Diário de Notícias

CRISE LEVA VENEZUELAN­OS A DEDICAR-SE AO JOGO

Leva o nome de Lisboa, o novo trabalho do cantor português, cada vez mais distante da sonoridade reggae que o deu a conhecer

- MIGUEL JUDAS

Se Ricardo Dias de LimaVentur­a da Costa tivesse vivido noutro sítio, possivelme­nte nunca se teria ouvido falar de um tal de Richie Campbell. Como já se percebeu, Ricardo e Richie são a mesma pessoa, mas se o primeiro quase ninguém sabe quem é, o segundo é desde há muito uma das maiores estrelas do universo pop rock nacional. Foi um dos primeiros músicos que se deram a conhecer na internet em Portugal e ficou para história, em 2011, quando se tornou o primeiro artista nacional a esgotar uma sala de grande dimensão, o Campo Pequeno, sem pertencer a qualquer editora.

Sete anos se passaram entretanto e muito mudou na vida de Richie Campbell, que desde então já editou dois álbuns de originais e um ao vivo, aos quais se junta agora a mixtape Lisboa, uma espécie de coletânea composta por músicas feitas ao longo dos últimos dois anos, editada apenas em formato digital. O novo trabalho tem um total de 14 temas, alguns deles, como Do You No Wrong ou Heaven, já bastante conhecidas do público, uma vez que foram originalme­nte lançadas no ano passado como singles, atingindo, respetivam­ente, a marca de platina e de ouro.

“É um projeto que demorou cerca de dois anos a concretiza­r e nunca foi pensado como um álbum puro e duro”, explica o artista ao DN. “Normalment­e demoro cerca de dois meses a gravar um disco, que tem sempre um conceito e uma sonoridade comum. Neste caso isso não acontece, pelo que optei chamar-lhe antes uma mixtape, por me fazer lembrar os tempos de My Path, a minha primeira mixtape, de 2010”, sublinha. A maior parte das faixas tiveram produção a cargo de Lhast, um dos mais recentes hit makers do hip hop nacional, que segundo o músico “conseguiu dar uma coesão de disco” a Lisboa. Esta foi também a primeira vez que o próprio Richie Campbell arriscou na produção de “uns três ou quatro” temas. “Construi um estúdio em casa e comecei a experiment­ar. É algo que me dá muito gozo, porque me permite trabalhar a música de uma forma muito mais completa. Tem sido todo um novo mundo que se abriu para mim”, conta.

Quando se deu a conhecer, em 2012, com o álbum de estreia Focused, Richie Campbell assumiu-se como um artista de reggae, o primeiro, a nível nacional, a tornar-se popular junto do grande público, às custas do êxito That’s How We Roll, este estilo de música nascido na Jamaica. Agora, é tempo de enveredar por outros caminhos, mais próximos do dancehall, mas especialme­nte do R&B, como se comprova no mais recente single de Lisboa, intitulado de Water, feito em parceria com Slow J. “Essa é a outra razão por que chamei este trabalho de mixtape, uma vez que tem um bocadinho de tudo e marca uma altura de transição para mim. Não está ligado a um género musical específico, como tinha acontecido até aqui”, sublinha.

Uma mudança de sonoridade que parecer ser para ficar, como faz questão de salientar: “À medida que vamos ficando mais velhos e experiente­s, compreende­mos melhor quem somos e o que queremos. Neste momento posso finalmente dizer que encontrei o som que melhor me define.” E nem o facto de se estar afastar do reggae mais tradiciona­l que o tornou famoso parece assustar o artista, atualmente com 31 anos. “É uma evolução natural, porque eu também não sou a mesma pessoa e o mesmo artista de há uns anos.” A mudança começou precisamen­te com os singles Do You No Wrong e Heaven, que tão bem correram, em termos comerciais, durante o ano passado. “Percebi que nunca nada vai soar tão bem como aquilo que realmente me dá gozo fazer.”

Ao contrário dos dois registos anteriores, gravados, respetivam­ente, em Berlim e na Jamaica, os temas incluídos em Lisboa foram quase todos gravados na cidade que lhe dá o nome. Não é essa, no entanto, a razão principal para a escolha do título. De acordo com o seu autor, este funciona mais como “uma homenagem” à cidade que o viu crescer, apesar de morar em Caxias. “Lisboa é uma cidade vibrante a nível musical, como há poucas no mundo. Essa é, aliás, a única explicação para a mistura de estilos que é a minha música. Cresci a ir a festas de reggae e dancehall, a ouvir mornas na rua, afrobeats em discotecas e R&B e hip hop na escola”, explica Richie Campbell, justifican­do também assim o facto de cantar em inglês. “Também tem que ver com isso e não torna a minha música menos lisboeta, muito pelo contrário, até porque nenhum outro local do mundo me possibilit­aria a presença desta mistura de estilos no meu dia-a-dia”, sustenta.

É toda uma nova etapa a que se abre com Lisboa, na carreira de Richie Campbell, que se apresenta ao vivo no dia 2 de fevereiro, na Altice Arena, em Lisboa, naquele que será um dos seus mais ambiciosos espetáculo­s em nome próprio. “Por ser o primeiro desta nova fase, este concerto funciona também como a conclusão desta transição que tenho vindo a fazer na minha música.” Mas os fãs podem estar descansado­s: o que ficou para trás não será esquecido. “Vou tocar tudo aquilo que as pessoas querem ouvir”, promete.

Editada em formato digital, a mixtape Lisboa reúne temas compostos nos últimos dois anos, alguns já editados como singles

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Lisboa mostra o afastament­o de Richie Campbell do reggae que o tornou conhecido

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