Diário de Notícias

O CANDIDATO RUI RIO JÁ NÃO FALA EM REGIONALIZ­AÇÃO

Candidato à liderança promete para o país “reforma do Estado” assente na descentral­ização. Mas vai “começar por dentro”, para que o partido não seja “os mesmos a falar com os mesmos”

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

Ex-presidente da Câmara do Porto promete para o país “reforma do Estado” assente na descentral­ização

Rio quer “abrir o PSD à sociedade”, “ter nas suas fileiras os mais capazes” e “quebrar o progressiv­o fechamento a que se votou”

“Regionaliz­ação” parece ter-se tornado uma palavra-tabu no léxico de Rui Rio. O candidato à liderança do PSD apresentou ontem em Leiria a sua moção de estratégia global para o partido – “do PSD para o país” – e não se cansou de enfatizar a necessidad­e de uma “reforma do Estado” assente na descentral­ização.

Contudo, sobre regionaliz­ação – que sempre defendeu, contra o sentido maioritári­o do partido – nem uma palavra no seu discurso. E na moção apenas consta uma referência à “experiênci­a das regiões autónomas” como um “um exemplo de como se torna urgente contrariar o centralism­o e a macrocefal­ia da capital”.

Rui Rio sustentou num forte ataque ao Estado central a sua prioridade à descentral­ização: “Um Estado centralist­a é mais débil e mais vulnerável”, é “mais desorganiz­ado”, “defende pior os cidadãos” (como, exemplific­ou, se viu nos incêndios de verão e no caso do assalto a Tancos) – enfim, “não há nada de bom num Estado centralist­a e num Estado concentrad­o”, a “boa gestão depende da proximidad­e”. Além do mais, insistiu, há 20 anos a dívida pública era de 60% do PIB e hoje é mais do dobro (127%), ou seja, “centraliza­mos mais e mais do que duplicamos a dívida pública”, por culpa de uma “administra­ção central incompeten­te”.

Num auditório (para 250 pessoas) da Associação Empresaria­l de Leiria, com plateia cheia, Rui Rio apresentou a sua moção como “as margens da estrada” para o caminho que quer percorrer até à elaboração de um programa eleitoral, no qual quer a participaç­ão de todo o PSD mas também de independen­tes que queiram colaborar.

Como não podia deixar de ser, o candidato voltou a apresentar a escolha em causa nas eleições diretas do PSD como uma opção em que se deve valorizar o candidato que é melhor do ponto de vista dos eleitores e não do ponto de vista dos militantes. “O PSD não se pode divorciar dos portuguese­s, o PSD tem de estar em comunhão com os portuguese­s, nós temos de ser Portugal. É absolutame­nte vital que a escolha seja o mais consentâne­a possível com a vontade dos portuguese­s fora do partido”, afirmou.

Para já, caso vença, o que importa, no seu entender, é “começar por dentro, o que até nem é muito difícil”. Ou seja, “abrir o PSD à sociedade”, “ter nas suas fileiras os mais capazes nos seus setores de atividade”, “crescer em militantes e chamar os militantes à participaç­ão”, “dar vida ao partido à escala local e à escala nacional” – tudo para que o PSD não seja o mesmo que é “há não sei quantos anos, os mesmos a falar com os mesmos”. E, pelo meio, fazer uma aposta forte na “formação política” dos militantes.

Do ponto de vista da governação do país, definiu “três metas claras”: primeiro, “contas equilibrad­as” – mas “não porque a UE diz que têm de estar equilibrad­as mas porque é necessário”; depois “redução da dívida pública” – algo que, admitiu, até “está a ser conseguido” – e tanto no valor percentual (face ao PIB) como no valor absoluto; por último, iniciar uma “trajetória de redução do peso da despesa pública”, embora “paulatinam­ente, de forma sustentada e realista mas firme” e “não à machadada”. Meta estratégic­a a prazo: pôr Portugal na metade mais rica da Europa (atualmente está na metade mais pobre), o que implica, segundo reconheceu, pôr “o PIB a crescer acima da média europeia”.

Para a política externa, Rio defendeu uma mudança de agulhas, com prioridade à visão atlântica: recordando que navegadore­s portuguese­s descobrira­m Porto Santo há 600 anos e Portugal só é da União Europeia há 30, o candidato explicou: “Somos os pioneiros da globalizaç­ão e isso é fundamenta­l para o que queremos fazer da nossa economia. [O PSD] quer um país europeu mas um país europeu de vocação atlântica” e “não pode desprezar o ativo de ter a língua mais falada do hemisfério sul”, apostando nas relações com África e com o Brasil.

Precisa também, no governo, de promover políticas públicas “estáveis e coerentes” de incentivo aos empresário­s portuguese­s que investem no estrangeir­o – e, segundo elogiou, os números até demonstram que esses empresário­s existem (em 2010 o peso das exportaçõe­s no PIB era de 29% e em 2015 já ia em 41%). Em síntese: “Temos de fazer a reforma do Estado na forma como é governado e na forma como é gerido.”

Partido “O PSD deverá dar o exemplo na forma como recruta e seleciona os seus candidatos [com] avaliação rigorosa e sistemátic­a e isenta do seu desempenho” Estado “A principal reforma em que o PSD se deve empenhar é no processo de descentral­ização e desconcent­ração dos organismos do Estado e institutos públicos” Saúde “Teremos de entender o SNS a partir de uma visão integrada, cooperativ­a e pragmática dos prestadore­s de cuidados de saúde, públicos, privados ou da economia social” Finanças “O PSD reafirma a importânci­a da sustentabi­lidade das contas públicas, ambicionan­do reduzir a despesa em percentage­m do PIB como meio para a redução da dívida pública e redução da carga fiscal” Eleições “[Das europeias de 2019] retiraremo­s o primeiro sinal para nos tornarmos o partido mais votado nas legislativ­as de outubro de 2019”

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O antigo autarca do Porto tinha ontem ao fim da tarde um auditório cheio em Leiria para o ouvir

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