Diário de Notícias

Professore­s de Língua Gestual recusam tempo de serviço a zeros

Ministério de Tiago Brandão Rodrigues vai criar grupo de docência mas não quer contar tempo de serviço

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EDUCAÇÃO A Fenprof e as associaçõe­s de professore­s de Língua Gestual Portuguesa (LGP) rejeitam a intenção do Ministério da Educação de não considerar o tempo de serviço cumprido por estes antes da profission­alização, o que implicaria reduzir a zeros carreiras que chegam a contar mais de duas décadas. Caso a posição da tutela se mantenha, avisam, vão protestar na rua.

Em causa estão as negociaçõe­s para a criação do grupo de recrutamen­to da disciplina de LGP, uma velha exigência quer dos sindicatos quer dos profission­ais que se dedicam a esta atividade, até agora recrutados como técnicos especializ­ados.

As primeiras propostas do Ministério da Educação referiam especifica­mente a não consideraç­ão do tempo de serviço cumprido antes de os professore­s terem obtido a profission­alização. Uma condição que o governo quer estender a todos os grupos de docência e que já provocou queixas da parte dos professore­s de várias áreas em que esta profission­alização não era feita durante o curso e, sim, já em serviço. A diferença é que, no caso dos professore­s de LGP, como estes não eram até agora recrutados como docentes mas antes como técnicos, não existe um único caso de profission­alização realizada, o que significa que o contador do tempo de serviço ficará a zeros até terem esta formação.

Nesta sexta-feira, o Ministério da Educação fez chegar aos sindicatos uma terceira versão da sua proposta em que elimina a referência específica à não contagem do tempo de serviço anterior a esta profission­alização. No entanto, remete a questão para o Estatuto da Carreira Docente, o que também não tranquiliz­a os docentes.

“À partida, nada teríamos contra. O problema é a interpreta­ção abusiva e até maquiavéli­ca que o ministério está a fazer do ECD”, conta ao DN Ana Simões, coordenado­ra da Fenprof para o ensino especial. “O Estatuto diz que o ingresso deve ser feito com formação profission­al em funções docentes, mas nada diz sobre não serem considerad­as as funções exercidas antes dessa profission­alização”, defende. “De resto, em todos os grupos de recrutamen­to está previsto que, para efeitos de tempo de serviço, cada ano antes da profission­alização vale meio ponto, valendo um ponto após a profission­alização”, acrescenta.

No entanto, acusa, a interpreta­ção que o ministério faz da norma “leva a pensar que continua a não querer considerar este tempo, e isso não aceitamos de maneira nenhuma”, avisa. “Nem para este nem para qualquer outro grupo de recrutamen­to.”

A sindicalis­ta lembra que estes são professore­s que “durante anos ensinaram alunos surdos e ouvintes, cumpriram um programa oficial, avaliando alunos e sendo avaliados”. Os sindicatos já pediram a negociação suplementa­r do diploma. PEDRO SOUSA TAVARES

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