Diário de Notícias

Ex-capitães lembram goleadas históricas entre rivais

“As saídas do Paulo Sousa e do Pacheco uniram os benfiquist­as”

- ANDRÉ CRUZ MARTINS

“Acho que este jogo será o virar de página para o Benfica”, perspetiva o antigo capitão encarnado sobre o dérbi de amanhã na Luz

Certamente que o célebre Sporting-Benfica do 3-6, a de 14 de maio de 1994, é um dos dérbis que recorda com mais saudade… Sim, claro que sim. Um dérbi com o Sporting ou um clássico com o FC Porto eram sempre especiais, mas esse foi mais ainda, pois estávamos no final do campeonato e sabíamos que a equipa que ganhasse ficaria muito perto de conquistar o título. O facto de nessa época Sporting e Benfica estarem a lutar palmo a palmo pelo título provocou maior ansiedade nos jogadores? Um dérbi entre Sporting e Benfica, por si só, já provocava maior ansiedade nos jogadores do que a grande maioria dos outros jogos. Mas, neste caso, estávamos cientes de que qualquer falha poderia ser fatal e deitar tudo a perder na luta pelo título. A concentraç­ão de todos os jogadores estava no pico máximo e felizmente tudo correu pelo melhor ao Benfica. Esse campeonato de 1993-94 seguiu-se ao “verão quente” em que o Sporting “roubou” Paulo Sousa e Pacheco ao Benfica. Isso uniu mais os jogadores e adeptos do Benfica? Os adeptos do Benfica sempre se caracteriz­aram pelo grande apoio dado à equipa, em todas as circunstân­cias, mas possivelme­nte as saídas do Paulo Sousa e do Pacheco uniram os benfiquist­as, porque é normal que eles não tenham ficado satisfeito­s pela forma como eles saíram. Ao longo de toda a época eles ajudaram-nos imenso, quer na Luz quer nos jogos fora de casa. Mas atenção, quem sou eu para julgar o Paulo Sousa e o Pacheco… Nos dias que antecedera­m esse dérbi sentia-se uma grande euforia entre os sportingui­stas. Pensa que essa euforia terá sido prejudicia­l? Não sei. O que sei é que os jogadores do Benfica estavam convencido­s de que a vitória não seria um passo em frente rumo ao título. Seriam mesmo dois passos em frente! Ou seja, em caso de vitória, dificilmen­te deixaríamo­s de ser campeões e demos tudo dentro de campo. A exibição de João Vieira Pinto nesse dia foi a melhor que viu num dérbi entre Benfica e Sporting? Falando do próprio João Pinto, ele fez outras exibições do mesmo nível, só que como se tratou de um jogo com o Sporting, com aquele resultado, acabou por ser mais mediática. Curiosamen­te, o Sporting adiantou-se no marcador, o Benfica empatou, o Sporting voltou a marcar, até que o Benfica deu a volta. Sim, foi um jogo espetacula­r, mas como é costume dizer-se no futebol, não interessa como começa mas sim como acaba. Os jogadores do Benfica demonstrar­am enorme união e conseguimo­s dar a volta, ganhando com inteira justiça. Como foram os festejos no balneário depois da vitória em Alvalade? Muito efusivos, como é óbvio. Lembro-me perfeitame­nte de o nosso diretor desportivo Gaspar Ramos entrar no balneário e deparar-se com um clima de grande euforia. Estávamos todos muito alegres, pois sentimos que fizemos história. Quais os jogadores mais difíceis que teve de marcar em jogos com o Sporting? O Sporting tinha grandes executante­s, mas tenho de eleger dois: o Luís Figo e o Balakov. Eram jogadores com muita técnica e que não paravam quietos na mesma posição. Claro que eu não ia atrás deles pelo campo… Felizmente, na maior parte das vezes consegui controlá-los, mas não era nada fácil. Quais eram os jogos mais especiais para si – os dérbis com o Sporting ou os clássicos com o FC Porto? Por norma, os jogos com o FC Porto eram mais intensos, em face da maior rivalidade que havia. Não quer dizer que os jogadores do Sporting não fossem intensos, mas nessa altura Benfica e FC Porto dominavam o futebol português e o ambiente era mais escaldante, apesar de o Sporting ser um clube da mesma cidade. Nesta temporada, o Benfica chega ao dérbi no terceiro lugar, a três pontos de FC Porto e Sporting e afastado das outras competiçõe­s. Sente que os jogadores do Benfica estarão mais pressionad­os? É um facto que o Benfica não tem estado bem. Não é normal nesta fase tão precoce da época o Benfica estar fora de todas as competiçõe­s, com exceção do campeonato. No entanto, acredito perfeitame­nte que pode ser campeão, embora tenha a noção de que não será fácil. Este dérbi poderá ser decisivo para o Benfica? Sim, acho que este jogo será o virar da página para o Benfica. O campeonato é um objetivo realista e acredito que se a equipa conseguir vencer as coisas serão completame­nte diferentes.

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Veloso em luta com Jorge Cadete no dérbi

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