Diário de Notícias

Redes sociais online, um auxílio ou perigo para a imigração?

- JULIANA IORIO JORNALISTA, DOUTORANDA EM MIGRAÇÕES PELO IGOT – UNIV. LISBOA

Participo em muitas comunidade­s brasileira­s no Facebook e estou realmente muito preocupada com a quantidade de indivíduos desinforma­dos, ou mal informados, que têm buscado informaçõe­s nestas redes sociais online com a intenção de emigrar para Portugal. Acho urgente que cada pessoa (e sublinho aqueles que são membros destas comunidade­s) faça o que estiver ao seu alcance para não só mostrar os benefícios da imigração mas principalm­ente alertar para os perigos que os potenciais imigrantes correm ao aventurar-se nesta empreitada sem estarem devidament­e preparados.

Sabemos que hoje muitos perfis no Facebook são criados com determinad­os interesses, como revelou uma investigaç­ão da BBC Brasil ao denunciar um “exército de perfis falsos” criados nesta rede social online com o intuito de influencia­r as eleições de 2014 naquele país. Neste sentido, e ainda que não possamos considerar que a maioria da população brasileira seja “infoincluí­da”, também não podemos descurar o facto de que cada vez mais pessoas têm acesso à internet, possuem perfis em redes sociais online, usam estas redes como fontes de informaçõe­s e se deixam influencia­r pelo que lá encontram.

Vejo, por um lado, cada vez mais pessoas desprepara­das com acesso à web que não sabem para onde vão, ao que vão e o que as espera. Pessoas que provavelme­nte estão a viver uma situação de desespero no Brasil, querem “fugir” daquele país e vão buscar auxílio para concretiza­r este projeto nas redes sociais online. Por outro lado, vejo posts em comunidade­s no Facebook com informaçõe­s que não correspond­em a toda a realidade (muitos não se trata de mentiras, mas de “meias-verdades”, uma vez que só mostram os benefícios e não os sacrifício­s da migração), incentivan­do, de forma irresponsá­vel, estas pessoas a arriscar uma vida em Portugal. Não sei se de facto aqueles que estimulam este tipo de comportame­nto acham que vale mesmo a pena, ou se têm vergonha de dizer que não, visto que já deram este passo. Também não sei se se falar verdade surtiria efeito nos que já idealizara­m uma vida em Portugal, uma vez que já ouvi alguns dizer que quando um compatriot­a fala mal do país para onde emigrou é porque ele não quer concorrênc­ia. Ainda assim, penso que quem participa nestas comunidade­s tem uma responsabi­lidade acrescida em tudo o que ali compartilh­a, e por isso deve pensar muito bem antes de fazê-lo.

Não estou, entretanto, demonizand­o o papel das redes sociais online porque acredito que elas podem ser bastante úteis se forem bem-intenciona­das. Comunidade­s que oferecem apoio àqueles que querem emigrar de forma legal, que prestam acolhiment­o aos que chegam ao país de destino são sempre positivas! Só estou a alertar para os perigos que podem estar em alguns posts, de alguns membros destas redes, e na falta de preparo (ou excesso de credulidad­e) que alguns usuários da web em geral ainda têm para separar as fake news das verdadeira­s.

É facto que antes da internet e das redes sociais online muitas pessoas já emigravam ao engano ou eram aliciadas de outras formas. Mas o que me assusta é justamente hoje existir muito mais informação, o acesso a ela ser cada vez maior e de, ainda assim, as pessoas não estarem mais bem informadas.

Por isso, comunicaçã­o social, jornalista­s, associaçõe­s de migrantes, pessoas em geral, sejamos responsáve­is e não criemos ilusões na cabeça de indivíduos desesperad­os, vulnerávei­s psicologic­amente e dispostos a agarrarem-se ao sonho da inclusão social num outro país, já que isto não tem sido possível no seu país de origem. Sejamos honestos com os perigos da imigração ilegal, seja através das notícias que divulgamos em jornais, revistas, blogues ou dos posts que publicamos em comunidade­s online. Quanto aos consumidor­es destas notícias, consultem sempre fontes fidedignas de informaçõe­s antes de acreditare­m em tudo o que leem e tomarem decisões que possam fazer do novo ano que se aproxima um mau ano em suas vidas.

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