2018, os desafios do populismo global continuam
Estados Unidos: o Presidente Trump enfrenta as eleições intercalares em novembro (em que estão em jogo os 435 lugares da Câmara e um terço do Senado). Partia com vantagem uma vez que o terço do Senado em jogo corresponde aos senadores eleitos em 2012, na reeleição de Obama, um resultado difícil de igualar e repetir pelos Democratas. Mas a derrota recente em Alabama, com a insistência num candidato manchado por um escândalo sexual, pode ter comprometido a maioria republicana no Senado depois de novembro (neste momento, está 51-49 a favor dos Republicanos). Na Câmara, apenas uma transferência de cerca de 25 lugares poderá mudar alguma coisa e, dada a geografia eleitoral, também parece difícil para os Democratas. A situação económica projeta-se positiva, aliás na continuidade da expansão já iniciada com Obama, enquanto a reforma fiscal deixará dinheiro nos bolsos da classe média (evidentemente que a dita reforma ajuda mais os ricos do que os pobres). Os Democratas muito dificilmente conseguirão uma liderança forte até lá. Contudo, mesmo que Trump não perca o Congresso, a disfuncionalidade da sua administração continuará, pois é já a sua imagem de marca.
Europa: a Alemanha continua sem governo, mas tudo indica uma Grande Coligação, terceira edição. Parece-me que poderá ser mesmo o fim do SPD e abre-se a possibilidade de um “sorpasso” pelo Linke ou pelos Verdes em próximas eleições. Haverá eleições em Itália que podem abrir a mais confusão, dependendo do resultado do M5S (lidera as sondagens) que aposta num jovem de 31 anos, Di Maio. O movimento das democracias iliberais vai-se reforçando com Hungria, Polónia, República Checa e veremos se a Eslováquia em 2018. Neste aspeto, a União Europeia pouco ou nada poderá fazer.
Brexit: o processo de saída do Reino Unido já está inevitavelmente a desenhar-se. Mas, surpreendentemente, as suas consequências económicas e políticas são ainda controversas e pouco transparentes. O governo minoritário de Theresa May continuará a enfrentar problemas domésticos complexos, mas sem coragem para repetir eleições antecipadas que provavelmente perderia para Corbyn (que lidera as sondagens consistentemente). Contudo, havendo eleições europeias em maio de 2019, supõe-se que tudo esteja definido bem antes dessa data. O destino dos 73 lugares britânicos poderá levantar questões interessantes como a introdução de um círculo supranacional. Qualquer novo referendo terá de ocorrer lá para o segundo semestre de 2018. Mas a margem de manobra de Theresa May é, também neste assunto, já muito limitada política e juridicamente.
Brasil: teremos as eleições presidenciais em que tudo depende de Lula. Se for impedido de concorrer pela via judicial, inevitavelmente o Brasil polarizará e haverá uma enorme crise social (mais uma). Se não houver impedimento judicial, Lula será o candidato do PT e tudo parece apontar para Bolsonaro como o candidato alternativo mais competitivo. Nem Marina Silva nem Alckmin chegam aos 10% nas sondagens publicadas. A polarização partidária neste momento, contudo, indica que continuará um Congresso disfuncional, independentemente de quem ganhe as eleições presidenciais.
México: também aqui teremos umas eleições presidenciais complicadas. O PRI, preso do desastre do atual mandato de Peña Nieto, afundado em corrupção e criminalidade, decidiu apostar pela personalidade menos controversa do partido, José Antonio Meade. Em contrapartida, López Obrador apresenta-se pela terceira vez (ficou em segundo lugar em 2006 e em 2012), mas pelo seu novo partido. E os dois tradicionais partidos da oposição, PRD (esquerda) e PAN (direita), juntaram-se numa coligação inédita. Uma corrida a três de resultados imprevisíveis. A relação do México com Trump será inevitavelmente um tema quente da corrida eleitoral.
Catalunha: o desastre continuará. Pela terceira vez desde 2015, os independentistas são minoritários, mas arrogam-se uma legitimidade maioritária. Não passam dos dois milhões de votos (num eleitorado de 5,5 milhões). Os partidos constitucionalistas não se entendem pelo que, na verdade, insistem em ser uma multiplicidade de minorias divergentes, mesmo antagónicas. E Rajoy continuará na sua estratégia – não fazer nada, impedir qualquer reforma constitucional, fugir de eleições antecipadas em busca de qualquer legitimidade perdida. Pelo menos até às eleições locais de maio de 2019.
Portugal: 2018 será o ano de transição para as eleições legislativas e europeias de 2019. O PS trabalhará para a maioria absoluta, mas penso que a situação económica e orçamental estará longe dos truques de 2009. O PC e o BE precisam de mais episódios como as rendas das energias renováveis para estancar o voto útil à esquerda. Portanto o OE no outono será mesmo decisivo. O PSD terá novo líder. Se for Santana Lopes, teremos muitas peripécias curiosas e bom humor. O CDS tentará continuar a crescer à custa do PSD. E os portugueses estarão em 2018 como em 2017 – suspensos no tempo!
O PC e o BE precisam de mais episódios como as rendas das energias renováveis para estancar o voto útil à esquerda. Portanto o OE no outono será mesmo decisivo