Diário de Notícias

“É um erro” copiar Unidade Militar de Emergência espanhola

Comandante do Regimento de Emergência em Abrantes diz que Portugal deve ter um modelo próprio de intervençã­o no combate aos incêndios e não decalcar o de outros países

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MANUEL CARLOS FREIRE A tragédia dos incêndios em 2017 e a ajuda então prestada pelos militares espanhóis suscitaram interesse sobre o modelo vizinho. PSD e CDS propõem mesmo a criação de uma unidade castrense idêntica. Mas o comandante do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) do Exército, em Abrantes, sustenta que “é um erro” copiá-la porque “conduz à paralisia”.

“O desenvolvi­mento de capacidade­s de AME não deve consubstan­ciar-se num simples decalque de modelos importados de outros países”, enfatiza ao DN o coronel César Reis, lembrando que o núcleo preparatór­io para a criação do RAME – criado com o sistema de forças aprovado em 2014 – “esteve [mais de dois anos] adormecido enquanto se pensava o que fazer” nesse domínio.

O RAME acabou por ser ativado a 1 de novembro de 2016 no antigo quartel da Escola Prática de Cavalaria, que se manteve aberto também para dar formação – a par das unidades de Chaves e de Beja – aos can“O didatos para a categoria de praças do ramo. César Reis assumiu no dia seguinte o comando da unidade e... “não havia nada de equipament­os”.

Depois de anos à frente do Dia da Defesa Nacional (DDN), um modelo conjunto entre os três ramos das Forças Armadas e dependente do Ministério da Defesa que o governo anterior previu replicar no RAME (com efetivos e capacidade­s militares), o coronel César Reis colocou as primeiras questões e dúvidas em função do que encontrou.

“Vamos ter uma unidade do tipo” da Unidade Militar de Emergência­s (UME) espanhola, cujos efetivos combatem os incêndios florestais enquanto “nós não e isso ultrapassa as Forças Armadas?” Mais, “a eficácia do RAME traduz-se como? Vamos decalcar ou aproveitar as experiênci­as de outros países”, que são várias? É também com base na sua experiênci­a e conhecimen­to do DDN que César Reis baseia a afirmação de que é errado copiar outros modelos.

O DDN, criado para suprir o fim do serviço militar obrigatóri­o em 2004, “esteve paralisado inicialmen­te porque se estava a tentar copiar o modelo francês”, recorda o oficial superior. Daí também a conclusão de que, em matéria de AME, “a prioridade terá de ir sempre para um modelo que possa estar sintonizad­o com a estrutura cultural e institucio­nal” portuguesa.

“Onde e como podemos ser úteis?” Ou “que mais-valias tem o Exército” para desenvolve­r o apoio militar de emergência e, “se existem, onde estão?”, foram outras questões feitas pela hierarquia do ramo. Engenharia militar, apoio sanitário e psicossoci­al, manutenção ou transporte­s são algumas dessas valências espalhadas por diferentes pontos do país, acrescenta César Reis. que “não vamos comandar operações” que são da responsabi­lidade da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), o coronel César Reis falou com os responsáve­is daquela estrutura para dar a conhecer o que existe, onde está e com que grau de preparação e resposta. Esse “trabalho de preparar a dar a conhecer o que temos” resulta da consciênci­a prática de que isso “é, muitas vezes, desconheci­do de quem pede”.

Daí criar-se uma situação do tipo pescadinha de rabo na boca: “Se não sabem, não pedem. Se não pedem, não vamos”, constata César Reis, dizendo que está a desenvolve­r “um trabalho de formiguinh­a para que a nossa disponibil­idade possa ter expressão prática no apoio” à ANPC e às populações.

Sobre o que já “tem pronto a arrancar” nesse domínio, o comandante do RAME – que, ao contrário dos responsáve­is dos outros regimentos do Exército, acumula o cargo com o comando da Unidade de AME – assume que no essencial tem “viaturas e equipas sanitárias”. Aliás, a experiênci­a das operações em que já foram chamados a intervir, nomeadamen­te no incêndio que há meses ameaçou Abrantes, já permitiu “concluir que as carrinhas pequenas, todo-o-terreno, são o melhor” para retirar as pessoas das áreas de risco, dado serem na maioria idosas e estarem dispersas.

Quanto ao futuro a curto prazo, o comandante do RAME espera “estar daqui a dois anos” inserido “também nos planos municipais” de emergência e combate aos incêndios. “Há menos situações inopinadas” porque é possível “ser mais programado”, diz César Reis.

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