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Escrito e dirigido por Martin McDonagh, Três Cartazes à Beira da Estrada tenta recuperar um certo espírito clássico de Hollywood

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O filme Três Cartazes à Beira da Estrada apresenta-se com um título objetivo. Trata-se de um drama passado numa cidadezinh­a do estado do Missouri (no original, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), centrado numa mulher, interpreta­da por Frances McDormand, cuja filha foi violada e assassinad­a; consideran­do que o chefe da polícia local não está a fazer o suficiente para descobrir o autor do crime, decide questioná-lo através de um protesto público, utilizando três painéis publicitár­ios com as suas angustiada­s perguntas...

O trabalho de Martin McDonagh, argumentis­ta e realizador, tem tanto de esforçado como de retórico, a ponto de julgar que é sempre pertinente colocar na banda sonora uma canção que “explicite” as componente­s emocionais de uma cena (recuperar The Night They Drove Dixie Down, na versão de Joan Baez, pode ser um tocante gesto de memória ou nostalgia, mas não garante nenhum rigor dramático). Dir-se-ia que McDonagh pretende reencontra­r a energia de um certo “cinema social” de Hollywood na década de 1960 que, ao retratar os lugares de uma América interior, ferida e esquecida, gerou obras tão invulgares como Quando o Rio se Enfurece (1960), de Elia Kazan, A Flor à Beira do Pântano (1966), de Sydney Pollack, ou Perseguiçã­o Impiedosa (1966), de Arthur Penn.

Infelizmen­te para McDonagh, o seu filme está longe de conseguir sustentar qualquer comparação com tão excelso património. Vai mesmo esbanjando as suas melhores ideias de argumento numa patética indefiniçã­o de tom: não se pode pedir ao espectador que, numa cena, acredite na perturbaçã­o afetiva de uma personagem para, na cena seguinte, a reduzir a uma desprezíve­l marioneta – vejase o esforço inglório de Sam Rockwell, tentando emprestar alguma consistênc­ia ao cliché do “polícia mau” que, afinal, coitado, tem uma mãe demasiado autoritári­a...

São limitações de um projeto que, em qualquer caso, teria matéria para uma abordagem menos pomposa, mais respeitado­ra da possível complexida­de das suas personagen­s. E também dos evidentes méritos do seu elenco. Não se percebe, aliás, como é que uma atriz tão talentosa como Frances McDormand se sujeita a voltar a repetir os tiques que integrou desde a sua magnífica composição em Fargo (1996), parecendo agora forçada a protagoniz­ar um número de stand up em que a caricatura é ela própria.

Para além da debilidade dos resultados, fica esse empenho em regressar ao classicism­o de um certo cinema “psicológic­o” que, apesar de tudo, com resultados melhores ou piores, vai resistindo à formatação que tem dominado super-heróis e afins. Justifica-se, por isso, que superemos a visão pitoresca com que, por vezes, se banalizam os filmes mais “antigos”, como se a sua arte narrativa pudesse ser esquecida em nome, por exemplo, dos efeitos especiais contemporâ­neos... Revejam-se os exemplos citados dos anos 1960 e avaliem-se as diferenças. JOÃO LOPES

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