Diário de Notícias

A líder do país que proibiu os homens de ganhar mais

Katrín Jakobsdótt­ir, ecologista, de 41 anos, fez uma coligação improvável com conservado­res e centristas para conseguir governar

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Katrín Jakobsdótt­ir, líder do Movimento Esquerda-Verde, numa conferênci­a de imprensa recente

PATRÍCIA VIEGAS A Islândia tornou-se desde o início do ano o primeiro país do mundo a estabelece­r por lei a igualdade salarial entre homens e mulheres. Segundo as novas regras, empresas privadas e agências governamen­tais que tenham mais de 25 funcionári­os passam a ser obrigadas a obter uma certificaç­ão oficial das suas políticas de igualdade salarial de género, pois, caso contrário, serão multadas pelo Estado. O atual governo islandês tem como meta erradicar as desigualda­des salariais no país até 2020. A liderá-lo está uma mulher, Katrín Jakobsdótt­ir, uma ecologista, pacifista e feminista que, em 2016, foi considerad­a a personalid­ade política de maior confiança para os islandeses.

Líder do Movimento Esquerda-Verde desde 2013, chegou ao poder depois de ser nomeada para o cargo pelo presidente da Islândia, Gudni Johannesso­n. Isto apesar de não ter sido o seu partido o vencedor das eleições de outubro (as segundas no espaço de um ano). Nesse escrutínio ficou em terceiro. Após falhar negociaçõe­s com outros partidos de centro-esquerda, Katrín Jakobsdótt­ir, de 41 anos, formou uma coligação improvável com os conservado­res e centristas do Partido da Independên­cia e do Partido Progressis­ta. Apostada em ser construtor­a de consensos, irá certamente precisar de todas as suas qualidades de diálogo. “Queremos liderar um governo que possa criar uma unidade ampla, com uma visão a longo prazo para a sociedade”, disse a ecologista à AFP, ainda antes das eleições.

Natural de Reiquejavi­que, Jakobsdótt­ir é filha de um académico ligado à banca e ao comércio externo e de uma psicóloga. Tem três irmãos e ela é a mais nova. Casada com o professor universitá­rio Gunnar Örn Sigvaldaso­n, têm três filhos com idades compreendi­das entre os 6 e os 12 anos. Aluna brilhante na universida­de, a primeira-ministra islandesa estudou Filologia Islandesa e Francês. Fez depois um master em literatura com tese sobre romance policial. Figura habitual em festivais literários, escreveu depois vários ensaios sobre o estilo nordic noir.

Quando saiu da universida­de, ainda chegou a fazer alguns trabalhos como jornalista, mas depois enveredou pela política. Trabalhou na Câmara de Reiquejavi­que, depois tornou-se deputada, chegando a ministra. Esteve na pasta da Educação, Ciência e Cultura no período entre 2009 e 2013. Isso aconteceu no governo que esteve no poder na Islândia a seguir ao escândalo do colapso financeiro de 2008 e que tinha na sua liderança Jóhanna Sigurdardo­ttir. Abertament­e homossexua­l, esta foi a primeira mulher a chefiar um governo neste país de 340 mil habitantes do Atlântico Norte. Katrín Jakobsdótt­ir é a segunda.

Crítica da NATO, defensora de uma Islândia livre de carvão até ao ano 2040, a primeira-ministra ecologista viu ontem o seu país ser amplamente elogiado por causa da medida adotada face à igualdade salarial. “A Islândia está classifica­da como o país com mais igualdade de género (pelo Fórum Económico Mundial)... claramente leva muito a sério a igualdade de género”, escreveu, no Twitter, a exprimeira-ministra da Nova Zelândia Helen Clark.

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