CES 2018 ROBÔS, MÁQUINAS DE COSMÉTICOS E SOLAS INTELIGENTES BRILHAM NA GRANDE FEIRA DA TECNOLOGIA
Feira CES 2018 decorre nesta semana em Las Vegas e vai determinar as tendências tecnológicas para este ano
REPORTAGEM DE ANA RITA GUERRA EM LAS VEGAS
Aumentar o bem-estar das pessoas, colocá-las a fazer exercício. A melhor feira de tecnologia do mundo está “montada” para melhorar a vida familiar
Das ideias mais loucas às inovações que vão transformar o mercado, o futuro apresenta-se nesta semana em Las Vegas no evento mais importante da indústria tecnológica: a CES 2018. As tendências são claras: inteligência artificial, carros conectados, eletrodomésticos inteligentes, realidade aumentada e um grande foco em dispositivos Internet das Coisas para bem-estar, exercício físico e vida familiar.
O robô Buddy, da Blue Frog Robotics, apresenta muitas destas características. “O Buddy move-se sozinho, fala consigo, brinca com as crianças, controla os aparelhos inteligentes em casa e é autónomo”, explica Jean-Michel Mourier, diretor de tecnologia da empresa.
O robô é do tamanho de um cão, com um formato compacto e um ecrã de oito polegadas que apresenta sempre uma cara simpática. Pode ser usado para ver o que se está a passar em casa remotamente e falar com seniores que vivam sozinhos, por exemplo. Há alguns anos, um robô destes custaria vários milhares de euros; mas o Buddy, que vai para o mercado em setembro, estará disponível por 1290 euros – pouco mais do que um aspirador Roomba topo de gama. A ideia é ter aqui um tudo-em-um: assistente virtual, controlo de aparelhos inteligentes em casa, entretenimento para as crianças e monitorização de segurança. A Blue Frog acredita que o mercado está agora no ponto certo: “As pessoas estão dispostas a ter um robô destes em casa.”
Talvez mais difícil de vender, apesar do potencial da ideia, será o o laboratório cosmético da Romy. Trata-se de um aparelho doméstico onde o consumidor irá preparar diariamente os seus próprios cosméticos, adaptados às necessidades e sem conservantes. “A aplicação examina a sua informação, desde a poluição na cidade onde vive até aos desportos que pratica, e diz-lhes que ingredientes precisa de usar”, adianta Morgan Acas, presidente da empresa. Esta análise via smartphone é o primeiro passo. Uma vez determinados os ingredientes, o utilizador coloca as cápsulas na máquina, ao estilo café expresso, e em menos de dez segundos tem um sérum (um tipo de líquido para a pele) acabado de fazer para usar na cara. “Trabalhamos com cientistas e dermatologistas. São cinco anos de investigação e nove patentes já conseguidas”, afirma Acas. A empresa disponibiliza dez ingredientes ativos, tais como extrato de moringa, e pretende abrir a primeira loja de retalho ainda neste ano, em Paris. A máquina vai custar cerca de 800 euros e as caixas com dez cápsulas serão dez a 15 euros. “É premium, mas não é um luxo exclusivo.”
Quando estiver no mercado, a máquina da Romy vai ligar-se à CareOS, uma espécie de sistema operativo para beleza e bem-estar. O protótipo concebido pela empresa, que foi fundada apenas em 2017, é uma caixa ao estilo Apple TV que se liga a um espelho inteligente e a outro tipo de dispositivos de bem-estar – tal como o minilaboratório de cosméticos. Chloé Szulzinger, diretora de comunicação, explica o conceito de uma forma engraçada: “Conecta todos os aparelhos e serviços para uma experiência melhorada na casa de banho.”
A intenção é que as casas de banho do futuro tenham esta interface inteligente, que se controla por gestos mas sem tocar no espelho. “Serve para monitorizar indicadores de saúde e de beleza”, acrescenta Chloé, referindo que é possível seguir o consumo de água, analisar a cor e a composição do cabelo e até fazer scan de um produto de maquilhagem para ver um tutorial de aplicação ali mesmo no espelho. A CareOS tem parcerias com 12 empresas, entre as quais a Tefal, para balanças conectadas e uma produtora de óleos essenciais para o banho. O sistema vai funcionar também em tablets e smartphones. A empresa pretende vendê-lo tanto a salões de beleza e hotéis como a consumidores finais, apontando para um lançamento na segunda metade do ano. E o preço? Algumas centenas de euros para um espelho mais pequeno, mas nada está decidido.
O que ainda está longe da comercialização mas já tem 200 mil compradores registados é o FoldiMate, um robô que dobra rouba. “Estamos a tentar gerir a procura”, indica Ofir Gattenyo, diretora de marketing. O preço rondará os 900 euros e a máquina, apesar de ter um tamanho considerável, está a atrair tremenda atenção no mercado de consumo. As demonstrações feitas na CES explicam porquê: trabalha de forma rápida e silenciosa, ideal para uma família numerosa. Do estranho ao útil Já ouviu falar de airbags para proteger ancas? É o que oferece a Helite com o Hip’Air. O produto parece uma bolsa de cintura e liga-se a uma aplicação, que analisa movimento, deteta quedas e aciona o airbag antes de a pessoa bater no chão. Na CES, as demos foram feitas por pessoas jovens, mas o alvo deste produto é a população sénior, mais vulnerável a quedas que partem os ossos da anca. O preço é elevado, 600 euros, mas o produto – que vem em cores fluorescentes – é reutilizável.
E no caso de querer um sofá que controla as luzes, carrega o smartphone por indução e tem comando embutido, a Miliboo tem a resposta. É o “primeiro sofá inteligente do mercado”. O preço não deve ser baixo, mas a ideia pode captar interes-
se; afinal, grande parte da vida familiar é passada precisamente no sofá da sala, com dois ou três gadgets na mão e o televisor ligado.
Sapatilhas com tecnologia e sapatos conectados não são novidade, mas a proposta da Zhor Tech é. A empresa criou uma palmilha de segurança destinada a trabalhadores cujos movimentos podem ter impacto na saúde, por exemplo em construção ou outros trabalhos de campo. “Conseguimos detetar qualquer tipo de postura, e isso ajudará as fábricas a entenderem porque é que os trabalhadores têm dores nos joelhos, nas costas, problemas nos tornozelos”, afirma Karim 1.Uma das primeiras invenções divulgadas na CES 2018 é um airbag para a cintura. É uma espécie de cinto que abre em caso de queda do utilizador e assim amortiza o impacto do choque 2.O sistema Roomy é um minilaboratório de cosméticos que permite que se faça o seu próprio produto de tratamento de pele 3. O robô Buddy pode ser utilizado como companhia para quem está em casa 4. As palmilhas da Zhor Tech têm um sistema que permite perceber o impacto na saúde dos movimentos de quem as utiliza 5. A caixa da LaVie tem um sistema de luz que remove os pesticidas e o cloro da água, mantendo os elementos minerais Oumnia, presidente da Zhor Tech. “Usamos inteligência artificial e também detetamos níveis de fadiga, vibração, tempo de exposição.” Se um trabalhador escorregar, o sistema alerta o patrão do perigo. A palmilha com sensores vai para o mercado em setembro, por 149 dólares, e a fabricante está a negociar com uma marca portuguesa de calçado profissional para licenciar o produto. A Caterpillar, por exemplo, já fechou contrato. A ideia é prevenir problemas de saúde, que serão muito mais caros do que investir em calçado inteligente, e promover a sensação de bem-estar dos trabalhadores.