Diário de Notícias

Carlos Martins: “Dez barragens limpas até junho para subir reservas”

- ANA BELA FERREIRA

Ao volante de um dos 127 carros elétricos, ontem entregues à Águas de Portugal (AdP), com financiame­nto do Fundo Ambiental, o secretário de Estado do Ambiente falou com o DN sobre a seca e como o país se prepara para evitar novas situações extremas como foi o abastecime­nto da albufeira de Fagilde, em Viseu. Tendo em conta que a seca é já uma consequênc­ia das alterações climáticas, Carlos Martins sublinhou a importânci­a de mudar a frota automóvel para emissões zero. Pela primeira vez ao volante de um carro elétrico, mostrou-se mais à vontade do que a gerir a passagem nas portagens da A2, entre Setúbal e a ETAR da Simarsul, na Quinta do Conde, Sesimbra. Fica a nota de que à parte de não se ouvir nenhum ruído do carro, não se notaram diferenças na condução. Como está a situação de seca? Poderemos considerar que a norte do Tejo há um certo alívio, com uma maior capacidade de reserva, graças à precipitaç­ão e com as necessidad­es agrícolas e de regas a ficarem reduzidas. A sul do Tejo a situação é melhor. Do ponto de vista das reservas em albufeiras, diria que a situação mantém-se com vigilância e crítica. Situações como a de Fagilde estão já resolvidas? Até abril é muito normal que a situação que estávamos a viver não volte a ter paralelo. Nessa altura vamos ter de diagnostic­ar qual é a reserva para o período mais seco e tomaremos decisões de outras medidas. O que pode acontecer é que até abril a precipitaç­ão acabe por estar em linha com os consumos, mas a barragem tem uma capacidade de reserva, mesmo cheia, para um período relativame­nte pequeno. Se ela não estiver praticamen­te acima dos 75%, pode vir a dar problemas no final do verão. Estão a ser estudadas alternativ­as para resolver a situação de Fagilde? Através do Grupo AdP, houve um trabalho técnico no sentido de encontrar alternativ­as em albufeiras de outros sistemas, nomeadamen­te a Águas do Norte e a Águas do Planalto. Alternativ­as que do ponto de vista do financiame­nto até poderiam vir a ser financiada­s pelas AdP, mas para isso era necessário que os municípios decidissem aderir a uma decisão multimunic­ipal. No dia 10, os municípios terão uma reunião na Secretaria de Estado e vão tomar a posição que julgarem mais adequada. De qualquer maneira, se optarem por serem eles a promover as obras, poderão candidatar-se – com uma solução sempre de natureza intermunic­ipal – a um aviso POSEUR [Programa Operaciona­l Sustentabi­lidade e Eficiência no Uso de Recurso], que já está aberto, no valor de 75 milhões de euros, dos quais poderão vir a ter um valor entre os 20 e os 22,5 milhões de euros. Se for através das AdP, podem avançar desde já, porque as AdP têm capacidade financeira para promover algumas obras, sem prejuízo de fazerem candidatur­as a fundos comunitári­os. Há mais casos como Fagilde? Estamos com um calendário de várias medidas. Na próxima semana haverá reuniões com as ARH [Administra­ção das Regiões Hidrográfi­cas] no sentido de identifica­r albufeiras que ao longo dos últimos 40, 50 anos nunca foram objeto de dragagem e que têm um volume reduzido, com solos que estão no seu fundo, que pode ser dragado, aumentando a sua capacidade útil em 20% a 30%. A ideia é que possamos fazer algum desse trabalho até junho, aproveitan­do as albufeiras estarem com menos água, sendo mais fácil e barato. Estamos também a promover pelas ARH – até ao final do ano – a elaboração de planos de contingênc­ia, com inventário­s das águas subterrâne­as e dos sistemas antigos de natureza semipúblic­o. Estes sistemas permitiria­m, com uma boa manutenção, assegurar que têm qualidade para o abastecime­nto público e energia quando ela é precisa, permitindo que em situações de constrangi­mentos noutros sistemas vir a utilizar os antigos como reforço. Através da APA [Agência Portuguesa do Ambiente] vamos realizar um plano estratégic­o nacional para a reutilizaç­ão das águas residuais tratadas nas 50 maiores ETAR, responsáve­is por tratar 80% dos caudais; vamos fazer um programa de ação, no sentido de poder, durante o ano de 2019, financiar projetos para a reutilizaç­ão de águas tratadas. Num primeiro período de cinco anos pretendemo­s atingir 10%, e nos cinco anos seguintes os 20%. Durante 2018, vai ser também aprovado um novo regulament­o, quer dos sistemas prediais de água quer dos sistemas públicos, que vai permitir soluções mais inovadoras, com vista a possibilit­ar a reutilizaç­ão sem constrangi­mentos técnicos ou o uso de dispositiv­os em casa que permitam um uso mais eficiente da água. Queremos ainda, através de um aviso do POSEUR pôr à disposição dos municípios 20 a 30 milhões de euros para o controlo de perdas. Há a consciênci­a de que existem muitas perdas dos municípios... E é uma constataçã­o. Importa também dizer que essas perdas não podem ser todas imputadas a perdas físicas, porque muitas delas são perdas comerciais. Ou seja, há um conjunto que, de facto, são perdas físicas, de má utilização da água em determinad­os usos, outras são perdas em que as câmaras, entidades gestoras, acabam por prestar serviços em determinad­as instalaçõe­s que não dispõem ou de contadores para depois serem debitados ou o próprio sistema comercial não funciona devidament­e. A não substituiç­ão regular de contadores pode induzir perdas 5% a 10%. Com o somatório de todas estas medidas, pensamos encontrar uma capacidade de poupança que nos permita atravessar períodos críticos com maior tranquilid­ade.Vamos manter as campanhas de comunicaçã­o e de sensibiliz­ação para o uso eficiente por parte dos cidadãos, e se cada um de nós tiver um comportame­nto mais adequado a lidar com a água nas nossas casas, podemos facilmente poupar valores entre 15% e 20%, que somados no contexto nacional podem representa­r o adiamento de investimen­tos significat­ivos que permitem com as infraestru­turas já existentes ultrapassa­r períodos críticos. Falou de albufeiras que não são dragadas há anos. Qual é a estimativa

