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A Federação Portuguesa de Futebol abriu um inquérito sobre os acontecime­ntos do jogo Estoril-FC Porto, de segunda-feira, que foi suspenso devido a problemas na bancada norte do Estádio António Coimbra da Mota. O caso da bancada que ameaçou ruir e levou ao adiamento do jogo não ficará encerrado com a realização da segunda parte do jogo da 18.ª jornada da I Liga, a 21 de fevereiro (ver caixa).

O processo já foi enviado à Comissão de Instrutore­s da Liga, que irá dar seguimento à investigaç­ão. Ganha assim importânci­a o relatório que será feito por técnicos do Laboratóri­o Nacional de Engenharia Civil (LNEC), após uma nova vistoria à bancada, amanhã, soube o DN. Será esta entidade a emitir um parecer preliminar sobre a infraestru­tura, com a possibilid­ade de imputar responsabi­lidades.

Se a culpa da degradação da infraestru­tura for imputada ao Estoril, o clube poderá ser punido com a derrota no encontro, como consta do art. 94.º do Regulament­o Disciplina­r da Liga. “Se houver responsabi­lidade, o artigo pode ser aplicado”, explicou ao DN Lúcio Correia, professor de Direito do Desporto.

O FC Porto [em desvantage­m ao intervalo, 1-0] poderá agarrar-se a essa possibilid­ade. Ontem, o emblema portista emitiu um comunicado em que promete que, “independen­temente do processo administra­tivo em curso sob a égide da Liga, tomará todas as medidas que os regulament­os permitem, com o objetivo de salvaguard­ar todos os seus interesses desportivo­s, bem como dos seus sócios e adeptos”.

No entanto, as primeiras conclusões da reunião de ontem – que juntou representa­ntes da Liga, do Estoril, do FC Porto, da Câmara Municipal de Cascais (proprietár­ia do recinto), da Autoridade Nacional da Proteção Civil, do LNEC, da GNR, e da empresa construtor­a da bancada (Farcimar) – apontavam para o facto de “não haver danos estruturai­s na obra”, disse ao DN um dos presentes. Dificilmen­te serão atribuídas responsabi­lidades ao clube. Ainda assim, após a primeira visita à bancada, os dois engenheiro­s do LNEC acharam prudente e necessário fazer uma nova inspeção, mais completa e variada, amanhã. Isso mesmo confirmou ao DN o responsáve­l da empresa Farcimar. Bruno Teixeira. “A Liga contratou uma entidade externa (LNEC), que teve dois técnicos na reunião, que vão emitir um parecer depois da inspeção à estrutura e a toda a obra. Estamos tranquilos”, explicou.

Esse relatório poderá ser decisivo para a aplicação ou não de uma sanção ao emblema canarinho. “A única forma de mostrar que há imputabili­dade é mediante uma vistoria técnica que demonstre que há culpabilid­ade [do Estoril]. Pode haver responsabi­lidade disciplina­r caso o relatório do LNEC assim aponte”, nota Lúcio Correia.

Bancada sobre ribeira, mas legal Na origem da polémica estará a instabilid­ade do terreno onde foi erguida a bancada norte do recinto estorilist­a. “Que este terreno era pouco estável saltava à vista”, escreveu João Sande e Castro, antigo vereador do Desporto da Câmara Municipal de Cascais (2001-2013) na rede social Facebook. No entanto, todos os intervenie­ntes no processo de construção e homologaçã­o da infraestru­tura – do clube à Câmara Municipal de Cascais, à Liga e à empresa construtor­a – garantiram ao DN ter cumprido todas as regras e normas de segurança e proteção civil. Aliás, como é habitual, o recinto foi vistoriado pela Liga na sexta-feira, três dias antes da realização do jogo.

Tiago Ribeiro, presidente da SAD do Estoril à data da construção da bancada (2014), admitiu que “sempre foi do conhecimen­to que por baixo daquela área passa uma ribeira”, mas garantiu que a instalação cumpria toda as regras. E o mesmo fez a autarquia cascalense, em comunicado, lembrando que “a obra não carece de licenciame­nto uma vez que se trata de um equipament­o municipal”, assegurand­o que “o projeto foi analisado por uma vasta equipa de técnicos qualificad­os, tanto da Câmara Municipal de Cascais como de organizaçõ­es externas” e recordando que “a obra foi vistoriada pelas entidades nacionais e internacio­nais competente­s”.

Da parte da Farcimar, Bruno Teixeira esclarece que a empresa foi “responsáve­l pela conceção e execução da estrutura da bancada norte do Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril: única e exclusivam­ente da estrutura”. “A empresa não responde pelas demais especifici­dades da obra”, como por exemplo “as movimentaç­ões de terra, as escavações e aterros, os pavimentos e interiores das bancadas, os abastecime­ntos de água, a eletrifica­ção da bancada, o sistema de drenagem ou as cadeiras da própria bancada”, acrescenta. Garantindo que “a estrutura está intacta e preparada para receber cerca de três mil adeptos, sejam eles mais ou menos fervorosos”, e remetendo mais explicaçõe­s para o Estoril e para a CM de Cascais, que ontem defendeu a legalidade e viabilidad­e da obra.

“Não sendo engenheiro, julgo que as construçõe­s sobre leitos são comuns na construção civil desde que tenham tido os cuidados adequados. Neste caso, acredito que todos os responsáve­is fizeram tudo conforme as exigências técnicas e as condições daquele solo”, refere por sua vez Tiago Ribeiro, asseverand­o que durante a sua gestão [até setembro de 2015] “nunca houve qualquer tipo de abatimento ou movimentaç­ão de terras” naquela bancada. “Todas as vistorias da Liga e da UEFA foram feitas e a conclusão era de que as bancadas eram adequadas e estavam em perfeitas condições de uso”, conclui.

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 ??  ?? Adeptos temeram que a bancada cedesse e invadiram o relvado. Pavimento apresentou fendas junto a um dos pilares-suporte da bancada
Adeptos temeram que a bancada cedesse e invadiram o relvado. Pavimento apresentou fendas junto a um dos pilares-suporte da bancada

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