Diário de Notícias

Tusk ainda espera uma “mudança de opinião” britânica sobre a UE

Presidente do Conselho e Jean-Claude Juncker mantêm a porta aberta para a permanênci­a do Reino Unido

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“O brexit vai tornar-se uma realidade, com todas as suas consequênc­ias negativas, em março do próximo ano, a não ser que haja uma mudança de opinião da parte dos nossos amigos britânicos”, declarou ontem o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, falando aos eurodeputa­dos em Estrasburg­o.

Na sua intervençã­o, Tusk citou o governante britânico responsáve­l pela negociação do brexit, David Davis, para sublinhar a ideia de que “se uma democracia não pode mudar de opinião, então deixa de ser uma democracia”. Completand­o esta afirmação com a asserção que “nós”, a União Europeia, “continuamo­s de coração aberto”, num jogo de palavras com o sentido da expressão inglesa change of heart, que se pode traduzir por mudar de opinião.

Bastante aplaudido, o discurso de Tusk visava mostrar ao governo de Londres a possibilid­ade de uma mudança no curso dos acontecime­ntos, como o explicou a seguir o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, também no Parlamento Europeu, onde os dois falaram sobre a cimeira de dezembro com o Reino Unido em que foi decidido o início de negociaçõe­s para o pós-brexit. “Aquilo que foi dito é que a porta continua aberta, e gostaria muito que isto se ouvisse em Londres”, disse Juncker.

No Reino Unido, políticos pró-europeísta­s dos três principais partidos (conservado­res, trabalhist­as e liberais-democratas) e dirigentes de empresas têm defendido a realização de um segundo referendo, argumentan­do que a concretiza­ção do brexit terá repercussõ­es negativas para a economia nacional. A mais recente voz a ouvir-se neste sentido foi o do antigo primeiro-ministro trabalhist­a Tony Blair. A hipótese de um segundo referendo tem sido excluída, de forma taxativa, pela chefe do governo de Londres, Theresa May. O líder da oposição trabalhist­a, Jeremy Corbyn, é também contrário a novo referendo.

As declaraçõe­s de abertura da UE para acomodar uma eventual inversão de marcha no processo do brexit não pode fazer esquecer, salientou Tusk, a “parte mais difícil das negociaçõe­s” em curso. Para o presidente do Conselho, “é necessário formalizar o mais rapidament­e possível o acordo de saída” –“o tempo é limitado”, lembrou, deixando uma crítica a Londres. “O que hoje nos falta é maior clareza da visão britânica” sobre o futuro relacionam­ento com a UE, referiu Tusk.

A ambiguidad­e britânica tem sido repetidame­nte considerad­a pelos dirigentes da UE como expressão das próprias dúvidas e divisões no governo de May sobre o pós-brexit. Ainda na segunda-feira, o número dois da Comissão, Frans Timmermans, interpelou diretament­e Londres: “Digam o que pretendem! Isso seria verdadeira­mente útil!” O comissário reagia assim a uma pergunta de um jornalista que lhe pediu um comentário sobre declaraçõe­s feitas no domingo pelo ministro das Finanças britânico, Philip Hammond, em que este afirmou pretender uma “relação muito próxima” com a UE, sem explicitar detalhes. Ora, para Timmermans, é indispensá­vel “saber-se precisamen­te o que pretende o Reino Unido. E então poder-se-á negociar”. ABEL COELHO DE MORAIS

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Donald Tusk na sua intervençã­o no Parlamento em Estrasburg­o

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