Diário de Notícias

Sob protestos no Chile, Papa pede perdão por abusos

“Não posso deixar de expressar a minha dor e vergonha”, disse Francisco, em Santiago do Chile, pedindo perdão às vítimas de abusos

- PATRÍCIA VIEGAS

O Papa iniciou a sua visita ao Chile com um pedido de desculpas pelos abusos sexuais de que foram vítimas crianças por parte de membros da Igreja Católica.

“Não posso deixar de expressar a minha dor e vergonha, vergonha que sinto por causa do mal irreparáve­l causado a crianças por membros da Igreja”, disse Francisco, no palácio de La Moneda, antes de um encontro com a presidente chilena, Michelle Bachelet. “É justo pedir perdão e fazer um esforço para que tais coisas não voltem mais a acontecer”, acrescento­u o Papa, que é natural da Argentina.

Na missa que realizou em seguida, no O’Higgins Park, havia entre os fiéis compatriot­as seus. “Sim, esperamos um dia poder ver Francisco na Argentina”, declarou Dahiana Veroitza, de 19 anos, à reportagem do Los Angeles Times em Santiago do Chile. “Temos todos muito orgulho nele. Mas também é muito tocante ver a presença dele também aqui no Chile”, afirmou a jovem que integra um grupo de turistas argentinos.

Mas a visita não se fica por arrependim­entos, desculpas, elogios. Também está a ser marcada por protestos de vários tipos. No Twitter, um grupo crítico da visita do Papa Francisco, de 81 anos, postou: “Não a mais abusos, a mais encobrimen­tos e a mais hipocrisia.” Pelo menos oito igrejas foram atacadas no decorrer da passada semana, duas foram incendiada­s na segunda-feira perto de Temuco, onde o Papa vai estar hoje.

Noutra igreja de Santiago foi feito um graffiti que diz: “Arde Papa” e “Papa cúmplice”. Não muito longe de onde ontem se realizou a missa, a polícia de choque envolveu-se em confrontos com cerca de 200 pessoas que protestava­m contra o escândalo dos abusos sexuais e o custo da visita do Papa, que é da ordem dos 17 milhões de dólares (13,8 milhões de euros), noticiou a reportagem da Reuters.

O escândalo dos abusos sexuais está a dividir a Igreja no Chile. Algumas vozes mais críticas condenaram a nomeação do bispo Juan Barros para a diocese de Osorno, no Centro-Sul do país. Barros, que esteve na missa de ontem, é acusado de proteger o seu antigo mentor, o padre Fernando Karadima, que em 2011 foi declarado culpado de abusos sexuais a rapazes adolescent­es durante muitos anos. A conclusão foi de uma investigaç­ão levada a cabo pelo Vaticano. Karadima negou qualquer culpa e Barros disse que não tinha conhecimen­to de quaisquer abusos.

Num país com 17,9 milhões de habitantes, os crentes parecem também divididos. Segundo uma sondagem do Latinobaró­metro, que foi divulgada este mês, 45% dos chilenos considerav­am em 2017 que eram católicos. Em 1995 a percentage­m era de 74%.

Esta visita de Francisco ao Chile é a primeira de um Papa em cerca de três décadas. A última foi a de João Paulo II em 1987. Ainda estava no poder o ditador Pinochet. Ontem, no seu discurso, o Papa lembrou que o país “enfrentou momentos de tumulto, por vezes muito dolorosos”. Francisco enalteceu a consolidaç­ão da democracia.

Do Chile, no fim da semana, o Papa segue para o Peru, onde um outro ex-ditador está na origem de uma forte polémica. Alberto Fujimori, presidente de 1990 a 2000, condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade, foi libertado, no Natal, por ordem do presidente Pedro Pablo Kuczynski. Por razões de saúde.

No Chile, o Papa enfrenta o escândalo dos abusos sexuais a crianças. Bispo nomeado por si terá encoberto padre abusador

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Papa Francisco durante cerimónia no Palácio de La Moneda, em Santiago do Chile

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