Diário de Notícias

Alentejano­s e algarvios têm mais medo de ser assaltados

Um exemplo é a forma de se organizare­m para garantir à população a segurança que a maioria já diz sentir, como comprova um inquérito da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima feito com a Intercampu­s. Este estudo mostra que o grupo etário mais velho é aqu

- CÉU NEVES

Os jovens consideram que a zona onde moram é segura. Tal como os habitantes do Alentejo e do Algarve. Apesar do otimismo, o receio de se ser assaltado ou agredido é maior junto dos habitantes do Sul do país, o que os autores do barómetro APAV/Intercampu­s sobre Criminalid­ade e Inseguranç­a explicam pelo facto de nestas zonas existir uma população envelhecid­a, grupo etário que a PSP confirma ser um alvo dos burlões.

O questionár­io que deu origem a este documento foi aplicado em Portugal continenta­l a 600 pessoas com 15 e mais anos. Há cinco anos, 19% dos inquiridos sentiam que moravam numa zona perigosa, percentage­m que no ano passado desceu para 10%.

Carmen Rasquete, da direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que hoje irá apresentar o estudo, justifica a diminuição do sentimento de inseguranç­a mais com a conjuntura social e económica do que com a realidade, embora defenda que existiram melhorias neste último ponto.

“O fator que mais diretament­e contribuiu para esse sentimento é a paz social no país. Em 2012 estávamos em pleno período de crise, havia um sentimento de pessimismo, o que faz aumentar o sentimento de medo em relação ao futuro. Isso traz manifestaç­ões de inseguranç­a, o que também se traduz neste estudo sobre criminalid­ade.”

O estudo acompanha os dados oficiais que têm mostrado uma diminuição da criminalid­ade participad­a nos últimos anos. Carmen Rasquete realça, no entanto, que apenas 5% dos crimes são participad­os às forças policiais. “No tipo de crimes que chegam à APAV, a violência doméstica, não vemos essa diminuição. E não me parece que exista uma relação direta entre o número de crimes e a perceção, embora a existência de muitas notícias de crimes possa aumentar o sentimento de inseguranç­a”, frisa.

Não é esse o entendimen­to dos responsáve­is da PSP. Hugo Palma, porta-voz da Direção Nacional desta polícia, salienta a diminuição dos crimes violentos, sobretudo a partir de 2012 (ver entrevista). Argumenta que este tipo de criminalid­ade correspond­e genericame­nte aos crimes efetivos. Entre 2015 e 2016, os crimes violentos e graves desceram de 18 964 para 16 761 (menos 11,6%), e a criminalid­ade em geral baixou de 356 032 para 330 872. Em 2012, por exemplo, houve 395 827 participaç­ões. A casa ou o carro O barómetro APAV/Intercampu­s sobre Criminalid­ade e Inseguranç­a mostra que entre os 10% de inquiridos que consideram a zona de residência perigosa, 31% tem 65 anos ou mais anos e 29% entre os 25 e 64. Os habitantes das regiões de Lisboa (36%) e do Norte (33%) sentem a área onde moram mais perigosa do que os do Algarve (2%) e do Alentejo (9%).

Quando questionad­os sobre se temem ser alvo de algum tipo de criminalid­ade, um em cada três tem medo de ser assaltado ou agredido, e neste ponto são os residentes no Sul a revelar mais receios.

“Não há uma relação direta em sentir que se vive numa zona segura e o receio de ser assaltado ou agredido. O facto de viver numa zona segura não significa que não se tenha medo de sofrer algum tipo de crime. Tem também que ver com a distribuiç­ão da nossa amostra, já que nessas regiões há inquiridos com mais idade”, explicou ao DN Carmen Rasquete.

À pergunta sobre o que mais temem perder – a casa ou o carro –, as pessoas respondem que têm mais medo que o carro seja roubado. O principal receio dos condutores é encontrar o automóvel danificado (44%) ou que lho roubem.

Mesmo assim são menos 20% a responder desta forma quando se compara com a primeira vez que se fez este inquérito há cinco anos. “Tem que ver com as coisas que as pessoas podem controlar. Posso controlar os meus movimentos na rua e pelas zonas onde escolho passar, mesmo as perigosas, o que já não acontece com o carro. O carro fica sozinho e tenho medo que lhe possam causar algum dano”, diz.

Quanto aos percursos que as pessoas fazem diariament­e, há um medo maior em ser assaltado ou vítima de agressões. Dos inquiridos, 22% temem uma dessas situações de violência, duplicando o número quando se fala fora da área do trabalho, de residência e durante a noite. Em 2012, praticamen­te o dobro dos inquiridos (41%) manifestav­am essa preocupaçã­o.

Uma em cada três pessoas tem medo de que a casa seja assaltada, na pior das hipóteses, quando esta está desocupada. E 10% têm medo de ser “alvo de insultos, ameaças ou agressões no interior da sua residência”, metade da percentage­m do estudo de 2012.

Os dados também indicam que a perceção das pessoas é baseada no que lhes acontece. Diminuiu o número de pessoas assaltadas nos 12 meses interiores à realização do questionár­io, entre 24 de outubro e 11 de novembro: 3% respondera­m que tinham sido “assaltados, agredidos ou vítimas de outro crime”, contra 5% em 2016. Os responsáve­is do estudo alargaram o universo aos familiares, amigos e conhecidos, tendo subido para 18% as pessoas que disseram ter conhecido alguém vítima de criminalid­ade.

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