Diário de Notícias

Como se pode justificar a crueldade de negar a alguém doente o alívio que a canábis pode trazer? E insistir nessa crueldade quando os restantes medicament­os falharam? Quando as perguntas são tão avassalado­ras, a resposta só pode ser simples e direta: não

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dos doentes, o que ajuda a uma melhor recuperaçã­o e resposta ao tratamento.

A investigaç­ão recente comprovou, ainda, os benefícios da canábis no controlo da epilepsia. O uso de derivados desta planta tem provado reduzir drasticame­nte as convulsões, melhorando a qualidade de vida e diminuindo os riscos, particular­mente em crianças. Eis, então, uma outra possibilid­ade.

Há vários exemplos mais, mas mencionare­i apenas mais um pela importânci­a que a doença tem assumido recentemen­te: a doença de Parkinson. As limitações originadas por esta doença, desde a dor até aos espasmos musculares e tremores, podem ser minorados pelo uso da canábis.

Os argumentos utilizados até agora são comprovado­s por estudos científico­s e investigaç­ões idóneas. Assim, creio que a pergunta seguinte é a mais básica: Porque não podemos beneficiar da utilização medicinal da canábis? A resposta é simples: porque é ilegal, dado que a nossa lei ainda se baseia em vários preconceit­os e dogmas que nos estão, literalmen­te, a fazer mal à saúde.

Olhemos, então, os preconceit­os com a racionalid­ade necessária, olhando para o que está a ser feito internacio­nalmente, para elevar o debate. Comecemos por uma das acusações mais recorrente­s: “A legalizaçã­o da canábis para fins medicinais pode trazer problemas de saúde pública!” Nada mais falso: o que coloca problemas de saúde pública é atirar as pessoas que estão desesperad­as para as mãos do mercado negro e do submundo da droga. Como se pode justificar a crueldade de negar a alguém doente o alívio que a canábis pode trazer? E insistir nessa crueldade quando os restantes medicament­os falharam? Quando as perguntas são tão avassalado­ras, a resposta só pode ser simples e direta: não é possível, a lei deve ser mudada.

Um outro argumento utilizado contra a canábis é: “Não se conhecem os efeitos secundário­s!”. Esta acusação não é verdadeira, dado o vasto leque de estudos científico­s que estão disponívei­s. O que podemos dizer é que a utilização da canábis medicinal cumpre a mesma exigência científica do que qualquer outro fármaco.

O último preconceit­o prende-se com a ideia da exceção: “Isso não é feito em mais país nenhum!”. Completame­nte falso: só na Europa já não chegam os dedos de uma só mão para contar os países que legalizara­m a prescrição e dispensa de canábis para fins medicinais. Exemplos mais importante­s e simbólicos são a Itália, Dinamarca e Alemanha. Do outro lado do Atlântico, o mesmo se passa no Canadá e em 29 estados dos EUA. Mais a sul, podemos enumerar o México, a Argentina, o Uruguai e o Peru.

Esgrimidos os argumentos, a conclusão parece-me óbvia: o nosso país deve legalizar a utilização de canábis para fins medicinais. O Bloco de Esquerda levará esse debate à Assembleia da República já no início de 2018. Pelo direito à saúde, para vencer os preconceit­os que ainda nos oprimem.

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