O SUCESSO DA STREET FOOD DA CHEF JAY FAI ANTES E DEPOIS DA ESTRELA MICHELIN
Um restaurante com estrelas Michelin é na grande maioria das vezes associado ao luxo. Pois bem, esse conceito poderá estar a mudar e neste mês o respeitado guia francês deu uma estrela a uma chef tailandesa de 72 anos que faz comida nas ruas de Banguecoque, capital da Tailândia. O negócio da street food tem aumentado pelo mundo e em Portugal a tendência será para continuar a crescer.
Uma estrela para um restaurante de comida de rua não é algo inédito (em Singapura uma banca de um mercado ganhou no ano passado, ver caixa), mas é, sem sombra de dúvidas, uma pequena mudança de mentalidades. Em Portugal, por exemplo, existem 18 restaurantes com uma estrela e cinco com duas, mas é também uma realidade que a chamada street food é um negócio que tem vindo a aumentar. Por exemplo, o chef Hélio Loureiro, várias vezes distinguido no mundo da cozinha e também pelo Estado Português, que o agraciou com o grau de oficial da Ordem de Mérito, acredita que este fenómeno veio para ficar.
“Nunca vai ser ao nível dos países do Oriente, por uma questão cultural, mas penso que vai crescer. Nos países do Oriente é também uma questão arquitetónica, que tem que ver com as casas. Em vários locais, como Hong Kong, as casas não têm cozinhas, as pessoas ou comem nas ruas ou compram fora e trazem para casa. Nós, felizmente, no Ocidente, temos o hábito de comer na companhia de alguém, que também significa cozinhar, estar, um ato de partilha. Nunca teremos uma dimensão como no Oriente, mas penso que a comida de rua é um bom conceito. Sobretudo no aproveitamento dos parques, das paisagens, é algo muito positivo, que leva ao conhecimento das cidades”, salientou Hélio Loureiro, elogiando também os recentes conceitos da street food. “O que acontece nos dias de hoje é vermos nessas street foods comida saudável e virada para os tempos modernos e para aquilo que é a saúde, muito centrada nos legumes e nos vegetais”, salientou.
Quanto à estrela Michelin que a chef tailandesa Jay Fai recebeu neste mês, Hélio Loureiro não fica surpreendido ao contrário da sua colega tailandesa Jay Fai que foi mais cética quando soube. Primeiro não sabia que a Michelin tinha um guia de restaurantes. “Mas não vende pneus? O que é que andam a fazer em relação à comida?”, disse, segundo o jornal The Guardian, enquanto cozinhava os cada vez mais conhecidos pratos de omeletas de caranguejo e noodles de camarão.
Para comparecer à gala teve de ser a sua filha a convencê-la a fechar as portas, pois como lhe disseram que não ia cozinhar na gala, recusou o convite. “A minha filha disse-me: ‘Mãe, tens mesmo de ir. Podemos fechar o restaurante por um dia’”, contou Jay Fai ao jornal.
Viajaram para Hong Kong, para receber a distinção, e foi outra surpresa. “Quando lá cheguei, fiquei chocada, não era um evento normal. Havia chefs por todo o lado. Tive medo de ser uma competição de cozinheiros e eu não queria participar”, adiantou. Jay Fai contou ainda que quando a chamaram ao palco disse para si mesma: “Este é o prémio de uma vida.”
Passada a festa regressou ao restaurante e recebeu uma visita ines- perada: o fisco tailandês. Perante essa ação Jay Fai foi avisando: “Se continuarem a pressionar-me, devolvo a estrela.” Escreve o jornal que esta chef não parece ter sido “tocada” pela estrela Michelin, fazendo a promessa de que não vai aumentar os preços nem mudar a decoração. “Sou velha, mas continuou a fazer o meu melhor. Não vou mudar”, garantiu.
Jay Fai, de 72 anos, recebeu a sua primeira estrela, mas nunca tinha ouvido falar do guia e já ameaçou devolver a distinção