Diário de Notícias

Incêndio assusta associaçõe­s vizinhas que vivem sem licença

Responsáve­is por centro cultural e recreativo em processo de construção há 27 anos dizem que vão tomar medidas para terminar obras e garantir licença de utilização e vistorias

- JOANA CAPUCHO

“A associação de Vila Nova da Rainha explodiu.” A notícia deixou sem reação quem estava na assembleia geral da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Litrela, na freguesia de Santiago de Besteiros, concelho de Tondela. “Estávamos felizes, em reunião, e de repente começaram a surgir as notícias no Facebook. Nem tivemos reação”, recorda Luísa Lima, vice-presidente da direção. Seguiram-se os telefonema­s, a aflição para obter mais notícias. De olhos postos na tragédia, a direção reuniu-se e decidiu tomar medidas. “Temos de nos precaver.Vamos tentar acabar a obra e tratar da licença. Não eram essas as prioridade­s, mas passaram a ser”, diz ao DN o presidente, António Loureiro.

Ontem começaram os funerais das oito vítimas do incêndio na Associação Cultural, Recreativa e Humanitári­a de Vila Nova da Rainha, que já está a ser investigad­o pelo Ministério Público. Tal como o DN noticiou, esta coletivida­de, bem como a maioria das associaçõe­s recreativa­s cuja construção é anterior a 2008, estaria sem condições de segurança contra incêndios. Foi nesse ano que surgiu o atual regime, atualizado em 2015.

“Temos licença de obra, mas não de utilização. Não foi feita vistoria, porque a obra ainda não está terminada”, conta António Loureiro, presidente da coletivida­de de Litrela, que ontem não abriu, tal como a maioria das associaçõe­s do concelho. “A construção do edifício terá começado em 1990, mas ainda não acabou. Tem sido feita aos poucos, porque não temos grandes fundos”, conta o responsáve­l, que está na direção há seis anos, destacando que vivem dos apoios do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), da Câmara Municipal de Tondela, da junta de freguesia e das receitas das quotas dos sócios e das atividades.

“Temos extintor na cave para nos salvaguard­ar a nós e a quem nos visita”, sublinha António Loureiro. Não há tetos falsos e há apenas uma porta que abre para dentro – e que dá acesso à varanda –, mas será mudada em breve. “Queremos mudar as portas e pôr as barras de segurança. Vamos tentar licenciar o edifício”, assegura. É também necessário colocar extintores no primeiro andar, reconhece a vice-presidente.

Como não há cafés na aldeia, Luísa diz que é na associação que as pessoas convivem, uma situação comum a outras freguesias do concelho. No salão há um bar, setas, matraquilh­os, mesa de bilhar e de ténis de mesa, que ajudam a entreter quem por ali passa à hora de almoço, ao final do dia ou ao fim de semana. E é na cave que decorrem os eventos maiores. “As pessoas mais velhas têm muito orgulho nisto. Para quem nunca sai daqui, é a única maneira de ter acesso a algum entretenim­ento”, destaca a vice-presidente. E isso é coisa que não falta. “Praticamen­te todos os meses temos um evento.” Torneios juntam dezenas As paredes do salão da coletivida­de de Litrela exibem dezenas de troféus de anos e anos de torneios de sueca. São esses, segundo o presidente, os eventos que reúnem mais pessoas (entre 60 a 70), já que são organizado­s por várias associaçõe­s da mesma freguesia. Foi precisamen­te durante um torneio de sueca que decorreu o incêndio em Vila Nova da Rainha. Estavam mais de 60 pessoas no edifício: algumas a jogar, outras a assistir a um jogo de futebol na televisão.

Ontem, a Associação Nacional de Bombeiros Profission­ais considerou urgente criar medidas para evitar incêndios urbanos, defendendo a atribuição de poderes aos bombeiros para fiscalizar­em os edifícios. E considera que as vistorias feitas pela Autoridade Nacional de Proteção Civil devem passar a ser obrigatóri­as.

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Luísa Lima e o marido, Pedro Couto, fazem parte da Associação Recreativa de Litrela há três anos

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