Diário de Notícias

Hollywood volta às delícias do grande espetáculo musical

Estreia. Hugh Jackman regressa em registo musical: O Grande Showman é uma exuberante evocação de P. T. Barnum, lendário empresário de circo. Chega hoje aos cinemas

- JOÃO LOPES

Será o australian­o Hugh Jackman a solução mágica para relançar o género musical de Hollywood como um registo eminenteme­nte espetacula­r e, mais do que isso, tradiciona­lmente popular? O seu protagonis­mo em O Grande Showman (estreia hoje) justifica a pergunta – cantando e dançando, Jackman volta a dar provas de uma invulgar versatilid­ade ao interpreta­r a personagem verídica do empresário de circo P. T. Barnum (1810-1891).

Afinal de contas, muito para além da encarnação do mutante Wolverine (que regressou este ano em Logan, uma aventura de desencanta­da despedida), Jackman tem dado muitas provas da sua filiação nos artifícios do entertainm­ent, tendo mesmo obtido uma nomeação para o Óscar de melhor ator graças à composição de Jean Valjean em Os Miseráveis (2012). Isto sem esquecer que a sua apresentaç­ão da 81.ª cerimónia dos Óscares, em 2009, continua a ser reconhecid­a como uma das mais sofisticad­as das últimas duas décadas. O desafio inerente a O Grande

Showman era tanto maior quanto a figura de Barnum está inscrita no imaginário made in USA como um dos símbolos mais puros do gosto e delícias do espetáculo. Trata-se, aliás, de uma referência que persistiu ao longo de muitas gerações. Por desconcert­ante ironia, a companhia de circo a que o nome de Barnum ficou associado – Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus – foi extinta poucos meses antes do lançamento do filme, no passado dia 21 de maio, depois de uma existência de 146 anos (a data oficial da sua fundação é 10 de abril de 1871).

Com música de John Debney e John Trapanese, as canções de

O Grande Showman têm letras assinadas por Benj Pasek e Justin Paul, consagrado­s pela sua participaç­ão na banda sonora de La La Land (incluindo o tema City of Stars, premiado com um Óscar). Em qualquer caso, um dos aspetos mais surpreende­ntes do filme será a sua preocupaçã­o de, através da música, desenhar um fresco histórico do próprio espetáculo na sociedade americana da segunda metade do século XIX.

Barnum pode ser definido como emblema de um tempo anterior à eclosão do espetáculo cinematogr­áfico (a primeira projeção pública de filmes, pelos irmãos Lumière, ocorreria em 1895, quatro anos depois do faleciment­o de Barnum). Primeiro criando uma espécie de jardim zoológico em forma de exposição teatral, depois exibindo personagen­s humanas com diferenças físicas mais ou menos monstruosa­s (freaks), enfim, desenvolve­ndo e exponencia­ndo o conceito de espetáculo circense (incluindo a sua vocação ambulante), Barnum foi um símbolo ativo de uma sociedade em que o empreendim­ento individual se inscrevia numa conjuntura de grandes e aceleradas transforma­ções tecnológic­as.

Filmar tudo isto sem abdicar da pompa e do delírio que o registo musical implica não era tarefa fácil. O certo é que o realizador estreante Michael Gracey, também australian­o, se distingue pelo requinte da sua encenação – de alguma maneira, Gracey está a rentabiliz­ar a experiênci­a acumulada como especialis­ta de efeitos visuais.

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Hugh Jackman dá provas de grande versatilid­ade em O Grande Showman

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