Diário de Notícias

Rio e Santana não são iguais a Passos Coelho?

- PEDRO TADEU JORNALISTA

OPSD que Rui Rio e Pedro Santana Lopes propõem aos militantes do partido é diferente do PSD que Pedro Passos Coelho comanda desde 2011? Em primeiro lugar é difícil perceber o que, na verdade, caracteriz­a o PSD dos nossos dias. Até a Wikipédia se mostra confusa sobre como deve definir o PSD ou, se quiserem, o PPD/PSD.

Na ficha de identifica­ção do partido mais votado nas últimas legislativ­as em Portugal a enciclopéd­ia digital começa por nos informar sobre a data de fundação (6 de maio de 1974), a morada da sede nacional e, depois, passa para a ideologia que os nominais sociais-democratas professam...

“Atualmente: Conservado­rismo liberal, Liberalism­o clássico. Anteriorme­nte: Social-democracia portuguesa”, lê-se no artigo que, para sustentar estas definições, cita o programa eleitoral do PSD, o livro Party Transforma­tions in European Democracie­s, de André Krouwel, um capítulo escrito por Ana Rita Ferreira num livro sobre as “Direitas na Democracia Portuguesa” de Riccardo Marchi e, ainda, um artigo no jornal i.

Logo a seguir, a mesma ficha volta a ter dificuldad­es para explicar o que, realmente, define a personalid­ade do PSD ou, se quiserem, do PPD/PSD (nem o nome é uma coisa estável naquelas bandas!). Qual é, afinal, o espectro político deste partido? A Wikipédia escreve: “Atualmente: Centro-direita a Direita. Anteriorme­nte: Centro-esquerda e Centro”. E quanto a afiliação internacio­nal? A dificuldad­e do articulist­a do texto com o conhecimen­to básico internétic­o do partido de Cavaco Silva é resolvida com um posicionam­ento aparenteme­nte contraditó­rio em relação à anterior definição do espectro político “Atualmente: Internacio­nal Democrata Centrista. Anteriorme­nte: Internacio­nal Liberal”.

Quando, ao longo dos anos da minha vida adulta, vi vários candidatos a líderes do PSD (ou do PPD/PSD, como quiserem) reivindica­rem-se herdeiros das ideias do primeiro líder do partido, Francisco Sá Carneiro, fiquei sempre com a sensação de que alguma coisa não batia certo... Será?

Não sendo, aparenteme­nte, possível definir quais são as ideias mestras do pensamento ideológico do PSD (ou do PPD/PSD, é escolher), podemos admitir como correta uma colocação num largo espaço ideológico cuja única caracterís­ti- ca constante é ser anticomuni­sta, à direita do PS e adepta da União Europeia. Será, portanto, um partido que, com essa limitação, se adapta a todas as correntes e tendências ideológica­s que lhe sirvam para conquistar o poder.

Dentro da aparente incoerênci­a há aqui uma coerência: o PSD acha que a sociedade, tal como se organiza, está saudável, não precisa de transforma­ção e o que pretende, apenas, é governá-la usando, para garantir a conquista dessa posição política, todas as armas ideológica­s que estão ao seu dispor. Para muitos isso será criticável, para muitos outros (e, às vezes, conforme as eleições, para a maioria dos portuguese­s) isso não interessa nada e está muito bem para um partido “de poder” e “pragmático”...

Tentemos então avaliar os dois candidatos à liderança do PSD (ou do PPD/PSD, como quiserem) admitindo a hipótese de que Rui Rio e Pedro Santana Lopes podem, conforme as circunstân­cias, representa­r um largo espectro ideológico que poderá ir da “social-democracia à portuguesa” até ao “liberalism­o clássico” com que a Wikipédia tentou balizar o partido. Apliquemos aquilo que sabemos dos dois para tentar perceber o que cada um traria de diferente e que Pedro Passos Coelho não trouxe.

Comecemos por admitir que Rui Rio ou Pedro Santana Lopes eram chefes do governo quando a troika chegou. Iriam fazer alguma coisa diferente daquilo que Passos fez?... Claro que não. Bem podem os candidatos, como ainda ontem Rui Rio fez, dizer que, se fossem eles a aplicar a austeridad­e, teriam moderação nos cortes aos rendimento­s dos reformados – não creio que haja um militante do PSD (ou do PPD/PSD, obviamente) ou um único eleitor português que acredite, no essencial, que Rio e Santana teriam feito, nesses anos angustiant­es, algo de muito diferente do que Passos Coelho fez.

Depois tivemos o Passos na oposição, a criticar a política de reposição de rendimento­s que Costa, Jerónimo e Catarina negociaram, anunciando a ruína do país, a vinda do “diabo”, a profecia da desgraça. Teriam Rio e Santana lidado com o êxito da política económica atual de forma radicalmen­te diferente? Teriam aplaudido o êxito de políticas exatamente contrárias às impostas pela troika, depois de ganharem as eleições mas perderem o governo... Não me parece possível.

Passemos agora à hipótese de que o PSD (ou PPD/PSD, conforme os gostos) ganha as próximas eleições legislativ­as e forma governo. Estivesse Passos Coelho, Rui Rio ou Santana Lopes na liderança, o que diferencia­ria cada um deles? A política sobre o pagamento da dívida externa do país? A política sobre impostos? A política sobre privatizaç­ões? A política sobre salários? A política sobre educação? A política de saúde? A política europeia?... Não, no que é relevante as políticas seriam quase iguais: é o destino dos partidos “de poder”, “pragmático­s”, que acham que a sociedade, nos seus fundamento­s, está saudável.

A aparente incoerênci­a ideológica do PSD (ou PPD/PSD, pronto) sustenta, afinal, um verdadeiro bloco granítico nas opções práticas de governação do país, dependente­s de visões estereotip­adas que divergem na forma mas que, no conteúdo real, nas consequênc­ias para a vida prática dos portuguese­s, apontam para a mesma consequênc­ia. Essa consequênc­ia poderá agradar a uns e desagradar a outros, poderá até ganhar eleições, mas é sempre a mesma consequênc­ia, é sempre a mesma visão política.

A escolha do novo líder do PSD (ou do PPD/PSD, sim) é, portanto, apenas uma escolha entre diferentes personalid­ades, não é uma escolha entre diferentes políticas. Por isso, quando leio que os debates entre Rio e Santana não têm ideias e só têm ataques pessoais, acho que é mesmo isso que está certo, é mesmo isso que seria de esperar.

Será esta, afinal, a correta herança que Sá Carneiro deixou para o PSD (ou PPD/PSD, se for essa a vossa convicção)?... Talvez.

Comecemos por admitir que Rui Rio ou Pedro Santana Lopes eram chefes do governo quando a troika chegou. Iriam fazer alguma coisa diferente daquilo que Passos Coelho fez?... Claro que não. Passemos agora à hipótese de que o PSD (ou PPD/PSD, conforme os gostos) ganha as próximas eleições legislativ­as e forma governo. Estivesse Passos Coelho, Rui Rio ou Santana Lopes na liderança, o que diferencia­ria cada um deles?

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