“O pânico é do que mais mata nas catástrofes”
COMPORTAMENTO Psiquiatra sugere campanhas antipânico para evitar que as pessoas tomem decisões erradas perante o perigo
Taquicardia, dificuldade em respirar, sensação de sufoco, tonturas, vontade intensa de fugir, raciocínio bloqueado. É assim que o corpo reage numa situação de perigo iminente, como aquela que aconteceu no sábado, na coletividade de Vila Nova da Rainha, em Tondela, onde morreram oito pessoas e 38 ficaram feridas a fugir às chamas. Segundo os psiquiatras contactados pelo DN, o pânico diminui a lucidez e bloqueia o raciocínio, o que impede as pessoas de pensar corretamente.
“Uma das coisas que mais matam nas situações de catástrofe é precisamente o pânico. As pessoas não têm calma suficiente para, por exemplo, sair por uma porta que abre para dentro”, diz o psiquiatra António Sampaio. De acordo com o especialista, o pânico pode ser definido como “uma ansiedade patológica”, que, “em vez de dar mais lucidez, bloqueia-nos completamente”. Com a paralisação do raciocínio, “as pessoas não pensam da forma que seria correta e que levaria à atitude certa”.
Na opinião de Joaquim Cerejeira, diretor da Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra, houve a conjugação de dois fatores na coletividade deVila Nova da Rainha.“A reação individual ao perigo, que faz que as pessoas fujam instintivamente perante um perigo, e a componente de grupo. Quando vemos que o outro vai para um certo sítio, a tendência é ir atrás”, explica. Desta forma, prossegue, não é sequer considerada outra hipótese de fuga. “O nosso cérebro gera mecanismos primitivos, automáticos. O comportamento não é racional, mas emocional”, diz o psiquiatra.
De acordo com os especialistas, há pessoas que mantêm mais facilmente a calma, mas “o pânico multiplica-se”. “É uma condição humana que passa rapidamente de umas pessoas para as outras. Mas, mesmo que não passasse, o perigo leva ao pânico comum. É das coisas mais contagiosas que há”, refere António Sampaio. Segundo o psiquiatra, é possível preparar as pessoas para este tipo de situações. “É possível evitar o ataque de pânico”, sublinha, acrescentando que poderia fazer sentido promover “campanhas antipânico”. “As pessoas erram nas decisões. Viu-se isso em Pedrógão”, lembra.