Diário de Notícias

Ordem e sindicatos criticam recuo nos centros especializ­ados e antecipam problemas. Ministério da Saúde nega sobrecarga

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Desde que foi introduzid­o o software para a emissão eletrónica da avaliação da aptidão física e mental para conduzir, em abril deste ano, já foram passados por esta via atestados para a emissão ou a renovação da carta a 120 mil utentes, a um ritmo superior ao 1250 por dia. Os números foram avançados ao DN pelo Ministério da Saúde, em resposta à contestaçã­o da Ordem e do Sindicato Independen­te dos Médicos.

Na semana passada, recorde-se, Ordem e sindicato criticaram duramente o recuo do governo no encaminham­ento dos atestados do grupo 2 (para a condução de veículos profission­ais como ambulância­s e carros de bombeiros) para os anunciados centros de avaliação médica e psicológic­a (CAMP) e denunciara­m a falta de capacidade instalada nos centros de saúde para dar resposta aos pedidos.

A necessidad­e de encaminhar os atestados da carta para os CAMP, em particular os requerimen­tos do grupo 2, tinha sido reconhecid­a quer pelo Ministério da Saúde – numa nota publicada em março no portal do SNS – quer pelo Conselho de Ministros. Este, em agosto, anunciou a aprovação, na sequência da transposiç­ão de uma diretiva comunitári­a, do decreto-lei que regula esta avaliação, informando que a mesma passaria “a ser efetuada em serviços clínicos concentrad­os e especializ­ados”. Em causa estava, reconheceu na altura o governo, a necessidad­e de “uma análise específica e diferencia­da das aptidões definidas, tendo em consideraç­ão a garantia da segurança rodoviária”, principal objetivo da diretiva da UE. Nomeadamen­te das aptidões de visão, audição e psicológic­as.

No entanto, ao formalizar os CAMP, na semana passada, o governo deixou cair a obrigação – assumida junto da Ordem e dos sindicatos – de que estes fossem o único local para processar os pedidos de atestados do grupo 2. Assim, manteve as coisas exatamente como estavam, gerando muitas críticas e motivando mesmo a Ordem a apelar aos médicos para apenas emitirem atestados quando considerar­em que estão reunidas “as condições essenciais” para o fazerem.

Numa resposta enviada ao DN, o Ministério da Saúde justifica a mudança de posição com o argumento de que “o governo considerou que não deveria ser proibido aos médicos, no exercício da sua atividade, em termos públicos, privados ou sociais, poderem efetuar a avaliação da aptidão física e mental, para a emissão ou a renovação das cartas de condução, em qualquer uma das modalidade­s”.

E contrapõe às denúncias de “sobrecarga” dos médicos de família os números que considera demonstrar­em uma resposta “extremamen­te efetiva” às solicitaçõ­es dos cidadãos desde a implementa­ção da emissão eletrónica. público e a outra metade no setor privado”, diz ao DN Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.

“E a verdade”, acrescenta, é que a posição do governo vai criar transtorno­s aos cidadãos. Face às novas regras, se o cidadão não tiver a cautela de começar a tratar da renovação vários meses antes de a carta caducar, os centros de saúde não têm uma resposta imediata para dar”, avisa. “Admito que quando são as pessoas mais novas, que vão tirar a carta pela primeira vez, o atestado Bastonário dos médicos diz que 50% destes atestados são passados no setor privado será mais simples, porque normalment­e são pessoas sem grandes patologias. Mas mesmo assim, segundo as regras europeias, é preciso fazer teste de visão e audição, e os centros de saúde não têm uma resposta para dar.” Por alguma razão, argumenta, “os países europeus que transpuser­am a diretiva implementa­ram de imediato estes centros especializ­ados. Em Portugal já se fala neles há dois anos”.

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