Diário de Notícias

Metade dos portuguese­s tem polícia a mais de cinco quilómetro­s

ALENTEJANO­S E ALGARVIOS TÊM MAIS MEDO DE ASSALTOS Localizaçã­o de forças policiais não acompanha distribuiç­ão da população. Há casos em que a resposta da patrulha mais próxima demora duas horas. Sentimento de segurança é maior mas há receios entre os mais

- VALENTINA MARCELINO

Planear e projetar até 2040 a distribuiç­ão das forças de segurança no país, o seu equipament­o e o modelo de policiamen­to mais adequado, tendo em conta a mobilidade da população, suas caracterís­ticas e a caracteriz­ação geográfica da criminalid­ade, pode ser uma realidade a muito curto prazo. Uma equipa da Informatio­n Management School (IMS) da Universida­de Nova de Lisboa e do Instituto Português de Relações Internacio­nais está a testar um simulador tecnológic­o – SIM4Securi­ty – com essa função.

Neste momento está concluído um retrato da situação presente e a equipa, coordenada por Teresa Rodrigues, catedrátic­a especialis­ta em demografia e estudos de segurança, já identifico­u algumas discrepânc­ias entre a localizaçã­o do dispositiv­o policial e as populações. Para o planeament­o futuro o projeto tem concluída toda a análise e projeções demográfic­as, mas faltam dados mais minuciosos sobre o o efetivo em cada posto da GNR ou esquadra da PSP, para fazer projeções mais exatas.

Um primeiro zoom, apenas tendo em conta a demografia do território nacional e a localizaçã­o de postos e esquadras, mostra que 50% da população habita áreas que distam mais de cinco quilómetro­s das forças de segurança e 14% da população vive em áreas a mais de 10 km, onde a presença das forças de segurança é menos visível; há casos em que a resposta da patrulha mais próxima pode demorar mais de duas horas.

De acordo com este estudo, assinala Sara Ribeiro, uma das peritas da equipa em gestão de informação geográfica, “não é apenas a distância a que o posto se encontra que deve ser considerad­a, mas também, mesmo com o esforço da força de segurança por se tentar manter visível, a perceção de segurança que diminui dada a falta da proximidad­e”, principalm­ente dos postos da GNR que têm uma muito maior cobertura territoria­l.

Os investigad­ores cruzaram também os dados da criminalid­ade com os da população e sua caracteriz­ação socioeconó­mica e identifica­ram alguns focos geográfico­s (ver infografia).“Quando obtivermos dados mais precisos junto à GNR e à PSP, como o número de efetivos por posto e esquadra, conseguire­mos cruzar essas informaçõe­s com as dos movimentos migratório­s e desenvolve­r cenários que nos permitam dizer para onde se devem deslocar os recursos policiais, humanos e materiais adaptados ao tipo de população, principalm­ente os grupos de risco, e à criminalid­ade mais comum nessa região, explica Teresa Rodrigues.

Um dos parceiros deste projeto tem sido o Sistema de Segurança Interna (SSI), que tem estado a recolher dados junto às forças de segurança. “A principal novidade relativame­nte ao trabalho que hoje vem sendo desenvolvi­do reside, essencialm­ente, na possibilid­ade de projetar a médio e longo prazo um conjunto importante de decisões. O gabinete da secretária-geral do SSI, à semelhança do que acontece com outros projetos de reconhecid­o valor e interesse público, acompanha-o e presta colaboraçã­o no âmbito das suas responsabi­lidades”, respondeu o porta-voz da procurador­a Helena Fazenda.

Com o apoio deste simulador tecnológic­o será possível fazer “uma distribuiç­ão otimizada por todo o território das forças de segurança pública, de acordo com a evolução populacion­al prevista (ver coluna ao lado), e estimar as futuras necessidad­es de segurança pública”, bem como “avaliar a eficácia do modelo de policiamen­to, os recursos a afetar às infraestru­turas de segurança a construir nas várias realidade geográfica­s”. Estas medidas constam de um projeto que vai ser hoje mostrado, pela primeira vez ao público, no Instituto de Estudos Superiores Militares.

A vertente tecnológic­a e o trabalho com os sistemas de informação geográfica são da responsabi­lidade de investigad­ores da Nova IMS. Para a análise das questões de segurança, Teresa Rodrigues foi buscar Dalila Araújo, ex-secretária de Estado da Administra­ção Interna, doutoranda em Políticas Públicas de Segurança, e André Inácio, ex-inspetor da Polícia Judiciária, doutorado em Direito Público. “Foi a partir de algumas conversas que fomos tendo quer com a Dalila Araújo quer com o André Inácio, bem como com diversas outras pessoas do setor da segurança, que come- çámos a ter noção de uma possível desadequaç­ão das forças de segurança em termos territoria­is, pela forma como estão distribuíd­as, pelos modelos de policiamen­to e os meios que têm”, recorda Teresa Rodrigues sobre o fator que veio a desencadea­r esta iniciativa.

“Este trabalho é muito importante para definir uma estratégia para a capacidade real de resposta das forças de segurança à população”, indica André Inácio. “Para se-

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