Diário de Notícias

Exportaçõe­s. Entre o risco catalão e as medidas prometidas por Trump

O turismo é a maior fonte de receita das exportaçõe­s portuguesa­s, valendo já 19% da faturação total. É preciso recuperar o investimen­to que faltou nos últimos anos e dar mais fôlego à indústria. Catalunha e brexit são ameaças

- LUÍS REIS RIBEIRO

Mais 123 milhões de euros em petróleo para os Estados Unidos, mais 118 milhões de euros em circuitos eletrónico­s para Taiwan, vendas de carros à China que aumentaram 110 milhões e mais 109 milhões de euros em crude para o Brasil.

Estes foram os quatro contributo­s mais valiosos (cruzando todos os mercados com a lista de todos os produtos exportados por Portugal) para o cresciment­o das exportaçõe­s de mercadoria­s em janeiro-outubro de 2017 em relação a igual período de 2016.

No total, as exportaçõe­s de bens engordaram 4,5 mil milhões de euros até outubro (últimos dados disponívei­s), um avanço homólogo de quase 11%. Nestas contas ainda não está o turismo (um serviço), a estrela em ascensão do comércio internacio­nal português.

Estes dados finos, disponibil­izados pela AICEP – Agência para o Investimen­to e Comércio Externo de Portugal, mostram a tentativa continuada das empresas portuguesa­s em diversific­ar mercados, de reduzir riscos; de não depender só de um cliente ou dois.

Embora a conjuntura europeia esteja hoje numa fase relativame­nte favorável, com o Banco Central Europeu a ajudar com dinheiro barato e juros zero, os riscos existem.

Muitas economias vão abrandar, há a incógnita do impacto do brexit e a crise latente na Catalunha. Tendo em conta o peso nas exportaçõe­s portuguesa­s, os riscos que podem baralhar as contas são os de Espanha, Marrocos, Alemanha, Holanda, Itália, mostram cálculos do DN/Dinheiro Vivo.

Em contrapart­ida, há economias que estão a ganhar força e, tendo em conta a sua relevância nas vendas nacionais, aparecem na lista das mais promissora­s de 2018 em termos de expansão de mercado: França, Brasil, EUA, Emirados Árabes Unidos são alguns desses nomes.

As últimas projeções para a economia, realizadas pelo Banco de Portugal, refletem um abranda- mento das exportaçõe­s totais. Terão avançado uns importante­s 7,7% em 2017, mas neste ano que agora começa devem subir apenas 6,5%. A economia como um todo vai atrás. Estava a crescer 2,6%, mas em 2018 fica-se pelos 2,3%.

Um estudo recente do Banco de Portugal refere alguns dos riscos mais salientes para a atividade económica em 2018. “A crise política na Catalunha constitui um risco descendent­e relevante para a economia portuguesa, atendendo ao peso de Espanha nas relações económicas internacio­nais de Portugal e a eventuais repercussõ­es a nível europeu”, dizem os economista­s do banco central. Espanha “é o principal destino das exportaçõe­s totais, com uma quota de 20,9%”, completa a AICEP. Nas mercadoria­s, a Espanha vale ainda mais: 25%, adianta o Instituto Nacional de Estatístic­a. É o maior comprador de peças e acessórios de automóveis. Em relação ao número total de turistas que visitam o país a mesma coisa: tem um peso de 25%, o maior.

Para o Banco de Portugal há outro risco negativo relevante. “A possibilid­ade de as economias avançadas adotarem medidas protecioni­stas no médio prazo, em que se inclui a hipótese de um impacto mais adverso do processo de saída do Reino Unido da União Europeia.”

O Reino Unido é o quarto maior parceiro comercial de Portugal, a seguir a Espanha, França e Alemanha. Compra 10% das exportaçõe­s portuguesa­s e por ano envia mais de três milhões de turistas, sendo o segundo maior emissor de receita turística a seguir a Espanha. A maior exportação portuguesa para as ilhas britânicas são carros.

Depois, há a China. Grande investidor e apreciador crescente de produção portuguesa (compra sobretudo automóveis), o gigante asiático é já 11.º cliente de Portugal, valendo quase tanto como o Brasil. O Banco de Portugal avisa que “não se pode excluir o cenário de um ajustament­o económico mais acentuado em algumas economias de mercado emergentes com ele-

A crise política na Catalunha é um risco relevante para Portugal, tendo em conta o peso de Espanha nas relações económicas Para o Banco de Portugal, há um potencial positivo nas medidas de política orçamental anunciadas nos EUA

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Turismo sozinho vale muito, mas exportaçõe­s de mercadoria­s ainda representa­m dois terços do total das vendas ao exterior. Máquinas lideram

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