RUI RIO É O NOVO PRESIDENTE DO PSD E QUER RECUPERAR ADN DA FUNDAÇÃO DO PARTIDO
Antigo autarca do Porto ganhou as diretas no PSD com 54% dos votos contra 45% de Santana Lopes. E fez discurso de unidade
DAVID MANDIM e VALENTINA MARCELINO Com uma vitória clara, Rui Rio assume a herança de Francisco Sá Carneiro como bússola para o futuro do partido com a sua presidência. Sempre em busca do interesse nacional, garantiu. Num curto de discurso de vitória, buscou a unidade do partido sem esquecer ninguém, incluindo Santana Lopes e Passos Coelho, nos agradecimentos que fez. Santana saiu derrotado, mas a prometer que vai andar por aí no combate político.
Rio Oposição firme mas responsável
Foi com um discurso de unidade e curto que Rui Rio se dirigiu aos seus apoiantes e ao país após ter vencido as eleições diretas para a presidência do PSD. Com muitos agradecimentos, sem esquecer o adversário Pedro Santana Lopes e o ainda líder Pedro Passos Coelho, Rio assumiu a herança de Francisco Sá Carneiro para “um PSD que nunca será uma agremiação de interesses individuais” e garantiu que não irá ser demagógico e populista na firme oposição que promete fazer à frente de esquerda que sustenta o atual governo.
Perante o entusiasmo dos militantes presentes, o futuro presidente do PSD falou pouco depois das 23.00, perante cerca de 150 apoiantes, fazendo os agradecimentos à equipa que o ajudou. Ao seu lado estavam Nuno Morais Sarmento, o mandatário nacional, Paulo Mota Pinto, presidente da comissão de honra, e Salvador Malheiro, diretor de campanha, e que foi muito aplaudido. Além destes, agradeceu ainda a Francisco Pinto Balsemão, primeiro subscritor da sua candidatura, e a David Justino, responsável pela moção de estratégia.
Pedro Santana Lopes mereceu elogios pela “generosidade e pelo empenho com que se apresentou a estas eleições”, permitindo o “confronto de ideias” e a valorização da vitória. E tal como Santana, Rio foi ao nascimento do partido, em maio de 1974, para lembrar que Francisco Sá Carneiro tinha “um propósito inequívoco”, onde a maioria dos portugueses se revisse, com um partido reformista, interclassista, que promovesse a justiça social e o crescimento, o desenvolvimento económico da nação. “Este é o ADN do PSD. Esta é a herança que o fundador do partido nos legou”, frisou. “O PSD não foi fundado para ser um clube ou uma agremiação de interesses individuais.”
O novo ciclo irá iniciar-se após um período difícil e muito exigente, em que Pedro Passos Coelho enfrentou a “mais grave crise económico-financeira dos 40 anos de democracia”. O anterior primeiro-ministro, disse Rio, “retirou Portugal da bancarrota para onde os desmandos de outros atiraram o país”. Agora, é preciso “restituir a alma, a vontade e a esperança”. O atual governo pode contar com uma “oposição firme e atenta, mas nunca demagógica e populista”. “Acima de tudo está o interesse nacional”, justificou. Com “lealdade e colaboração institucional ao Presidente da República”, o PSD irá trabalhar para um futuro melhor, com uma sociedade mais justa.
Quando Rui Rio falou já a sala onde a sua candidatura se concentrou estava muito bem composta, com militantes de vários concelhos nortenhos a chegar à medida que o resultado se confirmava. As urnas estavam fechadas desde as 20.00, mas o ambiente no Hotel Sheraton, no Porto, local escolhido para a noite eleitoral por Rui Rio, só começou a aquecer quase uma hora depois. Faltam cinco minutos para as 21.00 quando o candidato chegou, aparentemente confiante e com boa disposição. Após sair de um automóvel, onde seguiam também os amigos do PSD Maló de Abreu e João Paulo Mendes, aceitou responder a questões dos jornalistas.
Como já iam sendo conhecidos resultados, e até quem já apontasse que deveria ser o vencedor dada a tendência dos votos já contabilizados, Rui Rio mantinha a prudência. “Não tenho dados”, respondeu, sempre sorridente.
