Cientistas criam uma espécie de submarino sonoro para tratar tumores
Produzidas células de bactéria do intestino que podem funcionar como radar
Injetar no corpo de um doente uma bactéria intestinal, produzida em laboratório, com um dispositivo de ultrassom que permita a sua localização, é a nova esperança para o tratamento de algumas doenças, nomeadamente tumores.
Cientistas do Instituto Tecnológico da Califórnia, nos Estados Unidos, produziram pela primeira vez células de bactéria do intestino capazes de dispersar ondas sonoras. Este trabalho foi ontem divulgado e hoje será publicado na revista científica Nature.
Na prática, segundo os cientistas que desenvolveram a técnica de engenharia genética, a bactéria seria uma espécie de submarino equipado com um sonar, aparelho de navegação que funciona como um radar, embora use ultrassons (sons com uma frequência superior à que o ouvido humano pode alcançar) para identificar e localizar objetos submersos. Os autores do trabalho ressalvam, no entanto, que demorará anos para que esta técnica seja usada em humanos.
No estudo, a equipa de cientistas norte-americanos produziu em laboratório a bactéria intestinal Escherichia coli – conhecida como E.coli – , utilizada na terapêutica microbiana, que pôde ser visualizada e localizada no intestino de ratos através de ultrassons.
Na experiência, os investigadores demonstraram que vesículas de gás – estruturas de células – podem ser visualizadas com ultrassom no intestino e em outros tecidos de ratos, de acordo com um comunicado do Instituto Tecnológico da Califórnia.
Um dos desafios do trabalho foi transferir a maquinaria genética envolvida nestas estruturas celulares para a E.coli para que esta pudesse produzir estas vesículas.
Para tal, os cientistas usaram genes isolados de duas outras bactérias, a Aphanizomenon flosaquae, que vive em meios aquáticos, e a Bacillus megaterium, utilizada como inoculante do solo na agricultura e na horticultura.
Os genes das vesículas de gás codificam proteínas que funcionam como tijolos ou guindastes na construção da componente final das vesículas – pequenos “sacos” no interior das células que podem armazenar substâncias.
A E.coli não é estranha ao organismo humano. Habita naturalmente no intestino, compondo a flora intestinal, mas em grandes quantidades pode causar problemas como gastroenterite ou infeção urinária.