Diário de Notícias

Morreu Rui Pena, “homem sábio e sensato” e “cidadão empenhado”

Antigo dirigente e ministro do CDS também esteve num governo PS. Era uma das vozes respeitada­s no Direito Administra­tivo

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ÓBITO “Um verdadeiro democrata-cristão, um homem sábio e sensato”, “eminente advogado”, com “nobreza de carácter” e um percurso de “cidadão empenhado”, “um grande amigo”, “jurista ilustre” e “aluno brilhante”. Na hora da sua morte, Rui Pena foi assim elogiado por antigos companheir­os da política, do CDS ao PS.

Rui Rodrigues Pena, de 78 anos, era advogado, sócio fundador da CMS Rui Pena & Arnaut, o escritório de advogados que ontem divulgou a morte do antigo ministro da Reforma Administra­tiva (1978), pelo CDS, no governo de coligação com o PS, e da Defesa Nacional (2000-2002), no executivo socialista de António Guterres.

Estas duas referência­s biográfica­s explicam também a transversa­lidade de quem saudou a sua memória. A presidente do CDS, Assunção Cristas, apontou numa nota escrita enviada à Lusa que a morte de Rui Pena significa a “perda profunda de um verdadeiro democrata-cristão, um homem sábio e sensato, dedicado a Portugal e aos princípios éticos”, “um político com um grande sentido de Estado e um maior ainda sentido humanista”.

Nascido em Torres Novas, em 25 de dezembro de 1939, formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa e chegou à política no CDS, após o 25 de Abril de 1974. “Foi ministro da Reforma Administra­tiva no governo PS-CDS, em 1978, e no governo do PS chefiado por António Guterres foi ministro da Defesa”, recordou Diogo Freitas do Amaral, antigo Rui Pena foi ministro pelo CDS

num governo com o PS e mais tarde num executivo PS líder centrista e que mais tarde também esteve num governo do PS, o primeiro de José Sócrates. “Em ambos os cargos elaborou trabalhos legislativ­os de grande valor, que infelizmen­te ainda não foram publicados. Espero que o PS ajude a fazê-lo”, disse à Lusa Freitas do Amaral.

Do lado socialista, o primeiro-ministro, António Costa, fez saber que recebeu a notícia “com profunda tristeza”. Numa nota enviada à agência Lusa, António Costa recordou o “jurista ilustre, cidadão ativo e politicame­nte empenhado, em especial no período fundador da democracia portuguesa, que serviu como deputado entre 1976 e 1983 e ministro nos II e XIV governos constituci­onais”.

Rui Pena cofundou, anos mais tarde, o Movimento Humanismo e Democracia (MHD) que acertou um acordo com o PS em 1995 (e vigorou até 2011), liderado à época por António Guterres, que chegou a eleger deputados, como independen­tes, nas listas socialista­s. Nos dois anos em que foi ministro da Defesa teve momentos polémicos, como o projeto nunca concluído de unificar os três ramos num Estado-Maior da Defesa e teve de enfrentar momentos de tensão com as chefias militares.

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, sublinhou também esse mesmo percurso político, registando que Rui Pena “era, desde há muito, uma das vozes mais respeitada­s na área do Direito Administra­tivo”, nota biográfica também apontada por Assunção Cristas.

O CDS notou ainda que o antigo ministro foi “um dos impulsiona­dores da Aliança Democrátic­a [AD], europeísta e atlantista” e “foi sempre um democrata-cristão, acima e à parte dos partidos, um defensor de políticas reformista­s pela inclusão social e contra a pobreza”. Cristas acrescento­u a nota de que, há cerca de um ano, numa homenagem aos antigos líderes parlamenta­res centristas, “Rui Pena pediu a palavra e, de improviso, discursou e emocionou todos os presentes”.

“Era um grande amigo meu. Foi um aluno brilhante na Faculdade de Direito de Lisboa”, disse dele Freitas do Amaral.

O funeral, depois de uma missa pelas 15.00 de hoje na Basílica da Estrela, em Lisboa, está reservado para familiares e amigos. MIGUEL MARUJO com Lusa

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