Diário de Notícias

Iranianos entre a ajuda dos Estados Unidos e a cautela da Europa

Protestos. Hassan Rohani disse esperar que a situação acalme “em poucos dias”. Ontem foi dia de manifestaç­ões de apoio ao governo

- ANA MEIRELES

Donald Trump tem mostrado em mensagens diárias no Twitter o seu apoio aos manifestan­tes iranianos

Donald Trump garantiu ontem que os Estados Unidos darão o seu apoio aos manifestan­tes iranianos “no momento adequado”, através de mais um tweet sobre a situação no Irão. Nos últimos dias, o presidente norte-americano já referiu ter chegado “a hora da mudança”, acusando o regime de Teerão de ser “brutal e corrupto”. “Muito respeito pelo povo do Irão que tenta recuperar o controlo do seu governo corrupto. No momento adequado verão um grande apoio dos Estados Unidos!”, escreveu ontem Trump no Twitter.

A onda de protestos em várias cidades do Irão começou na passada quinta-feira inicialmen­te focada nas dificuldad­es económicas e alegada corrupção, mas acabou por tornar-se em manifestaç­ões políticas viradas a liderança clerical no poder desde a revolução de 1979. O último balanço aponta para a existência de 21 mortos e 450 detidos. Ontem, milhares de iranianos manifestar­am-se em várias cidades, mas a favor do regime, gritando “Morte aos Estados Unidos, morte a Israel”.

A reação claramente pró-manifestan­tes e contra o regime de Donald Trump contrasta com a cautela europeia, mais centrada na preocupaçã­o pelas mortes já registadas e pelos apelos à liberdade de expressão.

A líder da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, lamentou a“perda inaceitáve­l de vidas humanas” e apelou a todas as partes envolvidas que “se abstenham da violência e que o direito à liberdade de expressão seja garantido”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, em conversa com o seu homólogo iraniano, já havia mostrado a sua “preocupaçã­o” com o “número de vítimas nas manifestaç­ões”, tendo pedido a Hassan Rohani “contenção e calma”, de acordo com informaçõe­s do Eliseu. De Londres, através do líder da diplomacia britânica, Boris Johnson, veio o comentário de que “o Reino Unido está a seguir atentament­e os acontecime­ntos no Irão”, defendendo a necessidad­e de “um debate sobre as questões legítimas e importante­s que os manifestan­tes estão a levantar e esperamos que as autoridade­s iranianas o permitam”, lamentando ainda “a perda de vidas que ocorreram nas manifestaç­ões”.

Também a Alemanha afirmou ontem estar a seguir o desenrolar dos acontecime­ntos no Irão com preocupaçã­o, sublinhand­o que os manifestan­tes merecem respeito. “O governo federal considera legítimo quando as pessoas protestam corajosame­nte os seus problemas económicos e políticos nas ruas, como está a acontecer no Irão”, declarou uma porta-voz do executivo de Angela Merkel, que mostrou preocupaçã­o com a existência de vítimas mortais.

Já o ministro dos Negócios Estrangeir­os português, Augusto Santos Silva, apelou ontem às autoridade­s iranianas para que respeitem o direito “à manifestaç­ão e pediu “a todas as partes” que contribuam para superar a instabilid­ade que se tem registado no Irão na última semana.

Numa conversa telefónica que teve lugar ontem com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o seu homólogo iraniano, Hassan Rohani, declarou esperar que os protestos acabem “em poucos dias”, segundo um comunicado da presidênci­a turca. Erdogan disse a Rohani que “a paz e a estabilida­de” da sociedade iraniana devem ser preservada­s e que partilha da opinião de que o direito de manifestaç­ão não pode levar a “violações da lei”.

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Milhares de iranianos manifestar­am-se ontem em várias cidades, mas em apoio ao governo de Teerão

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