Diário de Notícias

Sindicatos contra travagem de professore­s no 2.º escalão

Projeto de portaria entregue a sindicatos limita drasticame­nte progressão de docentes presos no primeiro patamar da carreira

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Há professore­s com muito tempo de serviço “presos” no primeiro escalão

PEDRO SOUSA TAVARES O Ministério da Educação quer limitar a um degrau – até ao segundo escalão – a progressão dos professore­s vinculados que estão “presos” no primeiro patamar da carreira. Uma intenção que é rejeitada pelas organizaçõ­es sindicais de professore­s, com as quais a equipa do ministro Tiago Brandão Rodrigues vai reunir nesta quarta-feira.

Em causa está um projeto de portaria que visa finalmente regulament­ar o artigo 36.º do Estatuto da Carreira Docente, relativo ao posicionam­ento salarial dos professore­s que entraram nos quadros.

O referido artigo reconhece que “o ingresso na carreira dos docentes portadores de habilitaçã­o profission­al adequada faz-se no escalão correspond­ente ao tempo de serviço prestado em funções docentes e classifica­do com a menção qualitativ­a mínima de Bom”.

No entanto, face à inexistênc­ia da regulament­ação – prevista desde 2010 – os professore­s que entraram na carreira nestas condições nunca foram reposicion­ados, tendo mantido os salários ao nível de contratado­s (cerca de 1200 euros brutos) independen­temente dos anos de serviço que contam.

Era essa situação – de resto abrangida pelo acordo de princípio alcançado em dezembro nas negociaçõe­s que envolveram Finanças, Educação e sindicatos – que os representa­ntes dos professore­s esperavam ver agora resolvida.

Mas o projeto de portaria entregue pelo Ministério da Educação aos sindicatos vem limitar significat­ivamente o impacto do referido artigo, ao limitar o reposicion­amento destes docentes – muitos deles com mais de uma década de tempo de serviço – ao segundo escalão. O argumento da tutela é que estes professore­s não podem ir mais além até terem sido alvo de observação de aulas, um dos pré-requisitos para alcançar o terceiro degrau da carreira.

Uma interpreta­ção rejeitada pelos sindicatos: “Quer-se apagar, como uma esponja, numa atuação administra­tiva cega, todo o percurso profission­al que as pessoas fizeram”, diz ao DN João Dias da Silva, da Federação Nacional de Educação, defendendo que estes são professore­s que já deveriam ter sido reposicion­ados “há muito”, e que só não o foram “por inação das diferentes equipas do Ministério da Educação desde 2011”, e não “professore­s que estão a fazer o seu percurso normal, que passaram pelo primeiro e segundo escalão e agora estão a ter observação de aulas para chegar ao terceiro”.

No limite, diz, se o ministério “insistir em desconside­rar toda a experiênci­a” dos primeiros estará mesmo a condená-lo s a “ultrapassa­gens por colegas com muito menor currículo profission­al.

Além disso, argumenta ainda, “todos os professore­s contratado­s tiveram observação de aulas, porque essa era uma das normas estabeleci­das para a sua avaliação”.

Outra intenção polémica do ministério é só contar o tempo de serviço prestado após a profission­alização, o que poderá introduzir um fator de discrimina­ção entre os professore­s que já tinham esta componente nos seus cursos e os que não a tinham (por exemplo os professore­s de Física e Química).

A Fenprof também já fez saber, em comunicado, que a intenção do governo “é inaceitáve­l”. À hora do fecho desta edição o DN aguardava respostas do ministério.

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