Kevin Kühnert: o líder juvenil que está a dividir o SPD
Natural de Berlim, Kühnert, de 28 anos, é líder da juventude do SPD e é contra uma nova grande coligação com a CDU/CSU
Kevin Kühnert a discursar numa reunião do SPD em Berlim, no dia 7 de dezembro
JOANA SOUSA DIAS, Berlim Ainda que com pouco expressão, a primeira batalha foi ganha. E Kevin Kühnert nem precisou de escudo ou de armadura. O congresso regional do Partido Social-Democrata (SPD), realizado neste sábado na cidade medieval de Wernigerode, na região da Saxónia-Anhalt, recusou a proposta de uma nova grande coligação na Alemanha. Apesar de o resultado da votação não ser de todo vinculativo, dos 52 delegados que votaram, só um aceitou o acordo de princípio assinado nesta sexta-feira por CDU, CSU e SPD.
“A minha tour anti-GroKo (grande coligação) começou aqui”, escreveu o líder da juventude do SPD no Facebook. É o princípio de uma luta que este berlinense de 28 anos (tantos como as páginas do documento assinado na sexta-feira), licenciado em Ciências Políticas, trava até ao congresso nacional do SPD, marcado para domingo em Bona.
A campanha tem imagem, tem slogan e tem um “no” que diz tudo: “#NoGroKo – Für eine klare und glaubwürdige SPD” (na tradução, por um SPD claro e credível). Letras brancas, fundo vermelho, e uma mão que, em vez de segurar uma rosa, está aberta, usando o gesto que manda parar. Kühnert, líder da Jusos, a Juventude Social-Democrata, desde finais de novembro (conquistou 225 votos em 297), é quem comanda as tropas. Tem até domingo para convencer as bases do partido de que uma nova aliança com a CDU de Angela Merkel e com a CSU, a União Social-Cristã da Baviera não é a solução. E ele garante que argumentos não lhe faltam.
Desde logo os piores resultados de sempre em eleições desde 1933 (obtidos a 24 de setembro), que provam a necessidade de uma renovação. E uma renovação não passa por uma grande coligação, sustenta o líder da Jusos, o SPD deve dar luz verde a um governo minoritário e ser a principal força da oposição. “É o esforço para o futuro de um partido que ainda é muito necessário”, disse ao canal de televisão alemão ARD.
Mas a vontade de Kevin Kühnert não é nova. Já há quatro anos esteve contra a coligação que, segundo ele, só serviu para “enfraquecer o partido”. Era, na altura, líder da Ju- ventude do SPD em Berlim, cargo que desempenhou de 2012 a 2015. Foi na capital que nasceu e cresceu, na zona ocidental. Os pais são funcionários públicos, o pai trabalha nas Finanças, a mãe no Instituto do Emprego. Inscreveu-se no partido quando tinha 16 anos, em 2005, precisamente no ano em que Angela Merkel subiu ao poder. CDU e SPD uniram-se para governar, mas foi a líder dos democratas-cristãos quem acabou por tornar-se chanceler, destronando o socialista Gerhard Schröder (que ocupava o cargo desde 1998).
“Um esquerdista entre os sociais-democratas”, chama-lhe o Die Tageszeitung, destacando a “voz calma e assertiva” do discurso que fez no início de dezembro, num encontro do partido, em Berlim. Depois dos maus resultados eleitorais, Martin Schulz pedia aos militantes mais um voto de confiança para poder negociar com Angela Merkel uma solução: um governo minoritário ou uma grande coligação. Num discurso de cinco minutos, o primeiro como presidente da Jusos, Kevin Kühnert, sem hesitar, atacava a GroKo agarrando a atenção das seis centenas de delegados que assistiam.
O repórter do Taz escrevia: “Em cinco minutos, Kühnert entusiasmou mais o público do que durante uma hora de discurso de Schulz.” Nesse dia não conseguiu impedir o primeiro passo nas conversas com a CDU e CSU. Mas não cruzou os braços: em pouco mais de dois dias juntou mais de dez mil apoiantes numa petição online. E garante que vai percorrer o país para convencer as bases de que o SPD não pode voltar a ser uma sombra de Merkel.