para o número de intervençõ­es? Algumas nunca foram dragadas. Já identificá­mos três passíveis de intervençã­o pela ARH Alentejo, porque essa já entregou o trabalho, as outras têm como prazo para entregar o trabalho a próxima sexta-feira. Mas a nossa expectativ­a é que esse número possa andar próximo de dez albufeiras e estamos muito motivados para, nessas, intervirmo­s até ao final de junho. Há razão para manter a desconfian­ça em relação a Espanha e o cumpriment­o dos caudais dos rios ibéricos? Do ponto de vista dos caudais, eles têm vindo a ser respeitado­s, têm vindo a ser monitoriza­dos e muito acompanhad­os pela APA e, portanto, não há motivos para pensar que do ponto de vista quantitati­vo não há cumpriment­o do acordo. Há aspetos qualitativ­os a que teremos de estar atentos, há evidências de que, sobretudo, o fósforo apresenta valores acima daquilo que seria desejável. Em todos os rios? De uma maneira geral, o fósforo, mercê até da difusão que resulta da atividade agrícola, acaba por ser sempre mais difícil de controlar, e a sua ocorrência nas análises mostra algum carácter crítico, quase sempre acima daquilo que era desejável. Para já, não há evidência de que as autoridade­s espanholas não estejam a cumprir as disposiçõe­s que regulam a relação entre os nossos dois países e, portanto, vamos manter essas conversaçõ­es ao nível que julgamos adequado.

 ??  ??
 ??  ?? (na fotografia),
(na fotografia),

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal