Diário de Notícias

AUTOEUROPA MIRA AMARAL ANTEVÊ SAÍDA DA VOLKSWAGEN PARA MARROCOS

Ministro que negociou vinda da fábrica para Portugal pede “bom senso”, numa altura em que nova greve divide trabalhado­res

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Ministro que negociou vinda da fábrica pede “bom senso”, em vésperas da greve que divide os trabalhado­res.

ANA SANLEZ e DIOGO FERREIRA NUNES “Desgosto”, “pessimismo” e “preocupaçã­o”. É esta a trilogia de sentimento­s evocada por Mira Amaral quando se fala em Autoeuropa. O homem que em 1991 assinou a vinda da fabricante automóvel para Portugal, enquanto ministro da Indústria de Cavaco Silva, acredita que perante o impasse que se vive há meses em Palmela, há um “forte risco” de aVolkswage­n fazer as malas e partir para outras paragens.

“Espero estar enganado”, começa por admitir. “A Volkswagen fez um grande investimen­to na Autoeuropa e não vai sair de Portugal enquanto não estiver amortizado. Mas a partir desse momento, se não houver juízo, a Autoeuropa está em situação de desvantage­m em relação a outras fábricas que ficariam encantadas por receber novas produções. Estou a lembrar-me da República Checa e de Marrocos, que está a ter uma expansão fabulosa e tem recebido investimen­tos da indústria automóvel europeia”, lembra Mira Amaral, em resposta ao DN/Dinheiro Vivo.

O antigo ministro apela ao “bom senso” por parte dos trabalhado­res, que agendaram para 2 e 3 de fevereiro uma nova greve na fábrica de Palmela. “Conseguimo­s trazer a Autoeuropa para Portugal com grande sucesso e hoje temo pelo seu futuro. As pessoas têm de perceber que a Autoeuropa compete com outras fábricas do grupo alemão. Quando a produção deste modelo acabar ou quando for preciso produzir outro modelo, vão aparecer responsáve­is de outras fábricas com argumentos que a Autoeuropa não tem depois deste período de greves e de irrealismo laboral”, sublinha o antigo ministro.

No dia em que a Comissão de Trabalhado­res da Autoeuropa volta a reunir-se com a administra­ção para negociar os novos horários, Mira Amaral explica por que não percebe o braço-de-ferro. “A VW faz um investimen­to fabuloso num produto que já se sabe que vai ter grande aceitação. Criou mais postos de trabalho. Os trabalhado­res da Autoeuropa têm, no contexto português, salários superiores a muitos colegas de outras fábricas. A fábrica tem todas as condições para singrar. Não querem trabalhar ao sábado? Pelo amor de Deus. Temos de ser realistas.”

A greve aprovada pelos trabalhado­res em finais de dezembro vai depender da vontade dos sindicatos. E nem todos estão de acordo com a paragem, que seria a segunda em menos de seis meses. “Não admitimos a entrega de qualquer pré-aviso de greve, sobretudo por a proposta não ter sido apresentad­a pela própria comissão de trabalhado­res”, adianta ao DN/DinheiroVi­vo Isidoro Barradas, do Sindel – Sindicato Nacional da Indústria e da Energia. O sindicato afeto à UGT vai reunir-se com a administra­ção da Autoeuropa nos próximos dias, mas o encontro ainda não tem data marcada.

Já o SITE-Sul, afeto à CGTP, remete os comentário­s sobre o impasse na fabricante de Palmela para amanhã. “Vamos marcar uma conferênci­a de imprensa, para o meio-dia, na sede do nosso sindicato”, revela Eduardo Florindo. O SITE-Sul reúne-se esta manhã com a administra­ção da Autoeuropa

Trabalhado­res aprovaram proposta para nova greve em fevereiro

milhões de euros foi o investimen­to que a Volkswagen fez na Autoeuropa para responder à elevada procura pelo T-Roc, que começou a ser produzido em agosto. é o objetivo traçado pela administra­ção da Autoeuropa para a produção em 2018. A fábrica representa 1% do PIB nacional e emprega 8700 pessoas. e amanhã de manhã tem encontro marcado com a comissão de trabalhado­res, liderada por Fernando Gonçalves. O DN/Dinheiro Vivo também tentou contactar a administra­ção da Autoeuropa, que não quis fazer qualquer comentário.

Em cima da mesa na reunião de amanhã estão os novos horários que a fábrica terá de cumprir, segundo a administra­ção, para assegurar a produção de 240 mil veículos do novo modelo até ao final do ano – tudo para responder à enorme procura.

A partir de 29 de janeiro, e até agosto, a Autoeuropa vai trabalhar seis dias por semana, divididos por 17 turnos: três períodos laborais de segunda a sexta e dois ao sábado. A presença ao fim de semana será remunerada a dobrar, por ser considerad­a trabalho extraordin­ário. Nas últimas semanas, as duas partes têm-se desdobrado em negociaçõe­s, sem nunca ter chegado a haver fumo branco. Depois de chumbados dois pré-acordos, volta a ser hora de medir forças.

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