“Sem Excel”, Rio abre porta a consensos para reformas urgentes
Candidato à liderança do partido apresenta hoje moção de estratégia em Leiria. E defenderá um novo modelo de social-democracia
“Do PSD para o País”, o título da moção de estratégia de Rui Rio na candidatura à liderança do PSD, abre a porta a consensos com as outras forças políticas, incluindo o PS, “para as reformas indispensáveis e urgentes” para a sociedade portuguesa. Quem o diz ao DN é David Justino, coordenador do documento, que hoje será apresentado.
Rui Rio dará o sinal de que, se for eleito presidente do partido no dia 13 de janeiro, está disponível para se sentar à mesa e discutir todas as propostas que se revelem “avanços” para o país. “Muito diferente de pactos de regime, que são formais e se prolongam no tempo, esses também rejeitamos”, sublinha David Justino. Na moção não serão, contudo, apontadas as reformas que o candidato elege como urgentes e passíveis de entendimentos alargados.
Mas só a abertura a “consensos” para reformas urgentes já diverge da posição assumida pelo adversário Pedro Santana Lopes, que aquando da apresentação da sua proposta de programa de candidatura “Um Portugal com Ideias”, no dia 17 de dezembro, excluiu quaisquer entendimentos nesta legislatura e só os admitiu como possíveis após 2019. Mesmo o processo legislativo que está em curso para a descentralização fica fora do radar de Santana se for ele o eleito líder do PSD.
David Justino frisa que Rio vai apresentar “uma moção de estratégia e não um programa de governo”. A natureza do documento tem mais que ver com a “visão do que deve ser o PSD na reconstrução do que é a social-democracia no pós-segunda metade do século XX, mais do que inventariar medidas”.
Sem rejeitar o programa do PSD, a moção visa introduzir alterações em relação à doutrina e à ideologia, no sentido de matriz cultural. “Trata-se de reposicionar o PSD face a tendências mais estatistas ou menos estatistas”, afirma o coordenador da moção.
Rio vai então defender o projeto social-democrata que vê o desenvolvimento aliado da liberdade, do bem-estar e da sustentabi- lidade. “Não queremos a liberdade para manter as desigualdades ou bolsas de pobreza, temos uma visão humanista do que deve ser o desenvolvimento, na procura de uma sociedade melhor”, afirma David Justino.
A globalização, diz, também veio alterar o projeto social-democrata, que tem de se “adaptar” à nova interdependência das economias à escala mundial e, em particular, à dimensão europeia. “Temos é de pensar que projeto queremos para tirar o máximo partido das oportunidades que a globalização gerou.”
A moção de estratégia de Rio aponta também para um desenvolvimento económico orientado para a coesão social. “Não se mede pelo PIB, pelas variações quantitativas, mas pelo bem-estar que proporcionará à população.
Um dos pontos centrais desta estratégia é apostar na “valorização do conhecimento”, afirma o antigo ministro da Educação, através da educação, da formação e da investigação. “Sem inovação não há crescimento económico”, defende e acrescenta que só assim esse desenvolvimento será compatível com a “sustentabilidade”.
O documento aponta ainda para a reforma da Justiça e para a valorização das funções de soberania do Estado”: coesão territorial, proteção e segurança das pessoas. “O desafio não é ter mais ou menos Estado, é ter um Estado mais forte e eficaz”, afirma David Justino. Ao nível do Serviço Nacional de Saúde há uma defesa clara num investimento mais robusto na prevenção das doenças.
“São estas as grandes linhas do documento. Apontamos para onde queremos ir, de onde partimos e quais os recursos disponíveis, para sabermos que modelo vamos adotar”, diz o coordenador da moção de estratégia.
E a contrariar as críticas que foram feitas a Rui Rio de ser muito tecnocrata e enquadrar todas as propostas em dados quantitativos numa folha de Excel, David Justino ironiza: “Na moção não vão encontrar nenhuma folha de cálculo Excel nem grandes indicadores económicos, mas antes uma visão do futuro que queremos para o país.”
Hoje em Leiria, Rui Rio dará a conhecer a sua visão para o futuro do PSD, centrado no partido tal como já tinha anunciado na apresentação da sua candidatura à liderança. A acompanhá-lo na apresentação da moção vai estar o coordenador, David Justino, o diretor de campanha, Salvador Malheiro, o ex-secretário de Estado Fernando Alexandre, o investigador Tiago Moreira de Sá e o presidente da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares, que farão as outras intervenções .
“[O documento] é a visão do que deve ser o PSD na reconstrução do que é a social-democracia no pós-segunda metade do século XX, mais do que inventariar medidas” “Não queremos a liberdade para manter as desigualdades ou bolsas de pobreza, temos uma visão humanista do que deve ser o desenvolvimento, na procura de uma sociedade melhor” “O desafio não é ter mais ou menos Estado, é ter um Estado mais forte e eficaz”
DAVID JUSTINO
COORDENADOR DA MOÇÃO DE RUI RIO