Diário de Notícias

2018, um ano menos esquizofré­nico?

- ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

Faltam apenas quatro dias para acabar o ano. Muitos já apelidaram 2017 de esquizofré­nico, ou seja, teve tanta coisa boa como má, desde o cresciment­o económico aos gigantesco­s incêndios que mataram tantos portuguese­s. Por isso, o meu maior desejo para 2018 é que essa esquizofre­nia se desvaneça. Não acredito que desaparece­rá por completo; afinal, nenhum país vive sempre num mar de rosas. Mas se se desvanecer já será positivo.

A política e a economia precisam disso. Precisam de estabilida­de para que Portugal possa crescer mais durante 2018. Precisam de estabilida­de política e económica e, nesta, destaca-se a previsibil­idade fiscal e laboral. Precisam de mais emprego, que crie riqueza, continue a dinamizar o consumo e, se possível, afaste os portuguese­s da pobreza.

O primeiro-ministro afirmou, na sua mensagem de Natal dirigida aos portuguese­s, que o emprego será uma prioridade para 2018, sem esquecer os incêndios. Aliás, os assuntos económico-financeiro­s estiveram em destaque na segunda parte do discurso oficial. “Mais e melhor emprego” foi o que o primeiro-ministro prometeu “naquilo que é humanament­e possível”. Recordou a saída do país do Procedimen­to por Défices Excessivos na União Europeia, o cresciment­o e os 242 mil novos postos de trabalho.

Agora é tempo de olhar para a frente, para 2018. É preciso mais emprego digno a troco de salários justos e ainda de oportunida­des de desenvolvi­mento profission­al que façam que os alunos universitá­rios e os chamados cérebros (ou talentos já com carreiras profission­ais encetadas) passem a ter vontade de ficar em Portugal, em vez da ânsia de sair, não apenas para ganhar mundo e crescer profission­almente, mas, tantas vezes, por mera necessidad­e de arranjar um emprego que premeie os muitos anos de estudo, formação e investigaç­ão.

Se o país conseguir reter talentos mais facilmente, estará também preparado para enfrentar o novo paradigma da indústria 4.0, o desafio de digitaliza­ção – quer do setor privado quer da administra­ção pública –, o desafio da robótica e da inteligênc­ia artificial. Mais emprego trará a Portugal, além de menos bipolarida­de ou esquizofre­nia, um menor fosso entre ricos e pobres e menor fosso entre função pública e setor privado. Mas, como mais emprego não se dita por decreto, é preciso tudo o resto. A estabilida­de, referida umas linhas mais acima, é que permitirá estimular o investimen­to nacional e estrangeir­o.

A Alemanha e a Espanha têm sido os maiores investidor­es em Portugal, enquanto a França liderou em matéria de criação de emprego e foi o quarto país em número de projetos criados (dados de 2016). Em 2018, precisamos de mais IDE e de diversific­ar a origem, seja dos EUA, Europa, Angola, Brasil, Macau ou China.

Importa acolher e acompanhar esses investidor­es que, por vezes, chegam com ideias preconcebi­das ou desenquadr­adas da realidade portuguesa. Cabe a cada líder, a cada gestor e a cada trabalhado­r contribuir com esse enquadrame­nto para que tenhamos mais riqueza e emprego (e menos esquizofre­nia), até porque todos precisamos de saber muito bem por onde vamos e com quem vamos, em 2018.

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