Diário de Notícias

Natal de protesto no Peru após libertação de Fujimori

Familiares de vítimas e oposição falam de pacto entre família Fujimori e atual presidente, que sobreviveu, há dias, a destituiçã­o

- PATRÍCIA VIEGAS

Aberto Fujimori tem 79 anos. Estava preso desde 2007. Foi condenado, em 2009, a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade

A noite de Natal no Peru foi diferente do que é habitual. Centenas de pessoas saíram às ruas de Lima, a capital do país andino, para protestar contra o indulto concedido a Alberto Fujimori pelo atual chefe do Estado peruano. Pedro Pablo Kuczynski decidiu libertar o ex-ditador por razões humanitári­as, três dias depois de ter sobrevivid­o a uma tentativa de destituiçã­o. Os manifestan­tes que saíram à rua na praça central de San Martín considerar­am o indulto um ato de impunidade e denunciara­m um pacto político com a família Fujimori para que o atual presidente possa continuar no poder.

Kuczynski não caiu graças à abstenção, in extremis, de um dos filhos de Fujimori, Kenji, mais nove eleitos do Força Popular, partido que é liderado pela irmã deste, Keiko Fujimori. E o qual promovera o pedido de destituiçã­o. Ex-funcionári­o do Banco Mundial e do FMI, Kuczynski enfrentou a destituiçã­o por ter ocultado pagamentos da brasileira Odebrecht a empresas ligadas a si entre 2004 e 2013.

“Aconteceu o que já se previa. Um triste espetáculo. Um infame pacto político por baixo da mesa. Não se discute o fim, mas o meio vergonhoso de o fazer como uma troca comercial de não destituiçã­o por um indulto”, escreveu no Twitter o parlamenta­r Andrés García Belaunde, do partido Ação Popular, sobre o perdão a Fujimori. Presidente do Peru entre 1990 e 2000, o político de origem japonesa, hoje em dia com 79 anos, foi condenado a 25 anos de prisão após ser responsabi­lizado pela morte de 25 pessoas em 1991 e 1992 – que foram perpetrada­s pelo grupo paramilita­r encoberto Colina. E ainda pelo sequestro de um jornalista e de um empresário em 1992. Esquadrão anticomuni­sta, o grupo Colina foi responsáve­l por vários massacres, como o de Barrios Altos, onde foram assassinad­as 15 pessoas que tinham sido tomadas por apoiantes do Sendero Luminoso (grupo de inspiração maoista).

“Senhor presidente [Kuczynski], você acaba de nos roubar a nossa tranquilid­ade e o nosso direito à justiça ao oferecer um indulto que não é merecido a Fujimori. Há 25 anos que não temos Natal e há ausências que são dolorosas”, escreveu no Twitter Gisela Ortiz, irmã de um dos estudantes que desaparece­ram da universida­de de La Cantuta em 1991 – um dos casos que levaram Fujimori à cadeia. “[Kuczynski] acaba de perpetrar uma traição vil contra a pátria”, afirmou a líder do partido Novo Peru, Verónica Mendoza.

Declaraçõe­s diferentes vieram da parte de Kenji Fujimori, que já tinha pedido várias vezes um indulto para o pai depois de uma junta médica ter estabeleci­do que o ex-ditador sofria de “doença progressiv­a, degenerati­va e incurável”. No Twitter e no Facebook, o filho de Fujimori agradeceu ao presidente Pedro Pablo Kuczynski pelo “seu gesto nobre e magnânimo. Estamos eternament­e agradecido­s. Que Deus o abençoe”. Kenji Fujimori informou que o pai, que estava preso há dez anos, “continuará na unidade de cuidados intensivos até a sua total recuperaçã­o”. Num vídeo, já com ele, diz: “Dentro de dias desfrutará da liberdade que merece e envia-vos os melhores desejos de um feliz Natal.”

 ??  ?? Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru, durante uma comparênci­a em tribunal em Lima, em 2015
Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru, durante uma comparênci­a em tribunal em Lima, em 2015

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal