Cartazes de McDormand continuam a conquistar prémios
Três Cartazes à Beira da Estrada, de Martin McDonagh, venceu as principais categorias. Estreia nesta semana em Portugal
Será que os votantes da Hollywood Foreign Press combinaram todos dar os Globos aos filmes e às séries de televisão que têm personagens femininas fortes e mensagens contra o sexismo? Na verdade, a lista dos vencedores parece resultado de uma combinação de boa consciência, um pouco a par com o discurso politicamente correto de Oprah Winfrey quase a proclamar “revolução” feminina. Nesta coisa da ressaca da limpeza de Hollywood contra o assédio sexual, a noite dos Globos de Ouro número 75 ficará para a história como o princípio de qualquer coisa, nem que seja de um novo sonho de igualdade (ou do começo de uma campanha eleitoral, a da candidatura de Oprah para a Presidência americana...).
Seth Myers e o seu monólogo inicial deram o tom, mesmo com uma piada deliciosa a The Post, onde se sugeria que o filme de Steven Spielberg foi feito apenas para açambarcar prémios. Myers foi inteligente na leveza do humor e proporcionou dois ou três momentos de gargalhada, não mais do que isso. Nos Globos, o anfitrião, se não se chamar Ricky Gervais, convém também não dar muito nas vistas.
Nesta festa de luto e de luta, as piadas a Harvey Weinstein e Kevin Spacey pareceram algo requentadas. Os sorrisos amarelos da plateia (a realização não disfarçou o incómodo do próprio Christopher Plummer) deram exatamente a ideia de que era o tipo de comicidade de “bater em mortos”.
Quanto ao que fica dos resultados do cinema, o que se pode pensar é que as pistas para os Óscares ficaram ainda mais baralhadas. Claro que a vitória de Três Cartazes à Beira da Estrada, de Martin McDonagh (melhor filme na categoria de drama, melhor argumento e melhor atriz, Frances McDormand, melhor ator secundário, Sam Rockwell), põem-no mais favorito, mas Lady Bird, de Greta Gerwig, que foi igualmente um dos vencedores (melhor atriz de musical/comédia, Saiorse Ronan, e melhor filme musical/comédia), The Post, de Steven Spielberg e A Forma da Água, de Guillermo del Toro (coroado melhor realizador) não perderam o balanço. Todos podem ainda ser vencedores em março. O que já se percebeu nesta altura é que Foge, de Jordan Peele, tem muitos apoiantes mas não é para ser conquistador. Percebeu-se também que Dunkirk, de Christopher Nolan, não é afinal candidato premium.
Os Globos não se dão ao respeito mas continuamos a gostar deles pelas suas surpresas, algumas delas refrescantes, como foi a vitória de Fatih Akin no filme estrangeiro com Uma Mulher não Chora, quase a chegar aos cinemas portugueses. Premiar Angelina Jolie com Primeiro, Mataram o Meu Pai iria soar a concessão por parte da Associação ao statu de celebridade de Jolie (e atenção que o filme é bem reco- mendável). Depois, podemos sempre pensar na justiça do Globo de melhor atriz secundária para Alisson Janney, extraordinária nessa desilusão chamada Eu, Tonya, de Craig Gillespie, e na própria vitória de Frances McDormand, superlativa num dos grandes filmes do ano, Três Cartazes à Beira da Estrada ( a atriz, que desviou um operador de câmara para ver melhor um dos discursos, ainda vai ganhar mais prémios neste ano).
Quanto a injustiças, tudo é relativo, mas Sam Rockwell em Três Cartazes à Beira da Estrada não deveria ter tirado a honra a Willem Dafoe em The Florida Project. Aliás, no filme de Martin McDonagh há um ator que merece ainda mais glória do que Rockwell, Woody Harrelson...
No próximo dia 21, com os Screen Actors Awards, já vamos perceber se os dados que estes Globos deixam podem ser levados a sério. Acreditamos que a vitória de Guilherme del Toro (sobretudo na forma como foi aplaudido) é um indicador a ter em conta...
Na televisão, a vaga feminista ainda foi mais forte. Pequenas Mentirosas, produzido e apoiado por Nicole Kidman e Reese Whiterspoon, teve uma noite feliz, tal como The Handmaid’s Tale, baseado no livro de Margaret Atwood. Coincidência ou não, na comédia, a série vencedora é The Marvelous Mrs. Maisel, em que a personagem principal é uma mulher. Mas se estes foram os Globos do Time’s Up uma pergunta fica no ar (posta em direto por Natalie Portman): por que razão não vimos mais realizadoras nomeadas?