O mal está no rosto de Barry Keogh
ESTRELA Em O Sacrifício de Um Cervo Sagrado, a verdadeira estrela é o assustador Barry Keogh, o irlandês do momento
O gregoYorgos Lanthimos, cineasta que deixou a sua Grécia para fazer cinema em Inglaterra com aroma a Hollywood, está de volta. Depois da traquinagem desconcertante que era A Lagosta, oferece-nos uma visão muito sua do mito grego de Efigénia. O Sacrifício de Um Cervo Sagrado (premiado em Cannes pelo júri de Pedro Almodóvar: melhor argumento) exibe os seus ares sinistros de forma afiada e orgulhosa. Temos uma família que parece perfeita: Colin Farrell é um cardiologista respeitável e Nicole Kidman a sua exemplar mulher e mãe dos seus dois filhos. O equilíbrio familiar é posto em causa quando um adolescente, filho de um dos pacientes do cardiologista, começa a surgir em cena. Um adolescente com um segredo doentio e que no começo parecia amigável. Às duas por três, ele põe em marcha um plano de vingança que ameaça a sobrevivência da família.
No centro deste thriller mais psicológico do que físico está o adolescente, não obstante a frieza exemplar de Colin Farrell e a tentativa de Nicole Kidman de ser a Nicole Kidman de De Olhos Bem Fechados, de Kubrick. Só que o rapaz não é interpretado por um adolescente mas sim por Barry Keogh, de 25 anos, um dos rostos irlandeses que está a conquistar Hollywood e que foi visto recentemente em Dunquerque, de Christopher Nolan.
Quando o encontramos num terraço do Palais de Cannes, tem um sorriso que o seu vilão mitológico não mostrava. Um sorriso de uma honestidade desarmante, sobretudo quando nos confessa que chegou a ser pugilista quando vivia num dos bairros mais duros de Dublin. O seu ar simples não contrasta com um passado recente de grandes dificuldades, a começar pelo facto de ter ficado órfão muito cedo quando viu a mãe a morrer às garras do vício da heroína. Sobre a personagem, outra confissão: “O realizador não me deu muitas explicações. Não me contou de onde ele vem nem nada disso. Estava tudo no argumento... O Yorgos não gosta de explicações! O homem criou um estilo, um género e uma nova forma de estar dos atores. Sabe, não estava a representar quando estava naquele plateau...Limitei-me a dizer as palavras que estavam escritas no guião. Curiosamente, antes de todo este extremismo estava num outro extremismo, no plateau de Dunquerque...E o Nolan é também um mestre.”
A interpretação de Barry tem um magnetismo difícil de explicar, já era assim em Código de Família, uma aposta de Michael Fassbender, no qual interpretava um bad boy com uma outra “raça” de realismo. Perguntamos-lhe como conseguiu passar aquela vibração de adolescente e responde com uma boutade num cerrado sotaque irlandês: “Não sou eu aquele puto! Mas o meu método é não me envolver em demasia, apenas tento estar presente.”
Em maré de elogios, também não os poupa a Nicole Kidman: “Ela tem uma habilidade especial com os atores mais jovens com quem contracena. Faz-nos esquecer que é uma superestrela! Pôs-me tão à vontade! A dada altura, parei para pensar: estou aqui de cuecas e ao meu lado está a Nicole Kidman, com a breca!” A partir de agora, talvez seja mesmo boa ideia decorar o nome deste jovem ator. Para a semana, nos EUA, estreia-se já um thriller em que é protagonista, American Animals, de Bart Payton. A vida corre-lhe bem...