Já há 19 vítimas de homicídio conjugal neste ano
Uma mulher morta a tiro na empresa onde trabalhava foi o caso mais recente
“Mais de um terço dos homicídios em Portugal continuam a ocorrer em contexto conjugal, o que é preocupante” ELISABETE BRASIL PRESIDENTE DA UMAR
Neste ano, e segundo dados ainda provisórios, já morreram 19 mulheres em contexto conjugal. O último caso aconteceu ontem. A vítima, uma mulher de 45 anos, funcionária numa empresa de transporte internacional de legumes, em Salvaterra de Magos (Santarém), foi assassinada a tiro pelo marido no local de trabalho, na hora de almoço dos funcionários, perto das 13.30. Logo a seguir, o homicida suicidou-se com o revólver que trazia.
Segundo soube o DN junto de fonte policial, o casal estaria em fase de separação não sendo ainda claro se já havia antecedentes de violência doméstica. A secção de Homicídios da Polícia Judiciária está a investigar o caso.
A maioria das mortes em contexto conjugal tem acontecido dois meses após a separação dos casais, concluiu a Polícia Judiciária quando analisou 43 homicídios conjugais ocorridos de 2010 a 2015 em Lisboa. São um terço dos homicídios Até ao momento, as 19 mortes registadas neste ano confirmam uma “tendência de diminuição dos homicídios conjugais que já se verifica há três anos e que acompanha a curva de diminuição do homicídio a nível geral”, observa Elisabete Brasil, presidente da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta. O Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR registou 31 homicídios conjugais em 2016 e 29 em 2015. Apesar do decréscimo no número de casos “mais de um terço dos homicídios em Portugal continuam a ocorrer em contexto conjugal, o que é preocupante”, sublinha a responsável.
A equipa do Observatório de Mulheres Assassinadas, que faz a contagem anual através dos casos relatados na imprensa, tem constatado que “a maioria dos casos que resultam em morte já tinham para trás denúncias de violência doméstica”. Algumas situações estavam até em fase de inquérito com medidas de coação aplicadas ao agressor. Significa que algo falhou: “Temos de ponderar se as avaliações de risco estão a ser bem feitas.”
A maior parte destes homicídios acontece em casa. “Mas têm vindo a aumentar nos últimos anos os casos no local de trabalho e na via pública”, assinala Elisabete Brasil. Casos como o que aconteceu ontem, do homicídio seguido do suicídio do agressor, são raros. “Esse padrão de comportamento denuncia um indivíduo que entende já não ter nada a perder, que não quer saber do que os outros vão dizer e que só lhe interessa o controlo da situação.” Denunciam um “grau de violência elevado com sinais de agressividade obsessiva e descontrolada”.
Dos quatro perfis de homicidas conjugais que a psicóloga Íris Almeida estudou para a sua tese de doutoramento, e que o DN já noticiou, o dos homens que matam as mulheres e se suicidam tem associados, como fatores de risco, “a depressão, associada ao consumo de álcool ou de medicamentos”. Quando entrevistou agressores que tentaram o suicídio, Íris Almeida fez uma descoberta: “Tinham patologias mentais não diagnosticadas.”