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CARLOS NOGUEIRA João Souto anunciou a intenção de deixar o hóquei em patins para se dedicar à sua outra grande paixão: a medicina. Aos 25 anos, o jogador da Oliveirens­e é uma das grandes certezas da modalidade, estando nesta altura à porta da seleção nacional, tendo inclusive estado pré-convocado para o Europeu 2014 e o Mundial 2017. Mas como terminou o sexto ano de medicina e chegou a altura de escolher a especialid­ade, foi obrigado a fazer uma escolha.

No início de dezembro, os dirigentes da UD Oliveirens­e quiseram renovar o contrato com o avançado e, a determinad­a altura, “já não dava para adiar mais a decisão”, conta João Souto. “Comuniquei que iria deixar o clube no final da época por causa da minha vida académica, pois os meses de agosto, setembro e outubro são decisivos para estudar para os exames para chegar à especializ­ação”, revelou ao DN o hoquista que fez a sua formação no FC Porto, tendo depois mudado para o Valongo, onde foi campeão nacional em 2013-14.

A grande questão que se levanta para João Souto é que este exame será decisivo para escolher a especializ­ação. “Quero seguir ortopedia e quanto mais alta for a nota mais possibilid­ades tenho de seguir o caminho que pretendo”, acrescento­u, lembrando que Oliveira de Azeméis é longe da sua residência, em Fânzeres, e da Faculdade de Medicina da Universida­de do Porto. Como tal “não iria cumprir com a carga horária de treinos porque a exigência dos estudos é incompatív­el.”

A decisão está tomada e foi “muito pensada e difícil”. Ainda assim, este pode não ser o adeus ao hóquei em patins. “Se aparecer algum convite que seja compatível com os estudos irei pensar e verei se aceito”, assumiu, não escondendo que essa é uma possibilid­ade viável se for um clube na zona da sua residência. Contudo, deixou uma certeza: “Ainda não fui contactado por qualquer clube.” Essa João Souto decidiu seguir um caminho que considera melhor para o futuro. Se aparecer um clube perto de casa admite continuar nos rinques é, no entanto, uma situação que não estranha. “Acho que é normal ainda não ter tido qualquer contacto de uma equipa para a próxima época porque só os três clubes grandes é que se mexem nesta altura cedo no mercado”, adiantou.

No Valongo, João Souto viveu o momento “mais importante” da sua carreira com o título de campeão nacional, pelo que um regresso ao clube onde começou a dar nas vistas é encarado pelo avançado com bons olhos. “Se houver interesse deles e se for compatível com a minha condição académica, pode ser uma situação possível mas, é como digo, até ao momento não houve qualquer contacto”, sublinhou.

Para já, o que guarda mais fresco na memória é o impacto que a sua decisão causou junto dos companheir­os e treinadore­s da Oliveirens­e. “Ficaram todos muito tristes”, assumiu, revelando que também fi- cou bastante sensibiliz­ado com o momento: “Foi muito complicado e tanto foi assim que me comovi quando comuniquei a decisão no balneário. Vieram-me mesmo as lágrimas aos olhos, afinal na Oliveirens­e todas as pessoas me apoiaram e acarinhara­m. Fui sempre bem tratado.” Outros casos semelhante­s O caso de João Souto não é virgem no desporto português e, mais concretame­nte, no hóquei em patins. Vítor Hugo, estrela do FC Porto e da seleção nacional na década de 80, retirou-se em 1992 quando tinha apenas 29 anos para enveredar pela carreira de dentista, tendo então conseguido conciliá-la com a de treinador. Antes disso, tirou o curso universitá­rio enquanto ainda jogava. “Conheço a situação de Vítor Hugo, mas é uma situação diferente da minha, pois ele estudava medicina dentária o que, sem qualquer desprimor, tem um grau de exigência diferente”, adiantou o atual hoquista da UD Oliveirens­e, que recordou a situação de outro antigo companheir­o de profissão: “Ricardo Figueira também esteve na mesma situação que eu e chegou a congelar os estudos para se dedicar ao hóquei.”

No entanto, Ricardo Figueira acabou por deixar o hóquei em 2010 quando foi colocado num internato de um ano emVila Real. Acabaria por regressar à modalidade em 2013 quando se mudou para Lisboa, já com 30 anos, altura em que foi contratado pelo Sporting.

É bem ciente daquilo que será o futuro que João Souto não tem dúvidas em deixar uma certeza: “A minha prioridade neste momento é a medicina, porque é uma garantia para o futuro, enquanto o hóquei não dura para sempre.” De qualquer forma, admite que pelo nível que alcançou no hóquei em patins, “daria para viver” da modalidade, mas o grande problema é que “não garantiria os anos suficiente­s”. Ou seja, se optasse por continuar exclusivam­ente nos rinques seria uma forma apenas de pensar “no imediato”.

Ainda assim, não esconde que é com tristeza que tem de fazer esta opção. “Tenho pena se não continuar a jogar, até porque há dois anos que estou às portas da seleção nacional”, frisou, reconhecen­do que ser internacio­nal “é um grande sonho”, razão pela qual está empenhado em consegui-lo até final desta temporada: “Vou dar tudo por tudo até final da época, pois pode ser uma das últimas oportunida­des para lá chegar.”

Essa seria uma das metas para aquilo que diz que seria um final de época perfeito. Mas há mais: “Conquistar um grande título pela Oliveirens­e. Já estivemos em duas finais europeias e na luta pelo título até ao final, mas falta esse grande troféu que o clube anda à procura.”

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