Diário de Notícias

E deste bolo-rei não se fala?

- FERREIRA FERNANDES JORNALISTA

Estava eu bombardead­o (com avisos urgentes de jornais sobre o desenrolar do caso) pela magna questão de a Padaria Portuguesa ter deitado bolos-rei fora, quando reagi com um repente, como uma vítima de apneia. Explico-me: uma vez comi um pão na Padaria Portuguesa. Se depois disso me vou preocupar com o que se faz com os bolos-rei dela... Enfim, estrebuche­i, saltei do sonho sem sabor e aterrei no mundo, já quase falecido, dos blogues. No Aspirina B, onde os alertas para leituras alheias costumam ser lúcidos, li um convite para um artigo de o Observador que me havia escapado. Era velho como o caraças, de há uma semana, mas os afazeres da época desculpam-me. Fui ler e olhem para mim: espantado, derreado de prazer. Título: “A última paixão de Fernando Pessoa não foi Ofélia, foi uma inglesa loira.” Dei graças aos pesquisado­res militares da Guerra Fria que começaram com qualquer coisa que levou à internet e, desta, a todo o bicho careta (incluindo Al Gore) que permitiu os jornais online mais os seus títulos abençoadam­ente compridos. E aos mesmos mecenas dei graças por permitirem artigos longos e com ramificaçõ­es. E basta com esses, porque o vindo daí é tecnologia, boa, é certo, mas sem altos voos se no cockpit do artigo não for quem seja capaz de saber contar o que há para contar (jornalismo, chama-se a esse trabalho). A nova namorada de Pessoa foi-me revelada por um coca-bichinhos dos arquivos, que a publicou numa revista especializ­ada, mas também não é dele que falo. Falo de quem, jornalista, pois, pôs essa revelação sábia ao alcance de gente comum como eu. Fui ver a assinatura: Rita Cipriano. Não conheço. Informei-me: vinte e poucos. Dupla sensação minha: inveja (5%), gratidão (95%). Ah, jornalismo, tens futuro! Nesta profissão só falha quem não sabe.

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