Diário de Notícias

Parlamento catalão reabre em 17 de janeiro

Mariano Rajoy avisa independen­tistas e apela ao diálogo. Puigdemont quer retomar cargo de presidente

- CÉSAR AVÓ

“Não pode haver mais apelos à rutura e à ilegalidad­e. A Espanha não pode ser chantagead­a e a Europa não dará reconhecim­ento nem legitimida­de aos que violam a lei, como foi demonstrad­o”

O primeiro-ministro espanhol marcou para 17 de janeiro a data da sessão inaugural do novo Parlamento catalão, na sequência das eleições antecipada­s do dia 21. Mariano Rajoy anunciou uma ronda de encontros com dirigentes dos diversos partidos para se avaliar as possibilid­ades de constituiç­ão do govern. No mesmo dia em que o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, confirmou que o seu partido, vencedor das eleições autonómica­s, não vai dar o primeiro passo para Inés Arrimadas ficar à frente da Generalita­t.

No final da última reunião do Conselho de Ministros do ano, como é hábito, Mariano Rajoy aproveitou para fazer o balanço anual. “2017 foi um ano tremendame­nte difícil. Tivemos de fazer frente a um assunto tão desestabil­izador quanto uma declaração de independên­cia. Não obstante, o balanço é positivo”, disse após ter evocado as vítimas dos atentados de Barcelona e Cambrils e as mulheres vítimas de violência de género.

O governo conservado­r aprovou o aumento do salário mínimo para 735 euros e o chefe do governo anteviu para 2018 um cresciment­o económico entre 2% e 3%. “A única sombra que pende sobre a economia é a instabilid­ade na Catalunha”, afirmou. Elogiou a entrada em vigor do artigo 155.º da Constituiç­ão – a retirada provisória de poder dos órgãos autonómico­s –, o que “minorou a queda da economia catalã” e ao mesmo tempo defendeu-se “a lei e a ordem constituci­onal, a convivênci­a e o bem-estar de todos os catalães e espanhóis”.

Sobre o futuro político da região, o primeiro-ministro espanhol espera que a nova legislatur­a do Parlament coincida com uma nova etapa de “diálogo, cooperação e pluralidad­e”, e apelou para que todos façam um esforço para destacar o que os une. Para Rajoy, não há mais lugar a apelos à rutura porque a lei não o permite. “A Espanha não pode ser chantagead­a e a Europa não dará reconhecim­ento nem legitimida­de aos que violam a lei, como ficou demonstrad­o.”

Ciente de que o seu Partido Popular teve um resultado eleitoral “que não foi bom” – uma forma de suavizar a derrocada de deputados eleitos, de 11 para 3, correspond­ente a 4,24% dos votos –, Rajoy não se estendeu sobre os cenários de formação de governo, nem sequer se está disponível para falar com o futuro presidente da Generalita­t, apenas que deseja “o fim da situação que tantos danos tem causado à Catalunha, de todos os pontos de vista”. Não resistiu, porém, a comentar a hipótese de Carles Puigdemont se tornar presidente e chefiar a região em Bruxelas: “É absurdo querer ser presidente de uma comunidade e estar no estrangeir­o.”

No mesmo sentido comentou o presidente do governo do País Basco, Iñigo Urkullu. “É impensável”, disse à Radio Euskadi, governar “via internet”. O nacionalis­ta basco coincidiu ainda com Mariano Rajoy ao mencionar a necessidad­e de diálogo. Mas lembrou que não há diálogo nem regresso à normalida- de se a ação política se basear “apenas nas vias políticas e não em vias penais ou judiciais”.

Já o líder do Ciudadanos considera que Puigdemont, Oriol Junqueras e Carme Forcadell não podem assumir quaisquer cargos – e, em resultado da “maldita lei eleitoral”, Albert Rivera reiterou que Inés Arrimadas não vai tentar formar governo.

O Junts per Catalunya, por seu turno, confirmou ontem a defesa de Puigdemont como presidente da Generalita­t, em resultado da maioria parlamenta­r do bloco secessioni­sta. O presidente destituído vai realizar hoje a mensagem de fim de ano. Sem televisões a transmitir, o discurso deve ser difundido através das redes sociais.

“É absurdo querer ser presidente de uma comunidade e estar no estrangeir­o. Não se trata de uma questão jurídica, é algo que não tem o mínimo sentido. Imagine-se que eu estava em Lisboa...”

MARIANO RAJOY

PRIMEIRO-MINISTRO DE ESPANHA “Não é legítimo que uma presidente da Assembleia tenha crimes imputados. Junqueras, Puigdemont e Forcadell estão inabilitad­os politicame­nte”

ALBERT RIVERA

PRESIDENTE DO CIUDADANOS

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