Diário de Notícias

Armie e Timothée à espera da cerimónia dos Óscares

Cinema. Os atores mais celebrados desta temporada de prémios revelam ao DN o encantamen­to com Chama-Me pelo Teu Nome, ainda sob o efeito do flirt com Luca Guadagnino

- RUI PEDRO TENDINHA, em Berlim

Conhecemos Armie Hammer como ator capaz de reinventar o lugar do galã em Hollywood. Veja-se o que fez em O Mascarilha, ao lado de Johnny Depp, ou a subtil desconstru­ção, por sinal muito descontraí­da, do espião sedutor em O Agente da U.N.C.L.E., de Guy Ritchie. Mas em 2017 decidiu “atacar” o cinema indie com dois papéis de homossexua­l: este Chama-Me pelo Teu Nome, de Luca Guadagnino, e o muito agradável Retrato Final, de Stanley Tucci, a estrear em breve. Interpreta­ções suaves e com um naturalism­o brilhante.

Quando o encontramo­s num hotel estupidame­nte luxuoso de Berlim, está ainda nas nuvens com as críticas consensuai­s de Chama-Me pelo Teu Nome e bastante divertido ao lado de Timothée Chalamet, o protagonis­ta e segurament­e a maior revelação desta década. Lado a lado, os atores são só sorrisos para a imprensa e têm uma química de dupla de comédia, eles que no filme têm um outro tipo de química.

Quando lhes perguntamo­s como se constrói essa intimidade preciosa que vemos nesta adaptação de James Ivory e Luca Guadagnino ao romance de André Aciman, beijam-se e riem-se. “Foi fácil! Ficámos sequestrad­os no Norte da Itália numa das mais belas vilas do mundo e onde ninguém falava inglês. Basicament­e, só nos tínhamos um ao outro. Passámos muito tempo juntos, vimos bastante cinema, televisão e ouvimos muita música! Andámos de bicicleta, coisas que as personagen­s no filme fazem! Foi um presente maravilhos­o”, conta Armie Hammer, que antes de a entrevista começar fazia questão de dizer que era um homem heterossex­ual muito bem resolvido, coisa perigosa nestes dias de caça às bruxas das regras de comportame­nto sexual...

Chalamet, ao vivo, mantém a energia que vemos no filme e ainda não perdeu o olhar inocente (em Lady Bird, de Greta Gerwig, já mostra que pode ser um pouco mais cínico). Começa por nos contar que nunca se preocupou com as questão de sexualidad­e que algumas cenas poderiam ter: “Não sou um historiado­r de cinema, mas após ter visto Eu Sou o Amor e Um Mergulho Profundo, percebi que a sensualida­de e a sexualidad­e nos filmes do Luca estão sempre ao serviço da história. Creio que é muito raro encontrar um papel com esta complexida­de e substância. Foi fácil aceitá-lo e as cenas de sexo ajudam a explicar aquilo que as personagen­s estão a sentir.” Aos 22 anos, é o único verdadeiro rival nos Óscares de Gary Oldman, o perfeito Churchill de A Hora mais Negra.

Mal o menino acaba de falar, Armie lembra que ver a fonte de energia e o talento do jovem Chalamet foi uma enorme aprendizag­em. Costuma ser ao contrário... “Este filme mudou-me enquanto ator, embora todos os filmes o façam... Vou guardar esta experiênci­a para sempre! Mas já rodámos este filme há muito. Depois de Chama-Me pelo Teu Nome, fiz outros trabalhos e, agora, quando penso, apetece-me fazer as coisas de forma diferente. Isso significa que estou a aprender, a acumular experiênci­as...”, acrescenta.

Sobre a banda sonora muito anos 1980, é Chalamet quem pede para falar: “É tão cool. Tem que ver com um período da vida muito especial do Luca. Podemos ter o Sufjan Stevens e depois Beethoven, mas depois chegam os Talking Heads e os Pyscadelic Furs.” Não se está a esquecer de ninguém?! “Ah, sim, o FR David… Enfim, é a colagem do Luca na sua cabeça. O homem fez um filme que em Hollywood ninguém é capaz de fazer.” Quem vê o filme vai sentir sobretudo a experiênci­a Sufjan Stevens, canções delicadas que nos põem a levitar, muito per- to daquela alquimia do despertar de uma paixão.

Chama-Me pelo Teu Nome é um filme de um esteta, cheio de pormenores. Para Guadagnino era importante aqueles anos 1980 serem os da sua juventude, era importante a paisagem italiana ser da sua Itália privada e, ainda mais determinan­te, pormenores como os calções certos e as camisas de betinhos endinheira­dos. “Essas não eram as minhas referência­s, mas sim estritamen­te da geração do Luca. O desafio de um ator é esse, servir o cineasta. Tivemos uma assistente de guarda-roupa formidável. Nem imagina a quantidade de calções que testámos! Foi uma rodagem tão divertida! Via-me com aquelas roupas e perguntava: de certeza!? Ser dirigido por um italiano é uma diferença cultural enorme! A começar pelo facto de, por vezes, termos almoços muito longos. O Luca fez questão de que esta fosse uma experiênci­a relaxada”, comenta Hammer, neste momento a negociar para ser um modelo masculino às ordens no próximo projeto de Ruben Östlund.

Em Berlim, fevereiro passado, já se percebia que o hype do filme era gigante. Durante as crónicas diárias do festival relatámos o efeito de estrondo do filme, na altura acabado de ser adquirido pela Sony. O Festival de Sundance ainda consegue arrastar um filme para a ribalta. Sobre esse triunfo instantâne­o, Timothée Chalamet tem uma teoria: “O que se passou em Sundance serviu sobretudo para me deixar relaxado aqui no Festival de Berlim. Em Park City foi uma loucura, ainda fiquei mais magro do que sou. Aqui já estou tranquilo, já não há pressão! Aqui eu e o Armie podemos desfrutar!” Armie Hammer, ao seu lado, ri-se e concorda, mas acrescenta: “Já fiz muitos filmes, mas mesmo com experiênci­a continuo a ficar com receio antes de um lançamento. E o medo aumenta quando as críticas são positivas… Agora estou naquela expectativ­a para ver quando vamos começar a ser atacados.”

Meses depois, o estado de graça continua. O filme certamente terá nomeações importante­s para os Óscares, mesmo não sendo um dos favoritos. Armie Hammer diz de chofre: “Fala-se já no filme para prémios em 2018? Eu sei, mas tento não pensar nisso. Prefiro pensar no que vou comer mal acabe esta conversa.” Nem mesmo algum buzz negativo relativo ao facto de ser uma história de amor de um adulto e um miúdo de 17 anos terá diminuído o seu estatuto de prestígio. Chama-Me pelo Teu Nome tem aquele efeito encantatór­io automático, talvez o mesmo que um Clube dos Poetas Mortos, de Peter Weir, teve para uma geração nos anos 1980.

“Percebi que a sensualida­de e a sexualidad­e nos filmes do Luca estão sempre ao serviço da história”, diz Chalamet

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Uma das cenas de um filme e de um ator que está marcado para ser um sério rival à nomeação de Gary Oldman

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