Minutos depois, o nervosismo que poderia existir começava a dar lugar a sinais de alegria e euforia. Começavam a ser conhecidos os resultados e os seus apoiantes, como o diretor de campanha, Salvador Malheiro, já trocavam abraços e sorrisos em manifestações de triunfo. Por esta hora, já se sabia que Rio ganhara no Porto (nos 18 concelhos Rio só perdeu Lousada e Trofa, tendo vencido na Maia, onde o presidente da distrital, Bragança Fernandes, e a concelhia local apoiavam Santana Lopes), em Aveiro, Braga e na maioria dos outros. Perdia Lisboa, Coimbra e Açores, nada que invertesse a tendência nacional. Apesar destes sinais, o ambiente permaneceu calmo, com o candidato recolhido numa sala acompanhado de elementos da sua equipa. Mais tarde, depois das 22.00, quando a vitória estava confirmada, a sala começou a compor-se com apoiantes e viram-se as primeiras bandeiras laranjas do PSD, já o hino de campanha era entoado, até ao discurso de vitória de Rio.
Santana Vinho e buffet no meio da derrota
Muito mais cedo do que é seu hábito, segundo testemunho de quem o acompanhou noutras eleições, Pedro Santana Lopes assumiu a derrota. Nessa altura, pouco depois das 22.00, conforme o próprio revelou, a vantagem de Rui Rio já era de “cerca de 10%”. Falou “calmo, sereno e descontraído”, tal como tinha prometido à sua família que o
acompanhou, a mulher, Dina Vieira, o seu filho Gonçalo e o seu irmão João.
Mas, pelo menos, desde as 21.00 que cheirava já a derrota no hotel onde se reuniu o staff, os apoiantes e os jornalistas. Os resultados que iam chegando das concelhias de todo o país não deixavam margem para esperança. Só a vitória em Lisboa, onde votaram perto de 2300 militantes, desenhou um sorriso nos rostos dos sociais-democratas presentes.
Militantes anónimos, não mediaticamente conhecidos pelo menos, deambulavam pelos corredores e junto ao bar do hotel, agarrados e a teclar os telemóveis. A um canto estava Tiago Sá Carneiro, do staff da campanha e um experiente militante destas andanças. “Neste momento ainda é cedo, estamos a receber resultados e a centralizar tudo no João Montenegro (diretor da campanha que, tal como Tiago, acompanhou Passos Coelho em 2015)”, afirmava ao DN pouco depois das 21.00. Ali perto estava Miguel Salema Garção, da comissão nacional da candidatura de Santana, atual diretor de comunicação dos CTT. Desta vez deixou as palavras para o filho, Manuel, de 17 anos, militante da JSD, “quase do PSD”, como frisou. O “jotinha”, a essa hora ainda sem haver resultados definitivos, não hesitou em declarar que “se Rui Rio vencer vai ser o meu presidente”. Mas com uma certeza: “Com o Santana tenho a certeza de que seria um não absoluto a um bloco central!”, acrescentando que o futuro líder “deve tornar o PSD mais PPD, mais popular, o que nos últimos tempos não se tem notado”.
Entre as poucas caras conhecidas estava Jorge Barreto Xavier, ex-secretário de Estado da Cultura que deixou cair alguns “conselhos” a Rio: “Terá de aprender que todos contam, mesmo aqueles que têm uma opinião diferente a sua. Querer ter sempre razão é um enorme erro. Tem de haver justiça e prudência e nem sempre a justiça é razão. Na democracia é essencial saber ouvir”, sublinhou.
Perto das 22.00 veio o aviso de que Santana Lopes iria fazer a sua intervenção, que viria a acontecer. Minutos antes tinha telefonado a Rui Rio a felicitá-lo pela vitória.
“Temos de continuar a sonhar. Vou continuar a combater politicamente!, prometeu, quase no final do seu discurso. O “menino guerreiro” prometeu que vai “andar por ai”, mas não disse se perto ou longe de Rio. “O PPD-PSD escolheu. Espero que Portugal fique bem servido com a escolha. Os militantes do partido saberão com toda certeza qual é a melhor solução para a liderança do partido”, afirmou Santana Lopes, assumindo “todas as responsabilidades”. “Não fiquem tristes”, pediu, “disse à minha família que estava calmo, sereno e descontraído. E isto porque tenho a consciência tranquila. Fizemos o mais importante em política, que é lutar por aquilo em que acreditamos”, afirmou com firmeza. Neste momento, primeiro um pequeno grupo, depois toda a sala se levantou em aplausos e a gritar “PSD, PSD”. Em ambiente de festa morna, todos se foram juntando numa bem abastecida sala ao lado, preparada para a imprensa, onde não faltavam acepipes, pratos frios, fruta e vinho. “Aproveitem agora que isto vai mudar”, ironizava alguém. A norte, contava, “nem uma garrafa de água havia para os jornalistas”. O DN confirmou.