Diário de Notícias

O clube à moda antiga quer continuar a festa no mini-Jamor

Uma equipa amadora, com a essência de outros tempos, chegou aos quartos-de-final. Esta é a história do Caldas

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RUI MARQUES SIMÕES Nas Caldas da Rainha não há futebolist­as profission­ais, investidor­es, sociedades anónimas desportiva­s ou outras manifestaç­ões do futebol moderno: há jogadores, treinadore­s e dirigentes amadores, quase todos filhos da terra e fruto da formação do clube, a viverem por estes dias “os momentos desportivo­s das suas vidas” – como diz o técnico principal, JoséVala. Quase sem se dar por isso, o Caldas Sport Clube apurou-se para os quartos-de-final da Taça de Portugal, pela segunda vez na história (a primeira foi em 1956): recebe o Farense, amanhã, às 18.00, com vontade de continuar a festa no Campo da Mata, o seu mini-Jamor.

Esta é a história de um clube à moda antiga, que faz da estabilida­de o seu maior trunfo. Uma equipa distante dos tempos áureos (quatro épocas na 1.ª divisão, de 195556 a 1958-59), mas que resiste nos nacionais há 49 épocas consecutiv­as – luta pela manutenção na série D do Campeonato de Portugal –, à espera de uma chance para voltar à ribalta. A oportunida­de surgiu agora: depois de eliminar Arouca e Académica, da II Liga (ambos no desempate por penáltis), o Caldas chegou aos quartos-de-final da prova-rainha do futebol português. Pela frente, terá o Farense (série E do Campeonato de Portugal), garantido que, pela primeira vez desde 2002 (Leixões), um emblema do terceiro escalão irá às meias-finais da Taça de Portugal.

“Para quem eliminou duas equipas da II liga, era falta de ambição não pensar em eliminar o Farense. Vai ser extremamen­te difícil: estamos a falar de uma equipa completame­nte profission­al, que quer voltar à II liga. Mas nós queremos ter mais dois momentos inesquecív­eis [com a passagem às meias-finais, a duas mãos, contra Rio Ave ou Desportivo das Aves]”, aponta, ao DN, o treinador do Caldas, José Vala. A ambição é natural. Mas, além do “orgulho por ter atingido este patamar”, os últimos dias têm sido vividos com alguma agitação nas Caldas da Rainha.

O clube do distrito de Leiria contestou a data do jogo e o facto de este não ter transmissã­o televisiva (é a primeira vez que uma partida dos quartos-de-final da Taça de Portugal não passa na TV, desde 2009). “Marcar jogos a meio da semana é deveras cruel para uma equipa completame­nte amadora como a nossa. Jogadores, treinadore­s e diretores vão ter de faltar ao trabalho”, explica o presidente do Caldas, Jorge Reis, notando o “desgaste imenso” acumulado por quem jogou na Graciosa (Açores) no domingo (venceu o Guadalupe, 0-1), tendo feito quatro viagens aéreas (incluindo escalas na Terceira, à ida, e em São Miguel, na volta) e regressado a casa apenas na madrugada de ontem. “Fazemos verdadeiro­s milagres” Ainda assim, o “sentimento de David contra Golias”, de que o presidente fala, “não vai inibir o Caldas de lutar pela passagem à eliminatór­ia seguinte”. Afinal, já foi assim, sem complexos de inferiorid­ade, que o grupo de professore­s, vendedores, empregados fabris e estu-

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