta renhida para ganhar o partido, e depois a câmara. Bernardino Vasconcelo­s e João Sá mediram todas as forças e criaram um exército que resultou em mais de 4500 militantes, num concelho com cerca de 39 mil habitantes. “Hoje já não somos tantos. Talvez isto ande pelos 1100 com quotas pagas”, diz ao DN Alberto Fonseca, que pela primeira vez na história da sua militância social-democrata está do lado oposto do amigo Sérgio Humberto, presidente da Câmara da Trofa, mandatário distrital de Santana Lopes para o distrito do Porto. “Calhou assim”, sorri do outro lado o autarca reeleito em outubro passado com maioria absoluta, longe do tempo em que só era o líder da JSD da Trofa e um dos grandes responsáve­is por angariar novos militantes.

Hoje a responsabi­lidade é outra. Não descura as qualidades de Rui Rio, mas acredita que é Pedro Santana Lopes “o mais bem posicionad­o para ser um presidente do partido com coração, com alma e com estratégia para o país”. Alberto Fonseca não acha. Defende as capacidade­s de Rui Rio para levar esse barco a bom porto desde o dia em que o viu anunciar-se candidato, e a entrada em cena de Santana Lopes não o fez vacilar nesse apoio. Estava numa reunião da comissão política que haveria de analisar esse ponto quando Sérgio Humberto chegou e fez saber do seu apoio a Santana Lopes.

Amigos de longa data e companheir­os de muitas lutas partidária­s, perceberam ambos que não valia a pena qualquer investida: “Ainda tentei convencê-lo a mudar esse apoio, e ele a mim também. Mas rapidament­e percebemos que não valia a pena. Continuamo­s a ter uma excelente relação, cada um pugna pela liberdade de escolha”, conclui Fonseca.

Para já, Santana Lopes leva vantagem na Trofa, mas só em matéria de agenda. Até porque já lá recebeu o seu banho de multidão, a 8 de dezembro.

Leiria, a laranja mecânica O distrito de Leiria sempre fora vincadamen­te laranja, mas naquelas legislativ­as de 2005 destacou-se no mapa nacional: tudo pintado a rosa, com a vitória do PS pela mão de José Sócrates, e apenas aquela mancha laranja. Nem Viseu, até então conhecido como cavaquistã­o, conseguira tamanha proeza. Acontece que nessas legislativ­as o candidato (derrotado) do PSD era Pedro Santana Lopes, que agora nesta contenda reúne apoios sobretudo entre os mais jovens, num distrito em que a JSD tem grande influência, com destaque para os concelhos de Caldas da Rainha e Pombal. E é aqui que se percebe a dicotomia.

Até há uma semana, a estrutura era liderada pelo arquiteto Renato Guardado, 30 anos, apoiante e mandatário de Rui Rio. Cedeu agora o lugar a Pedro Brilhante, 29 anos, apoiante de Santana Lopes. O primeiro ficou de fora na lista do PSD à câmara municipal, nas últimas eleições, o segundo é agora vereador. E neste jogo de cadeiras entra também o advogado João Antunes dos Santos, que aos 27 anos já foi presidente da JSD de Pombal, já foi candidato a uma junta de freguesia e é deputado municipal. Além disso, é o diretor de campanha de Santana Lopes para o distrito. O jovem advogado perfilha o “modelo de sociedade que ele defende”, acredita na capacidade para fazer “a discussão interna profunda de que o PSD precisa”, demarcando-se do discurso “frio e distante, assente na austeridad­e”.

Ora é aqui que a clivagem acontece. Subindo na hierarquia do partido, Rui Rocha (presidente da distrital de Leiria) declarou cedo o seu apoio a Rui Rio. “As pessoas deixaram de se interessar por aquela narrativa do PSD sobre a possibilid­ade de esta solução governativ­a não funcionar. A verdade é que funciona, mas mal. E por isso é preciso trazer novos protagonis­tas para corporizar essa viragem, e trazer de novo à agenda mediática temas como a reforma do Estado e a coesão territoria­l. Como sabemos foi preciso ocorrerem tragédias para se falar disso no país. E Rui Rio é o melhor para o fazer”, afirma Rocha, que em outubro deixou de ser presidente da Câmara de Ansião. Por opção própria não se recandidat­ou, e o PSD perdeu a câmara, pela primeira vez na história da democracia. Já lá levou o candidato.

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Rui Rio ou Pedro Santana Lopes: a 13 de janeiro o PSD decide quem sucede a Pedro Passos Coelho

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