Daniel Proença de Carvalho, Pedro Filipe Soares e Ferreira Fernandes
Mais do que nunca precisamos de um PSD renovado, aberto à sociedade não militante em partidos, com alguma base ideológica e uma estratégia capaz de nos oferecer uma alternativa ao atual governo. Dir-se-á que não vai ser fácil a tarefa do presidente do PSD que vai ser eleito no próximo dia 13, já que é de prever a continuação da boa performance da economia e das finanças públicas neste ano que agora começa.
Mas, por outro lado, são evidentes as contradições na maioria que atualmente nos governa, que não garantem – muito pelo contrário! – uma política de reformas que reforcem a competitividade das nossas empresas, de modo a permitir um crescimento forte que prossiga a convergência com a Europa a que pertencemos.
Daí a absoluta necessidade de um PSD dotado de uma nova liderança que recupere a confiança dos eleitores perdidos e conquiste as novas gerações que não se reveem na esquerda ou estão desinteressados ou desiludidos com a política.
Para que isso aconteça, o PSD tem de assumir uma orientação ideológica distinta da prosseguida pela atual maioria. Terá de nos dizer que papel reserva para o Estado na Saúde, na Educação, na Segurança Social: quer aprofundar a não discriminação e a competição entre o público e o privado nestes setores, ou, como pretendem os partidos à esquerda, reservar essas áreas para o Estado, pondo termo, por exemplo, às parcerias público-privadas na saúde, como defendem os partidos à esquerda do PS e algumas influentes personalidades do PS?
No que toca à política orçamental, admitindo como pressuposto a continuação da redução do défice, este objetivo deve fazer-se mais pelo lado da redução da despesa ou do aumento da receita? O partido está satisfeito com a situação da Justiça, como parece estar a atual maioria, ou tem reformas para melhorar o nível de confiança dos cidadãos no sistema?
E quanto à reforma da Administração, vamos prosseguir a descentralização ou enveredar pela aventura da regionalização?
Tomar posição de princípio sobre estas questões não basta, é necessário que o comportamento do partido seja coerente com a sua orienta- ção ideológica, não repetindo alianças espúrias com as esquerdas do PS, com o objetivo tacanho de combater este adversário.
Outro aspeto que me parece importante referir tem que ver com a metodologia e a linguagem do combate político.
Creio que os portugueses não serão recetivos à violência verbal e ao insulto próprios de forças extremistas. Têm dado constante exemplo de preferirem a moderação; a enorme popularidade do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa mostra que tipo de político tem a preferência dos portugueses. Ou seja, não convém confundir a maioria dos cidadãos com os que destilam as suas frustrações nas redes sociais e nos tabloides.
Acho que o PSD deve assumir-se como partido responsável, com vocação de poder, disponível para servir o interesse dos portugueses, com flexibilidade em função dos resultados eleitorais, sem assumir posições rígidas que inviabilizem soluções no futuro.
Vamos precisar de consensos alargados nas opções a tomar num mundo em acelerada transformação. Flexibilidade é a palavra-chave para ter sucesso. Os partidos que partilham um património comum de ideias – a nossa pertença à União Europeia e à Aliança Atlântica, a forte ligação aos países que falam a nossa língua, o modelo de democracia liberal e economia de mercado que a larga maioria dos portugueses sufragou – esses partidos têm o dever de cooperar para que prosperemos, com justiça social.
Vamos precisar de consensos alargados nas opções a tomar num mundo em acelerada transformação. Flexibilidade é a palavra-chave para ter sucesso